Para quê professor?

Nei Alberto Pies *

O Outubro Educador começou intenso e interessante para um grupo de 20 professores e professoras da rede municipal de Passo Fundo. Sentados, formando uma Ciranda, discutiram "Para quê professor". Instigante, provocativo e provocante, como todo bom debate e toda Ciranda deve ser, Cleriston Petry, o cirandeiro convidado, aproveitou conhecimentos sociológicos para afirmar que o professor ideal ou o ideal de ser professor não cabe e não serve na escola que a gente tem.

A escola, segundo o sociólogo, deveria ser o tempo do não trabalho, da não produção, da não imposição de regras e vivências que remetem à organização do trabalho, que pensa a estruturação da sociedade capitalista e opressora. Disse que na escola de hoje ocorreu a "colonização da produção", contrariando o "tempo livre" dos gregos. A escola deveria ser um "tempo de suspensão", único espaço para todos os adolescentes e jovens terem acesso ao maior bem público: o conhecimento. O conhecimento não deveria ter a conotação da utilidade, porque a utilidade remete à dominação. Deveria, sim, permitir o prazer da convivência e das descobertas.

Nada tranquilo este debate. Ele se confronta com a concepção utilitarista que toda a comunidade escolar e também os professores fazem da educação. Todos vão à escola com a finalidade de aprender coisas que realmente importam. Mas o que é que mesmo importa? A vida, a liberdade, a convivência, a felicidade ou o "condicionamento" para aprender? A escola é pressionada por esta visão utilitarista de educação, nem sempre podendo desenvolver ela mesma a função para a qual foi pensada.

Cleriston Petry fez grandes provocações. Sua concepção de escola e de educação pressupõe o "tempo presente", para não ficarmos ocupados só de futuro. Pressupõe entender que escola e educação deveriam cuidar mais do pedagógico, menos do trabalho burocrático. Para Petry, professor não precisa amar sua profissão, mas deve dar importância para seus conteúdos e para a metodologia que utiliza para ver, analisar e interpretar a realidade. Os alunos deveriam perceber que a gente gosta do que faz e do que ensina (conteúdos). Assinala ainda que nós professores estamos saturados de futuro, porque não pensamos na gente e, demasiadamente, nos outros. Insistiu na ideia de que os alunos passam, mas os professores ficam (às vezes presos a estrutura da sala de aula e das dependências da escola). Restou a imagem do professor preso numa sala de aula e os alunos passeando ao redor da escola, dando-lhe adeus ou acenos pelas aberturas das janelas.

O debate mais denso cedeu lugar a reflexões sobre o verdadeiro sentido da educação. Ao constatar que professores e escolas são tratados com grande indiferença, os participantes da Ciranda reconheceram que não podemos permitir que escola e educação sejam " lugar comum". Que podemos, através da educação, fazer a diferença. Que precisamos, como professores, reconhecer a importância de nosso protagonismo na educação. Que a educação se faz na interação e na relação de sujeitos aprendentes: alunos e professores. Que não faz sentido afirmar que a escola só ensina, mas ela também educa. Que ninguém nasce professor, mas que todo professor se faz a partir de suas práticas, seus conhecimentos e suas convicções.

Saberes em Ciranda é um espaço criado para o protagonismo dos professores e professoras. Professores não são números, são sujeitos de direitos: possuem desejos, direitos e dignidade!

* Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

Fonte: Revista Missões

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