Marcus Eduardo de Oliveira *
"Não há riqueza a não ser a vida"
(John Ruskin, "Unto this last")
Se conseguirmos adaptar as atividades econômicas às leis da natureza, aprendendo, antes, a colocar cada um dos processos econômicos e sociais a serviço da vida, talvez o progresso econômico e o bem-estar material, hoje medidos pelo nível de consumo, deixem de ser inimigos da preservação ambiental.
É esse o real sentido e o alcance desejado na tentativa de se obter sustentabilidade. Sem a preservação/conservação do meio ambiente, não há qualidade de vida, não há vidas com qualidade.
É de fundamental importância não perder de vista que o meio ambiente começa no meio da gente, a partir do imprescindível respeito e reverência que temos que devotar à Mãe Terra, em seus 40 mil quilômetros de diâmetro, 6.400 km de raio, bem como aos ecossistemas, aos animais, aos insetos, a tudo que vive, afinal, somos (tanto os humanos como os animais, os vermes e as bactérias) formados pelo mesmo alfabeto básico: todos possuímos 20 aminoácidos e 04 ácidos nucleicos.
Somos provenientes de um longo processo biológico; somos dependentes dos elementos da natureza, dos serviços ecossistêmicos, pois sem eles a vida não prospera.
A esse respeito, Leonardo Boff assim assevera: "Todos dependemos das estrelas, pois são elas que convertem o hidrogênio em hélio, e, da combinação deles, provém o oxigênio, o carbono, o nitrogênio, o fósforo e o potássio, sem os quais não haveria os aminoácidos nem as proteínas indispensáveis à vida".
É oportuno reiterar que o meio ambiente começa no meio da gente. Estamos na biosfera (vida) que comporta outras regiões que possibilitam a vida; até alguns centímetros de espessura é possível ter vida dentro da litosfera (pedras), até 8.000 metros de profundidade é possível ter vida dentro da hidrosfera (água), e até 4.000 m de altura é possível ter vida dentro da atmosfera (ar).
São milhões de espécies de vida diferentes em variados climas que precisam de água, oxigênio e energia sob a forma de proteínas, lipídios e glicídios para produzirem e reproduzirem o sistema da vida.
Parte daí a necessidade de termos reverência para com a natureza, destruindo assim a ideia de que o homem tem necessariamente de subjugar a natureza; ideia essa que ganhou proeminência a partir do ensinamento de Descartes que entendia que a nossa intervenção na natureza é para fazer-nos "maître et possesseur de la nature".
* Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo.
prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: Revista Missões