Ser testemunha de Cristo hoje é ir contra a corrente

Luiz Antonio de Brito *

O nosso ponto de partida para esta reflexão é a eleição do Cardeal Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) como lider da Igreja Católica de todo o mundo e como sua atuação é vista na Igreja no contexto jovem Africano.

A renúncia do Papa Bento XVI gerou uma espécie de inquietude e confusão na mente das pessoas em vários contextos. Lembro que estava trabalhando no jardim de nosso Seminário quando alguém veio e disse que o Papa havia renunciado; ninguém acreditava, mas em um ato de incredibilidade e surpresa cada um pegou no seu celular para escutar as noticias na rádio. No âmbito pastoral, os vários grupos queriam saber de tudo o mais rápido possível; era uma corrida frenética para ter certeza de que não estávamos perdidos e que a renúncia de um Papa era algo previsto nas Leis Eclesiais. No ambiente académico não foi diferente: as aulas de direito canônico voltaram-se naturalmente para assunto da renúncia papal.

No dia 13 de março a situação de incerteza foi parcialmente solucionada. Depois do anúncio "Habemus Papam" todos queriam saber um pouco mais sobre quem era Bergoglio e que direção o novo Papa daria à Igreja. Não tardou muito para começarmos a ver e escutar um novo modelo de liderança: as homilias já não tinham conteúdo "pesado" para os católicos comuns; a linguagem era fácil, prática, vinha do coração do papa e tocava no coração do povo.

Os retiros mensais, os grupos de catequese, as escolas e as conversas fora da igreja logo após a Missa tinham um só conteúdo: a forma como o Papa é simples e prático. Porém o momento em que o povo pôde acompahar o Papa por mais tempo foi durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Apesar da diferença de horário (6 horas), todo esforço para acompanhá-lo era reconpensado pelas palavras sábias e gestos simples mas muito significativos.

O convite mais significativo foi aquele de ir contra a corrente; ser católico hoje é "nadar contra a corrente"; ir contra esse sistema de experiência rápida e sem compromisso. O Papa nos deu um exemplo quando decidiu morar fora do palácio papal, quando foi lavar os pés dos presidiários em Roma, quando entrou nas casas de famílias simples no Rio de Janeiro, quando tomou chimarrão nas ruas durante a JMJ e quando lembrou que a Igreja precisa de nós jovens, de nossa força, nossa criatividade e de nossa alegria.

Em um contexto como o do Quênia, onde, além dos cristãos, muçulmanos e indus, há uma crescente proliferação de confissões evangélicas, os jovens católicos começam a pensar "fora da casinha", isto é, a pensar além das fronteiras dos jovens que atendem os nossos encontros e buscar maneiras de como chegar aos milhares que já não se importam com "coisas de Igreja".

Nos últimos dois meses duas iniciativas me chamaram atenção: primeira, uma conversação muito franca de um grupo de jovens sobre como ser jovem feliz e ao mesmo responsável em um mundo que nos diz que devemos buscar sexo fácil e drogas para ser feliz; a segunda foi o lançamento de um grupo de jovens ligado aos Missionários da Consolata (Allamano Youth Missionaries - Allamano Jovens Missionários) que busca ser propagador de uma alternativa de vida para os jovens, centrado no carisma do Beato José Allamano.
Todo esse processo de "renovação" ao qual somos chamados a "pensar e atuar fora do óbvio" não é somente próprio do Papa Francisco; ele está seguramente inspirado naquele que envia cada um de nós a pregar a Boa Nova: Jesus Cristo. Ele mesmo é um sinal de contradição (Lc 2:34), nos desafia a avançar para águas mais profundas (Lc 5:4) e nos garantiu que estaria conosco todos os dias até o fim do mundo (Mt 28:20). Trabalhemos juntos para que possamos acolher os conselhos de Paulo aos Colossenses: "Já que vocês aceitaram Jesus Cristo como Senhor, vivam como cristãos: enraizados nele [...] transbordando em ações de graças (Col 2:6-7).

* Luiz Antonio de Brito, imc, é seminarista brasileiro no Quênia.

Fonte: Luiz Antonio de Brito / Revista Missões

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