Os estragos físicos e sociais de uma guerra que não tem preço

Joaquim Ferreira Gonçalves

Quando o ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush, decidiu compulsivamente invadir o Iraque, apoiado clandestinamente ou abertamente por outros países, parecia que as motivações apresentadas fossem verdadeiras, embora alguns países já advertissem para resultados nefastos. Os Estados Unidos tinham pressa em resolver sua crise interna à custa das vidas de outras nações. Nessa época os países que compõem a União Européia se dividiram, uns alinharam com os Estados Unidos e outros lavaram simplesmente as mãos. A eterna aliança entre o Reino Unido e as Estados Unidos se confirmou mais uma vez.

A razão que justificava a invasão eram as armas químicas. Bush se posicionou como o anjo da guarda da humanidade contra todo o tipo de terrorismo. A partir do momento que ficou comprovado que não havia de fato armas químicas, os responsáveis pela invasão deveriam ser levados ao tribunal internacional para responder perante a humanidade pelo crime de pura invasão com a finalidade implícita de controlar grandes fontes de energia, importantes para controlar os preços de mercado e dar estabilidade e supremacia mundial aos USA.

Um cenário parecido se repete agora com a situação da guerra na Síria. Os Estados Unidos têm todo o interesse em derrubar o atual regime da Síria, liderado por Bashar al Assad, aliado do Irã, visto como fabricante de armas nucleares, que pode trazer perigo para Israel de quem os Estados Unidos são verdadeiros padrinhos. Quantas vezes os Estados Unidos exortaram Israel para não fazer ocupações e construções em territórios palestinos e nada exigiram na prática! Os Palestinos estão cada vez mais encurralados, morrendo de asfixia, silenciados, um povo riscado da história. Eles não podem levantar a voz porque os simples gritos são considerados como bombas.

Os Estados Unidos fingem tentar fazer a mediação entre rebeldes sírios e governo de Damasco, mas é pura ficção. Eles querem uma coisa só: que B. al Assad caia e seja instalado um governo pró americano que não traga nenhuma preocupação para Israel.
A partir do momento em que o ministro dos negócios estrangeiros dos USA tomou a iniciativa de propor uma conferência internacional para o diálogo, a Rússia forneceu armas ao governo sírio para lhe dar maior alento, mais voz e autoridade , nesse possível diálogo que provavelmente acabará em nada, como tantos outros semelhantes. Além desse apoio, o governo de Damasco se sentiu fortalecido com a ajuda do Hezbollah, outro grupo considerado perigoso por Israel.

Se ninguém quiser renunciar a nada, a Síria se tornará um monte de escombros como aconteceu com algumas cidades alemãs na última guerra. Em cidades de 50 mil habitantes não sobrou uma habitação. Qusair, cidade fronteiriça, parece repetir esse cenário. Antes de mergulhar nas batalhas que devastam o país há 18 meses, era uma cidade próspera, tranqüila, com 30 mil habitantes e cercada de terras cultivadas, de bosques, de oliveiras e damascos. Agora, de acordo com as informações de ONGs e jornalistas, apenas 500 pessoas ainda vivem no meio dos escombros da cidade. Ainda se vê algum trânsito nas ruas, quase todo de soldados conduzindo tanques ou caminhões, motos ou bicicletas.

O mais preocupante não é a devastação física e aterradora da cidade, mas a destruição da estrutura social que nela tinha sido constituída: hospitais funcionando, escolas com rápida alfabetização, com áreas de lazer, hotéis para turismo, igrejas e mesquitas onde nunca houve conflitos. Os moradores se dispersaram, as famílias se dividiram por acampamentos e países diferentes.

A igreja de Santo Elias que era lugar simbólico de união, de fraternidade de sírios de muitas religiões, não foi apenas depredada, mas também profanada pelos combates e depredadores. O piso de mármore está forrado pelo lixo e vidros quebrados. Ícones foram quebradas, livros de orações queimados e o altar destruído. Os rebeldes tinham ocupado Qusair sem grandes estragos, agora a reocupação por parte do governo só foi possível por meio de generalizada destruição.

As linhas de combate, em Qusair e em grande parte da Síria, são cada vez mais políticas e sectárias, sobretudo a partir do momento em que membros do Hezbollah, vindos do Líbano, se juntaram às forças do governo sírio. Ainda não se sabe quantos foram os mortos na cidade, que já morreu.

Fonte: revista missões

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