Pentecostes: o defensor no meio de nós

Ronaldo Lobo *

Pelo que os Evangelhos apontam, a evangelização fica estreitamente ligada à pessoa do Espírito Santo.

Acomunidade celebra a festa de Pentecostes em homenagem à terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo. O nome está relacionado, de um lado, com a celebração da festa judaica e, do outro, com a obra do evangelista Lucas, que dá um destaque especial à presença do Espírito nos seus escritos, seja no mistério da Encarnação, seja na partida para a Evangelização.

Na obra de Lucas
O Evangelho escrito por Lucas é apontado como o do Espírito, porque Ele está presente no nascimento de Jesus, no seu batismo, no seu trabalho de proclamar a boa notícia e na divulgação da mesma, depois da Ressurreição. Ou seja, a evangelização e o crescimento das igrejas é obra dEle. O evangelista Lucas descreve Pentecostes como o dia em que o Espírito Santo desceu sobre os membros da comunidade jerusalemitana. Mais ainda, com o fenômeno das línguas de fogo e a pregação de Pedro, inicia-se a proclamação da boa nova em muitas línguas (At 2, 1-13). O fenômeno, recordado e escrito pela comunidade lucana nos anos 80 d.C. aponta para a existência das muitas igrejas.

Embora o texto de Atos não faça nenhuma alusão ao Sinai, algo dele está nas entrelinhas. Como se iniciou no Monte Sinai uma nova comunidade dos judeus, a partir da aliança, assim também se inicia uma nova comunidade na hora da descida do Espírito Santo em Jerusalém. Ou seja, nasce a comunidade cristã.

Pentecostes para os judeus
Pentecostes é uma festa relacionada com a agricultura, chamada festa das semanas (Nm 28, 26-31); a festa do início da colheita do trigo (Ex 23, 14-17). O povo celebrava essa festa sete semanas depois da festa da Páscoa, o que corresponde a 50 dias (Dt 16, 9-12). Sendo uma festa agrícola, podemos supor que é tardia, porque, pelo que se pode ler nos escritos, começa depois que os israelitas se tornaram uma comunidade sedentária nas terras de Canaã. O judaísmo tardio associou essa festa com a outorga da lei a Moisés e a aliança do Sinai, que era uma festa de peregrinação. Sendo assim, nesta ocasião muitos peregrinos judeus piedosos se reuniam em Jerusalém.

Na história do Povo de Deus
O Espírito já estava presente na obra da criação, como diz a Sagrada Escritura, "uma brisa impetuosa pairava sob as águas", dando-lhe forma e organizando-a. O caos tornava-se o cosmos. A história de Israel repetidamente chama a nossa atenção para a presença Dele nos acontecimentos, nas personalidades, sejam eles juízes, profetas ou reis, mas sempre visando o bem da comunidade, da nação e do povo de Israel. Embora Ele gostasse de transformar tudo a partir de dentro, pelo coração, dando-lhe uma nova face, um novo Espírito, é precária a colaboração por parte da humanidade.

Na vida de Jesus
Na vida de Jesus e em outros acontecimentos relacionados a Ele, o Espírito está presente: no seu nascimento, no batismo, na ida ao deserto, e no seu plano de proclamar o Reino de Deus (cf Lc 4, 14-21). Está presente no seu jeito de ser misericordioso e compadecido, com os pobres e necessitados. Está presente na sua habilidade de ensinar e formar os discípulos. Mais ainda, no seu ensinar, e nos seus vocábulos. Promete aos seus discípulos que enviará o mesmo Espírito depois da ressurreição.

Nos outros evangelistas
Os outros três evangelistas, Marcos, Mateus e João têm uma percepção bem diferente da festa de Pentecostes. Para João a vinda do Espírito Santo acontece no mesmo dia da ressurreição (Jo 20, 22). Na sua primeira aparição aos discípulos, Jesus sopra sobre eles, e diz, recebei o Espírito Santo. Enquanto o evangelista Marcos não diz nada sobre a vinda do Espírito (Mc 16, 6-7), em Mateus Jesus ordena que os discípulos se desloquem para a Galileia para enviá-los a batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e diante deles ascende ao céu (Mt 28, 19). Por isso, a evangelização está estreitamente ligada à pessoa do Espírito Santo.

Na Igreja
A Igreja recebe do Espírito Santo muitos dons e frutos. A tradição fala dos sete dons do Espírito na comunidade e para a comunidade. Paulo aponta muito mais dons presentes nas pessoas e na variedade de serviços, dentro e fora da comunidade. Mais ainda, o Espírito produz seus frutos em cada um dos fiéis, para o crescimento da comunidade e para testemunhar a presença permanente de Deus que faz com que todos cresçam na santidade.

Compromisso da Igreja
É o Espírito Santo quem transforma completamente a comunidade e seus membros, dando-lhes ânimo para superar dificuldades, pacificando conflitos, contagiando com o espírito de alegria e gratuidade. Embora seja essa a verdade, os fieis ainda têm dificuldade no relacionamento com esta terceira pessoa da Trindade, porque ela parece ser um pouco abstrata. Ele deve ser compreendido através dos símbolos da água, do vento, do fogo, do óleo e da pomba, o que nem sempre é fácil. Vale a pena lembrar que a Igreja recebeu tudo do Espírito Santo e que seus membros não correspondem todos da mesma maneira. Ele pode ser negligenciado, passar despercebido e esquecido pelos fiéis. Enfim, as autoridades da Igreja carregam um pouco de culpa, já que falharam na pregação sobre o Espírito Santo. A Igreja tem poucas encíclicas com este tema, apenas duas ou três em toda sua história! A última, "Senhor e Vivificador" foi escrita pelo papa João Paulo II.

Na Vida Consagrada
Em contrapartida, alguns fundadores de congregações religiosas deram um lugar importante para a pessoa do Espírito Santo. Valorizaram os carismas, firmaram o pé, iniciaram trabalhos que somente o Espírito pode conduzir. Há devoções esporádicas, trabalhos particulares espalhados no meio do povo, mas ainda é pouco. Necessita-se de um trabalho amplo, começando pela autoridade da Igreja, para que o Espírito Santo seja adorado e glorificado permanentemente.

Jesus falava que antes enviaria o Espírito que seria outro advogado para defender os discípulos nas perseguições. Embora falasse da nova evangelização, a missão é conduzida por Ele, a vida e a liberdade são protegidas por Ele. Não há dúvida nenhuma de que o Espírito que animou Jesus, que conduziu a Igreja, continua conosco como uma eterna presença que nos guia. Neste Ano da Fé, a fé que Jesus tinha na pessoa do Pai e do Espírito seja também a nossa, e todo o nosso esforço pela evangelização seja guiado por Ele.

* Ronaldo Lobo, svd, é mestre em Bíblia. Atualmente, formador no Seminário Verbo Divino em Toledo, PR. Publicado na revista Missões, n. 04 - Maio 2013.

Fonte: Ronaldo Lobo / Revista Missões

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