Stephen Ngari *
A cidade de Manaus, construída nas margens do Reio Negro, foi crescendo sem respeitar os espaços dos igarapés. A subida das águas do rio Negro preocupa os moradores ribeirinhos, os da cidade e os do interior. Para os do interior, a preocupação é menor porque eles já se programam para viver os dois momentos do rio, o da cheia e o da seca. Eles têm uma casa na várzea e a outra na terra firme. Entretanto, a mudança incomoda por causa da precariedade do transporte dos eletrodomésticos e dos animais.
A preocupação maior está nas cidades. Nas beiradas do rio e dos igarapés se encontra "o resultado" do capitalismo que não considera os mais pobres, rodeados de miséria, pobreza, poluição e exclusão total. Com a subida da água às suas casas, as famílias não têm para onde fugir. Caminhando na comunidade Nossa Senhora Auxiliadora no Bairro de Educandos, situada num barranco na beirada do igarapé do Quarenta, as "mazelas" do capitalismo estão à vista.
O povo ainda vive nas palafitas sem estrutura mínima de saneamento básico e esgoto. Com a água sobe também o risco de morar no lugar que já é uma área de risco. O lixo jogado no rio invade as casas. O mau cheiro de esgoto polui tudo. Cada dia aumenta o risco de contaminação. As casas aglutinadas umas nas outras deixam pouco espaço para o acesso. A existência de poucas ruas estreitas e esburacadas aumenta o perigo de acidente, principalmente da criançada que só tem a rua como o único espaço livre para brincar. A prefeitura não se preocupa com nada disso.
O pior de tudo é que não existem políticas públicas para resolver a situação. Os projetos do Programa socioambiental dos igarapés de Manaus que recuperaram as áreas vizinhas não contemplam a comunidade. Ela só serve como produto de marketing político. Nas últimas campanhas eleitorais, do governador e dos vereadores, todos passaram por aí e prometeram intervir o mais rápido possível. Até hoje nem sequer se ouve alguma voz do poder público a respeito da comunidade. A comunidade fica esquecida e escondida atrás de casas de classe media baixa e alta.
Quando água invade as casas, a única intervenção do poder público é a remoção das pessoas e colocá-las nas escolas e nas quadras. Outras ganham auxilio de aluguel. Mas com vazamento, todo mundo volta para sua casa. A preocupação maior dos moradores é a deslocação dos pertences sobretudo dos eletrodomésticos. Preferem que o rio não suba em vez de buscar uma solução definitiva da moradia com a intervenção do poder público. A acomodação se torna um vício que que contamina os administradores do bem público.
A evangelização em muitas dessas comunidades ainda é um pouco carente. Por enquanto se celebra missa uma vez por mês. Durante o Natal sem Fome e outros momentos de emergências se distribuem as cestas básicas e outros pequenos auxílios. A paróquia, situada nas margens do igarapé de Educandos, no entanto, está preparando um projeto de evangelização contundente e permanente que prevê a formação de agentes pastorais que cuidarão de todos os aspectos da evangelização, sem se limitar à espiritualidade e ao assistencialismo.
* Pe Stephen Ngari, Missionário da Consolata.
Fonte: Revista Missões