Geovane Saraiva *
O livro dos Provérbios mostra para humanidade a sabedoria bem próxima de Deus, mesmo antes da criação, lá estava ela, agindo no mundo. Chegando mesmo a afirmar que ela é a primeira obra da criação, tomando parte em todas as coisas, criadas por Deus, como se fosse o arquiteto ou mestre de obras. Portando, Deus e a sabedoria, segundo o autor sagrado, confundem-se e estão intimamente unidos, numa profunda e perfeita comunhão (cf. Pr 8, 22-31).
No nosso mundo de hoje, totalmente digitalizado, em que tudo se torna próximo e em tempo real, são muitas as conquistas da ciência e muitos os avanços da técnica, que nos faz lembrar a sábia expressão do Papa Paulo VI: "Os tempos de hoje parecem mais orientados para a conquista da terra do que para o Reino de Deus". Em muitas circunstâncias, parece que Deus é preterido ou como se não existisse, numa total indiferença para muitos.
A ciência tem sua grande importância e é necessária e até imprescindível, mas não é absoluta. Portanto, urge constantemente implorar a graça e a presença de Deus para que não sejamos orientados e, mesmo seduzidos, pelos avanços da técnica e da ciência, no sentido de priorizá-la como algo absoluto. A missão da Igreja é clara, no sentido de voltar-se para o homem nos dias de hoje, com um diálogo aberto, franco e construtivo, oferecendo ao mundo todos os meios, a partir da Palavra de Deus, grande ferramenta e sua maior riqueza.
Deus é um mistério de amor e diálogo permanente. Em Jesus Cristo, Deus Pai, realizou o sonho da pessoa humana, dando-lhe resposta e sentido à vida, convidando-a a fazer a mesma experiência que ele realizou, numa atitude confiante de entrega, ao experimentar a intimidade divina, perceber e sentir a graça da salvação.
Todos nós, fiéis e seguidores do Divino Mestre, precisamos mais do que nunca viver a nossa fé, de um modo tal, que o nosso coração arda de amor, através da missão recebida no batismo, com a consciência de que somos a Igreja de Deus e que nela procuramos viver a grande aventura de descobrir em profundidade o sentido da vida, como uma proposta exigente e desafiadora.
Precisamos de muita sabedoria, que não é esperteza, vivacidade e muito menos acúmulo de conhecimento e rigor científico, mas, sobretudo, a mística que animou e continua a animar homens e mulheres de boa vontade, eles que são reflexos da luz eterna e espelho sem mancha da atividade de Deus e imagem da sua bondade (cf. Sb 7,26-29).
Busquemos a sabedoria que é o próprio Deus, que no Filho de Deus se revela e se manifesta totalmente encarnada, caminhando conosco e querendo a nossa realização, já neste mundo. Que a nossa consciência cresça sempre mais, no sentido perceber que sabedoria é a primeira a de todas as obras da criação, orientando-nos em tudo, da menor a maior atividade, na certeza de que tudo tem sua origem em Deus e cada ato e gesto é manifestação de sua sabedoria eterna e soberana.
Guardemos as palavras reveladoras de São João sobre a cidade Santa, a Jerusalém celeste, quando nos afirma que o próprio templo é o Senhor. É uma cidade tão iluminada e tão repleta de refletores, oriunda da glória de Deus, na sua lâmpada e no seu refletor supremo, o Cordeiro de Deus (cf. Ap 21, 22-23).
* Geovane Saraiva é padre da arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso.
Fonte: Geovane Saraiva / Revista Missões