Maria das Graças Cordeiro de Medeiros *
A história da mulher no mundo atual renova sua página mais humana e mais significativa a todo 8 de março de cada ano. A ideia da criação deste dia dedicado à mulher surgiu no final do século XIX, início do século XX, tanto no velho como no novo mundo.
Em 1975, a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou aquele ano como o Ano Internacional da Mulher. Posteriormente em 1977, reconheceu oficialmente o dia 8 de março como O Dia Internacional da Mulher. A instituição da data faz memória ao massacre das operárias de uma fábrica de tecidos norte-americana em 1857, que pagaram com a vida pela rebelião contra um sistema desumano de trabalho.
O Brasil, uma nação historicamente patriarcal, onde o homem era detentor da supremacia das relações sociais, e a figura do pai era soberana, sintetizava essa realidade em artigo do Código Civil de 1916, que "concebia a mulher como dependente e subordinada ao homem".
No governo do presidente Getúlio Vargas, com a reforma da Constituição de 1932, as mulheres brasileiras ganharam os mesmos direitos trabalhistas do homem, conquistando também direito ao voto e a cargos políticos no Executivo e no Legislativo. O voto abriu portas a outras conquistas sociopolíticas da mulher. A Constituição de 1988 estendeu, facultativamente, o direito de voto às mulheres analfabetas.
Em relação à atuação da mulher no cenário político, afirma a deputada federal Luiza Erundina (PSB/SP), que "o suposto desinteresse feminino serve como pretexto e é resultado de uma cultura machista". A presença feminina nas casas legislativas, do país, ainda é minoria. Mas nas tribunas ou fora delas, a mulher luta pelas causas sociais em que acredita.
A mão que balança o berço...
A mão que balança o berço, depois de se doar até doer, sentiu a ternura de sua força materna exaurir-se na realidade de um novo tempo, que exigia dela uma nova mulher. E essa futura nova mulher, ainda confinada na dependência física, econômica, intelectual, psicológica e social do machismo, secularmente dominador, sentiu ser chegada a hora de quebrar os grilhões da subserviência.
Se a mão do berço continua a embalá-lo, a outra segura a lança de uma guerra em todos os campos de batalha da sobrevivência com dignidade. E como em todas as guerras, nas quais se perdem e se ganham batalhas, a mulher tem combatido o bom combate e conquistado mais vitórias que derrotas. Há bem pouco, quem imaginaria uma mulher operária da construção civil, não de salto alto, mas calçando botas de cimento, areia e concreto? Quem imaginaria uma mulher delegada de polícia, chefiando um batalhão de homens subordinados?
Quem imaginaria uma mulher de braços firmes ao volante de imensas carretas nas estradas ou na direção de ônibus de passageiros nas ruas das cidades? Ora, quem imaginaria uma mulher presidenta da República, dirigindo os destinos de um país e de um povo esperançosos? E o mais curioso, agora, o Congresso americano aprovou a inclusão de mulheres militares dos Estados Unidos na linha de frente dos campos de batalha. Essa insólita deferência à feminilidade em nada assustará mulheres valentes, já acostumadas à guerra em tempos de paz.
Tudo foram conquistas pacientes, sofridas e perseverantes. A partir dos anos 70, emergiram no Brasil, organizações que passaram a incluir nas pautas das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher.
Em 1982, o feminismo passou a manter diálogo com o Estado, conseguindo a criação, em São Paulo, do Conselho Estadual da Condição Feminina. Ainda em São Paulo nascia em 1985 a primeira Delegacia Especializada da Mulher, conquista que se espalhou por centenas de cidades em todas as regiões do país.
Em síntese, este foi um passado de lutas e é um presente de vitórias que descortinam um futuro auspicioso, cor-de-rosa, mas com um terrível obstáculo a ser transposto. O homem parece prevalecer-se de velhos conceitos e de antigos hábitos de pretensa superioridade, para assumir a violência truculenta que espanca, machuca e mata. Um dos exemplos mais chocantes foi o do recente estupro coletivo na Índia. A jovem faleceu e as mulheres lideraram protestos em todo o país, clamando pela punição dos agressores.
Se o poder machista por força das circunstâncias já se associa, resignadamente, a ascensão social e econômica da mulher, não tolera a liberdade feminina que confere a elas o direito, líquido e certo, de ir e vir. É como se a maioria dos parceiros dissesse de punho cerrado, pronto para golpear: "vai quando eu deixar e volta quando eu mandar".
Infelizmente, essa realidade ainda permeia as relações afetivas. A mulher que, fora de casa, desatou os nós do trabalho escravo, por dentro continua atada à uma confusa prisão de afetos e desafetos. Mas, para essa trágica verdade poética da "mão que afaga é a mesma que apedreja" a mulher já conquistou avanços como o da Lei Maria da Penha, que faz justiça à dignidade feminina, quando maculada pela violência do homem.
O futuro
De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, no Censo 2010, publicado recentemente, a população está mais feminina. O Brasil com mais de 190 milhões de habitante, são mais de 97 milhões de mulheres em comparação com os 93 milhões de homens. Um dos motivos para isto seria a grande mortalidade masculina em decorrência da violência urbana.
O Censo mostra, ainda, dois dados de equiparação entre os sexos. Em primeiro lugar, no aspecto econômico, houve aumento real na renda das mulheres de 13,5% comparado a 4,1% da população masculina. Em segundo lugar, a taxa de fecundidade caiu de 2,38 filhos por mulher para 1,9. Mais luta por igualdade, menos maternidade. Outro dado do Censo revela que 38,7% dos domicílios brasileiros estão sob responsabilidade feminina.
É verdade que ainda existem pedras no caminho, como diria o poeta Carlos Drummond, mas obstáculos que hão de ser removidos com a postura renovadamente determinada da mulher. "Se o mundo" - como diz o poeta português Fernando Pessoa - "é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo", as mulheres despertaram desse pesadelo e acordaram para a cidadania. É como se antes, adormecidas, anestesiadas pela inércia, elas tivessem aberto os olhos para uma nova realidade dos novos tempos que advirão.
*Maria das Graças Cordeiro de Medeiros é pedagoga aposentada, atuante na Pastoral do Batismo e no Movimento da Terceira Idade da Paróquia Maria Mãe de Deus, da arquidiocese da Paraíba.
Fonte: Maria das Granças Cordeiro de Medeiros / Revista Missões