Hildete Emanuele *
A Igreja Católica, neste ano de 2013, convoca todas as suas comunidades e a sociedade brasileira a refletir sobre a temática da juventude. É preciso tempo e disposição para escutar os gritos da juventude que brotam dos diversos cantos desse país.
Juventude não é tudo a mesma coisa. A partir dessa afirmação, podemos localizar esses clamores que surgem de uma população que, hoje, soma mais de cinquenta milhões de pessoas no Brasil, se considerarmos a faixa etária dos 15 aos 29 anos.
O conceito de juventude não está localizado apenas na área biológica, mas sim perpassando diversas áreas: psicológica, antropológica, teológica, sociológica e jurídica. Se olharmos, por exemplo, para a questão cultural, veremos que existem inúmeros ritos de passagens, jeitos diferentes de "oficializar" o ingresso na condição juvenil, num breve exercício de roda de conversa num grupo de amigos/as, nós escutaremos histórias diferenciadas da percepção do ser jovem, ou melhor, do ter se tornado jovem.
São várias as possibilidades de localizações, mas vamos priorizar algumas para esse momento: gênero, questão étnico-racial, orientação sexual, moradia, escolaridade, trabalho, classe social, religião, acessibilidade. Quais são os gritos que podemos escutar olhando para esses lugares? Quais são os gritos das jovens mulheres, dos jovens homens, da juventude negra, indígena, branca, LGBT, heterossexual, periférica, camponesa, ribeirinha, praieira, sulista, nortista, nordestina, do centro-oeste, secundarista, não alfabetizada, do ensino médio, universitária, escravizada, trabalhadora, desempregada, que vive em situação de rua, de classe média, rica, cristã, mulçumana, islâmica, espírita, candomblecista, com deficiência?
Independentemente de localização, lugar ou recorte, tem um grito que é marca de toda e qualquer geração jovem, é o grito por LIBERDADE. Qual é o/a jovem que não deseja ser livre? A cada dia que passa as instituições não estão dando conta de efetivar os mecanismos autoritários e tradicionais que geram medos e ceifam a liberdade da juventude.
A autoridade estabelecida dificilmente é respeitada, só tem autoridade quem a conquista. E tem sido uma relação cada vez mais complexa entre jovens e adultos, seja na família, na escola, na igreja e na sociedade. Há uma confusão de papéis muito grande e uma questão é crucial nessa história "todos querem ser jovens".
Muitos gritos da juventude encontram eco em toda a sociedade, afinal de contas, a juventude é um reflexo da sociedade. Por essa razão, escutar esses clamores é de maneira significativa fazer ressoar as grandes demandas da população brasileira.
A juventude é associada a imagens bem diversas que, muitas vezes, são até antagônicas, imagens que representam energia, criatividade, perigo, vitalidade, força, problema, transformação, ousadia, rebeldia, sonho, desejos, escolhas, experimentações, descobertas, decisões, projetos, formação, potencialidade, protagonismo, irresponsabilidade, autonomia, participação, comodismo, modismo, alienação. Com esse jogo de palavras é possível perceber que as percepções de juventudes são bem variadas, dependem muito do lugar, da sensibilidade, da aproximação, da escuta e da relação dialógica estabelecida com os/as jovens.
No Brasil, de 2005 para cá, houve um avanço enorme na reflexão sobre a temática da juventude, são muitos os estudos nessa área e dentre os/as pesquisadores/as destacam-se: Hilário Dick, Carmem Lúcia Teixeira, Helena Abramo, Regina Novaes, Elisa Guaraná, Miriam Abramovay, Paulo Carrano e José Machado Pais. Para além dos estudos, consideramos como grande passo nessa travessia a implantação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude, espaços legítimos para o debate de ideias e proposições de políticas públicas de juventude em nosso país.
Sabemos o valor dos espaços institucionais, mas não podemos esquecer que é no lugar da cultura onde crescem e se fortalecem as diversas inciativas juvenis, os/as jovens utilizam de mecanismos culturais para mostrar suas produções, lutar por direitos, formar grupos e estabelecer comunicações que ultrapassam as fronteiras de qualquer espécie, aliás, a comunicação é uma grande marca da juventude contemporânea, cresce entre os/as jovens o desejo de estar conectado/a e fazer parte das diversas redes que unem pessoas do mundo inteiro.
Ao final desta conversa fica um grande apelo: como escutar os gritos dos/as jovens que não estão nas famílias, nas comunidades, nas escolas, jovens que estão nas periferias do mundo? Jovens que as suas vozes por mais altas que sejam não chegam aos ouvidos de ninguém. Talvez esses gritos nunca sejam escutados por essa sociedade, muitas vezes, apressada, consumista, preconceituosa, barulhenta, moralista e individualista. Seria muito bom se nós derrubássemos os muros que nos distanciam tanto e criássemos pontes que unam as nossas mentes e os nossos corações.
Hildete Emanuele é licenciada em Letras Vernáculas, Especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo, Analista Pastoral da Província Marista Brasil Centro-Norte.
Fonte: Província Marista Brasil Centro-Norte