Nossa hora de contratar

Humberto Dantas *

Pense na urna eletrônica como uma central informatizada de recursos humanos. Por meio daquele terminal escolhemos nossos representantes. Devemos assumir, nesse caso, o papel de técnico capaz de promover a melhor escolha. O principal desafio é compreender o papel de quem estamos analisando e o que eles devem fazer em termos de políticas públicas. O parlamento municipal legisla e fiscaliza a prefeitura. O prefeito executa políticas em áre-as específicas, tais como: saúde (sobretudo, atenção básica), educação (principalmente infantil e fundamental), transporte público (municipal), organização do território (trânsito, asfaltamento, placas, ocupação urbana), saneamento, coleta e tratamento de lixo, preservação do patrimônio histórico e cultural etc.

Diante de tais aspectos, coloque-se no lugar do candidato, pense na quantidade de vezes que você teve que passar por um processo de contratação. O que lhe perguntaram? O que exigiram de você? Muito, certamente. Por que você fará diferente com quem tem a obrigação de trabalhar por seus direitos?

Consciência política
Daqui a alguns dias escolheremos os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores das 5.565 cidades brasileiras. São mais de 420 mil candidatos para 70 mil vagas em disputa. Você deverá apontar um vereador e um prefeito: leve isso muito a sério e exija seriedade daquele em quem vota, pois o resultado impacta a sua vida. No caso dos vereadores, sua escolha pode ser nominal ou na legenda. Vereadores são eleitos sob o formato proporcional.

Assim, a imensa maioria dos votos em candidatos e partidos são válidos, ou seja, entrarão em cálculos complexos que resultarão na lista dos escolhidos. Fique atento a esse complexo jogo e saiba que seu voto não estará perdido se o seu escolhido não for eleito. No caso da eleição para prefeito, sob o formato majoritário, lembre-se de considerar o vice em seus cálculos. Além disso, atenção às coligações (aliança de partidos) celebradas pelos seus escolhidos, elas podem dizer muito sobre os grupos que desejam chegar ao poder.

Diante da urna eletrônica, tenha consigo um papel com os números de seus candidatos e guarde-o com cuidado.

Quando terminar de votar, ignore a palavra FIM que aparecerá na tela da urna. Ninguém que é contratado está associado ao término, mas sim ao início de uma relação. A partir de 2013 os eleitos passam a representar nossos interesses, e principalmente nossos direitos no poder público municipal. As promessas devem ser lembradas e cobradas. Perceba que hoje sua cidade deve estar em obras, e a prefeitura deve estar se esforçando para mostrar serviço. Mas, foi assim durante os últimos três anos e meio? Se não foi, tente entender os motivos. A prefeitura precisou colocar a cidade em ordem ou realmente não parecia muito disposta a fazer aquilo a que se comprometeu em 2008? O prazo de análise para seu voto em outubro deveria ter começado em 2009. Nunca é tarde para termos consciência política. Fique ligado! ν

* Humberto Dantas é doutor em Ciência Política pela USP e professor do Insper com experiência em mais de 200 cursos livres de educação política.

Fonte: Humberto Dantas / Revista Missões

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