A tolerância cultural e religiosa na Síria

Jaswant Singh *

A revolução na Síria contra o regime de Bashar al-Assad surgiu como um movimento secular para a democracia, mas já está revelando que tem um objetivo de caráter religioso. Grupos islâmicos, não só militantes da Al Qaeda, mas também islamitas sírios, estão desempenhando um papel mais ativo na oposição. Até hoje a intervenção verbal de vários países não obteve resultados perante os excessos dos revoltosos e do regime do Presidente Bashar al-Assad.

Apesar de negar a liberdade política aos seus cidadãos, no que diz respeito à liberdade social, a Síria é bastante mais tolerante do que muitos outros países árabes, especialmente a Arábia Saudita, que lidera a investida para derrubar Assad. Governada por uma minoria de alauitas (uma seita xiita), a Síria alberga um conjunto de grupos diferentes: árabes, armênios, cristãos, curdos, drusos, ismaelitas e beduínos.

Esta tolerância relativamente à diversidade cultural e religiosa poderá ser ameaçada, se uma revolta de inspiração sunita tomar conta do país. E é por isso que a Síria gera simultaneamente revolta contra as atrocidades do regime e medo do que poderá acontecer, se o regime cair.

Numa terra antiga como a Síria, não se podem analisar os problemas do presente sem refletir sobre o que aconteceu no passado. Afinal, a história é sempre a mãe do presente e a geografia é o progenitor.

A história explica que no fim da primeira guerra mundial, a Grã-Bretanha e os seus aliados "arruinaram a velha ordem", destruindo o domínio turco da língua árabe no Médio Oriente. Mas depois "criaram países, nomearam governantes (de confiança) e delinearam fronteiras" artificiais.

Depois das guerras no Iraque e no Afeganistão e da intervenção na Líbia, percebe-se que as intervenções antigas continuam com suas consequências. A intervenção no Iraque almejava atingir também a resistência no Irã. Com o desastre do Iraque, a Síria fortaleceu sua aliança com o Irã.

Algumas das memórias históricas nos lembram (1919) que os franceses, "encolheram a Síria para poder controlá-la", recompensando os seus "aliados cristãos com o alargamento das fronteiras do Monte Líbano com o vale de Bekaa, os portos mediterrâneos de Tiro, Sidon, Beirute e Trípoli e... com território... a norte da Palestina. Milhares de muçulmanos passaram a pertencer a um Estado governado por cristãos".

A combinação de receios étnicos e confessionais e de rivalidades, memórias históricas e cegueira deliberada entre os poderes externos, parece estar predestinada a desestabilizar novamente todo o Oriente Médio.

Na verdade, o grande arco que se estende do Cairo ao Hindu Kush ameaça tornar-se o centro da desordem global. Não é de admirar que o enviado iraniano, Saeed Jalili, tenha anunciado, após uma reunião que teve recentemente com Assad em Damasco, que "o Irã não permitirá de modo algum que o eixo de resistência, do qual a Síria é considerada um pilar fundamental, seja quebrado".

Existirá uma solução para este impasse sombrio? Provavelmente não será nas Nações Unidas. Barack Obama, é favorável à ideia de uma "transição gerida" na Síria que não desgaste de forma desastrosa os interesses nacionais dos países ocidentais.

* Jaswant Singh é político indiano. Síntese de artigo publicado no Público, em 29 de agosto 2.012.

Fonte: http://www.publico.pt

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