A extrema direita e as eleições de 2026

Não podemos ignorar que a extrema direita vem crescendo e ocupando espaços políticos e nas estruturas de poder em milhares de municípios e diversos Estados.

Por Juacy da Silva

"Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Eduardo Alves da Costa Nota: Trecho do poema "NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI".

No dia 25 de março de 2025, teve início o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e um grupo considerável de militares e civis, que participaram de seu governo, denunciados pela Procuradoria Geral da República por tentativa de Golpe de Estado, abolição violenta do estado democrático de direito e das instituições democráticas e também por vandalismo, destruição de patrimônio público e outros crimes mais.

Todavia, mesmo com este julgamento em curso que, em tese, poderá levar tanto Bolsonaro quanto diversos outros réus, à prisão, não podemos ignorar que a extrema direita vem crescendo e ocupando espaços políticos e nas estruturas de poder em milhares de municípios e diversos Estados.

Tanto a extrema direita quanto a direita e centro direita tem um projeto político e de poder de curto, médio e longo prazo, a começar pela conquista e manutenção do poder em todas as esferas e níveis, e, a partir daí, converterem suas "narrativas" e ideologias conservadoras em mudanças constitucionais e legais e em políticas públicas que irão favorecer grandes grupos econômicos e diversos setores econômicos, culturais, religiosos e políticos que aumentarão ainda mais a exclusão, as injustiças, a fome, a miséria e a violência, principalmente a violência institucional do Estado, através de seus diversos organismos repressivos e também dos aparelhos ideológicos do Estado.

A extrema direita e boa parte da direita que acaba se aliando a ela, tem, na verdade dois projetos de curto e médio prazo, o primeiro é: a volta aos Palácios do Planalto e da Alvorada (Poder Executivo Federal) e aumentar a maioria que já tem no Congresso Nacional, tanto na Câmara Federal, mas principalmente no Senado da República.

E, a partir dai, o projeto de médio e longo prazos é promover Emendas Constitucionais e alterações no ordenamento jurídico infraconstitucional que transformem o Estado Brasileiro em um instrumento para as suas práticas, já bem conhecidas, que é o chamado "Estado Mínimo" para os pobres e excluídos e "Estado Máximo" para as classes dominantes e as camadas privilegiadas, inclusive os Marajás da República.

A implantação do chamado "Estado Mínimo", cujo exemplo mais recente é o que está sendo feito na Argentina e em outros países onde a extrema direita, sozinha ou em aliança com a direita tradicional, representa o sucateando dos organismos de controle; a subjugação e limitação do Poder Judiciário, acabando com as políticas públicas voltadas para o meio ambiente, para os direitos humanos e sociais, afrouxando as leis trabalhistas, aumentando a informalidade e a "uberização" e insegurança nas relações de produção e trabalho; aumentando os incentivos fiscais para os grupos privilegiados (econômicos e sociais), favorecendo os grandes grupos empresariais e as camadas privilegiadas, a turma de cima, os 1% e 5% da população brasileira, aumentando a acumulação de renda, riqueza e propriedades, e os lucros dos bancos e demais agentes financeiros, entregando ao famigerado "mercado" mais poder para aumentar a exploração dos consumidores e dos trabalhadores e trabalhadoras, aumentando a exclusão, a fome e a miséria, sucateando a educação pública, a saúde pública e a previdência, aumentando a insegurança para a população idosa, aposentados, aposentadas e pensionistas.

É sobre isso que precisamos focar, refletir e dialogar com os diversos partidos e setores de esquerda, progressistas, liberais e centro, para evitar que isto venha a acontecer nas eleições de 2026 em nosso país.

Precisamos definir pautas, estratégias e táticas, amplas e não apenas de um Partido ou de "correntes" internas de um ou outros partidos. Isto tem que ser feito a partir de cada território (vizinhanças, bairros, municípios, estados e o Brasil inteiro), nas Associações de moradores, nos sindicatos, nas ONGs, nas escolas, nas universidades, nas Igrejas, nos "clubes" de serviço, nas práticas do voluntariado e, também, nos meios/veículos de comunicação tradicionais e virtuais.

As cúpulas desses partidos e organizações não podem ficar distantes das bases (da população) como atualmente acontece, acomodadas em seus cargos, funções e privilégios e só voltarem às bases às vésperas das eleições como fazem os partidos e políticos tradicionais, como normalmente acontece.

Voltar às bases significa também a formação de novos quadros e militantes em todos os setores da sociedade brasileira, promover cursos básicos de formação política, que desperte e aumente a capacidade critica e criadora, não apenas desses quadros, mas também das grandes massas, evitando que as mesmas sejam manipuladas por "fake news", por "narrativas fantasiosas e falsas", difundidas pelos veículos e meios de comunicação, inclusive virtuais.

É também importante que sejam promovidos seminários, discussões, reflexões sobre temas de interesse da população refletindo de forma crítica sobre questões como, por exemplo, Moradia Popular, saneamento básico, Racismo estrutural, discriminação, igualdade de gênero, Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma bancária e financeira, Agricultura Sustentável/Agroecologia, Segurança alimentar e hídrica, Violência, criminalidade, inclusive a violência institucional/de Estado, Direitos Humanos; Questões ambientais/ecologia Integral; a questão da inflação e da perda do poder aquisitivo dos salários, principalmente do salário mínimo, gestão pública eficiente, transparente e participativa, a Questão dos juros e do endividamento das pessoas físicas e as taxas de juros cobradas por bancos e financeiras que chegam a mais de 200% ou até mesmo mais de 400% ao ano, uma verdadeira extorsão, a Questão da Dívida Pública e o chamado equilíbrio fiscal, a necessidade de uma Auditoria internacional e independente na Dívida Pública, a questão do sistema tributário, os incentivos fiscais e subsídios concedidos aos grandes grupos econômicos, tudo isso para uma análise mais atual e profunda da realidade, a partir da da conjuntura e das estruturas em cada território.

Além disso, claro, promover muitas MOBILIZAÇÕES de massa nas ruas e praças e não apenas virtualmente, denunciando as práticas que prejudicam o povo, a grande maioria da população onde a extrema direita e seus aliados estejam no poder: municípios e estados.

Sem esta retomada, estamos e estaremos condenados a ver este avanço da extrema direita e de seus aliados em outros partidos de direita se concretizando cada dia mais em nosso país, como já está acontecendo em diversos outros países e ai, não adianta "reclamar do leite derramado".

A omissão, o desinteresse pela melhor política, a política colocada a serviço do bem comum, como enfatiza o Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti, a passividade, a alienação em relação à realidade que nos cerca e os cenários de um futuro que tem como base governos com práticas autoritárias e totalitárias, como bem nos demonstra tantas situações históricas, que germinaram e se desenvolveram nesses contextos, e ainda estão presentes nos dias atuais em várias partes do mundo, deveriam servir de alerta para quem, de fato, se preocupa com o futuro do Brasil e da grande maioria da população que vive excluída e marginalizada.

A situação atual do Brasil guarda muitas semelhanças desses períodos sombrios de nossa história e de países sob jugo do autoritarismo e totalitarismo, razão pela qual precisamos estar alertas e jamais omissos, passivos e alienados.

Enfim, precisamos ter um Projeto Popular e Democrático de longo prazo para Brasil, do qual faça parte os Estados e Municípios, com Justiça Social, equidade/melhor distribuição de renda, redução significativa dos desequilíbrios e desigualdades regionais, sociais, econômicas, com sustentabilidade ecológica, garantindo direitos humanos e cidadania para todos e todas, principalmente a grande maioria da população brasileira que continua excluída, marginalizada e injustiçada.

Só assim, podemos dizer que estamos a caminho de uma sociedade verdadeiramente democrática, participativa, solidária e justa!

Democracia e Estado democrático de direito não são apenas conceitos, mas realidades concretas que respeitem plenamente a dignidade das pessoas em todas as dimensões e situações.

Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia integral Região Centro Oeste. E-mail profjuacy@yahoo.com.br Instagram @profjuacy

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