Todo mês, Pastoral do Povo de Rua atende moradores de rua em Guarulhos, SP.
Por Janusa de Oliveira Costa Moreira
Na Praça do Rosário dos Homens Pretos, que fica no centro da cidade de Guarulhos - SP, acontece uma ação social no terceiro domingo de cada mês. A Pastoral do Povo de Rua da diocese de Guarulhos (Pe. Paulão), vai até lá, e oferece corte de cabelo, banho, atendimento de enfermagem, manicure-pedicure, roupas limpas, almoço, e momento de oração/escuta para quem quiser participar. Eu e Márcio, meu esposo, junto com um grupo de amigos, fomos lá pessoalmente, pela primeira vez, conhecer este trabalho no dia 17 do mês de novembro próximo passado, data de reflexão sobre o "Dia do Pobre", instituído pelo nosso Papa Francisco. Antecipadamente, por orientação e a convite do Pe. Jair Costa, da mesma diocese, com o qual fazemos estudos baseados no livro Grupos de Jesus, do Padre José Antonio Pagola (2016), recebemos o link https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20240613-messaggio-viii-giornatamondiale-poveri-2024.html, cujo texto trata da mensagem do Santo Padre para o VIII Dia Mundial dos Pobres - 2024, o qual li e me deixou em expectativa para o que seria minha primeira experiência com a referida atividade.
Chegando o domingo, dia 17, já no caminho, pedimos a intercessão no nosso agora São José Allamano para aquele dia de missão. Antes do início dos trabalhos, juntamente com os participantes da Pastoral e demais voluntários, reunimo-nos na praça, fazendo um momento de oração e posterior orientações. Após um breve café, o portão foi aberto e começaram a entrar as pessoas que seriam assistidas. Passado algum tempo, percebi que, no começo da ação, era fácil identificar as pessoas em situação de rua, mas que, com a realização das atividades (após banho, uso de roupas limpas e cabelos cortados), elas foram perdendo o aspecto de menos favorecidas (porque parte delas não mora na rua, mas em albergues, ocupações etc.) e adquirindo características da dignidade humana. Foram se misturando à equipe, de maneira que fomos ficando todos iguais. De boca fechada, quem era e quem não era, um do lado do outro, não tinha diferença, exceto os que tinham movimentos lentificados ou acelerados, em decorrência de suas situações de vida.
Virou um grupo de irmãos reunidos numa praça. Se não fossem algumas camisetas com a identificação da Pastoral do Povo de Rua, ou das paróquias, ou com temas religiosos, ficaríamos “todos juntos e misturados”, formando um só povo. Tivemos a oportunidade de conversar com alguns deles, ouvir suas histórias, dar risada de situações partilhadas e até sugerir e dar ideias de como mudar o paradigma de suas vidas, no seu modo de viver, sendo todos envolvidos pelo reino do céu que se fazia presente naquele momento. Ouvi até a seguinte frase de um senhor, com seu cigarrinho na mão: “Não vou fumar aqui dentro, porque é falta de respeito...” Por motivo que desconheço, a igreja da praça ficou fechada, aquela que foi construída, no passado, para os "homens pretos", aqueles que ficava à margem da sociedade guarulhense.
E para completar o dia de missão, no final da tarde, eu e Márcio participamos da missa na Paróquia Santa Teresinha, em Santana, São Paulo. Comentando a 2ª leitura do dia (Hb 10, 11-14.18), o padre enfatizou que, diferente dos sacrifícios feitos antes da época de Jesus, que ficavam por conta de quem era vítima e o executor não se envolvia, no sacrifício da missa Jesus é o próprio Cordeiro imolado e nós participamos do seu sacrifício, tocamos no seu sangue. Assim, para que o Reino de Deus aconteça, também temos que fazer nossos sacrifícios.
Minha experiência daquele dia teve dois aspectos: o "cheiro da praça" que permaneceu em minhas nas narinas, fazendo parte do meu sacrifício, o qual só deixei de sentir após um banho e uso de spray nasal; e a percepção da felicidade das pessoas assistidas ao irem embora, verbalizando agradecimentos ao trabalho da Pastoral e pedindo a Deus que abençoasse todos os voluntários, me fazendo refletir sobre quem saiu melhor de lá. Foi uma gotinha doce e quentinha no meio do oceano das vidas de todas as pessoas envolvidas. Quem dera se, ao final dos trabalhos da ação, todo o “povo de rua” tivesse um lugar digno e em condições favoráveis para se viver.
Passaram pelo atendimento da Pastoral do Povo de Rua, naquele dia, 220 pessoas.