Fulano fez sua páscoa!

Pastoralmente falando, é mister rezar pela alma do defunto; não se presume a salvação de ninguém.

Por Edson Luiz Sampel

Já ouviu esta frase, referida à morte de uma pessoa: “o religioso fez sua páscoa”? Claro que sim. Quem a profere engana-se totalmente e, sem querer, ilude os incautos. Ora, isto virou moda no grêmio da Igreja, sobretudo entre os eclesiásticos! Não se diz mais: “tal pessoa faleceu”; afirma-se a cotio: “tal pessoa fez sua páscoa”!

A frase, aparentemente bela, patenteia dois erros graves: um pastoral e outro teológico. Pastoralmente falando, é mister rezar pela alma do defunto; não se presume a salvação de ninguém. Do ponto de vista teológico, sabemos que a páscoa, vale dizer, a ressurreição de Jesus, ocorreu há dois mil anos. Também houve apenas outra ressurreição desse jaez na história, a de Maria santíssima (assunção).

A páscoa ou ressurreição gloriosa de qualquer ser humano que se salva, incluindo os santos do céu e as almas do purgatório, se dará na parusia, isto é, no fim do mundo. Entretanto, os precitos do inferno também ressuscitarão, mas ignominiosamente (Mt 25, 31-46).

A expressão “sicrano fez sua páscoa” é especiosa e presunçosa, mesmo para quem expirou em odor de santidade. Ajamos como católicos! Quando se finar um ente querido, humildemente rezemos pela sua alma. E este nosso contributo, prenhe de caridade, importará muito para quem morreu, principalmente se, como a maioria, estiver padecendo as penas do purgatório.

Edson Luiz Sampel é professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina. Presidente da Comissão Especial de Direito Canônico da 116ª Subseção da OAB-SP.

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