A maçonaria continua proibida para os católicos

Comparação entre maçonaria e Igreja Católica mostra irreconciliabilidade entre as duas doutrinas.

Por Edson Luiz Sampel

Em novembro de 2023, o cardeal Fernandéz, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, respondeu à indagação de um bispo das Filipinas, preocupado com o crescente número de fiéis do seu país que têm aderido à maçonaria. A nota do dicastério, com a aprovação do papa Francisco, reitera que “a filiação ativa de um fiel à maçonaria é proibida, devido à irreconciliabilidade entre a doutrina católica e a maçonaria”. A referida, nota ainda, alude ao parecer curial de 1983, referendado por São João Paulo II.
Abaixo, elaboramos uma comparação* entre o ensinamento da maçonaria com a doutrina católica, sendo que a primeira frase refere-se à maçonaria e a segunda, à Igreja Católica, nas 13 afirmações. Em seguida, transcrevemos a tradução do cânon 1374 e um excerto do parecer de 1983, referido pelo atual prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.

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1) Existe um Ser supremo, convenientemente denominado “Grande Arquiteto do Universo”.
1) Existe um Ser supremo, criador e conservador de todos os seres contingentes, que com sua paternal providência, vela sobre cada uma de suas criaturas.

2) Para o conhecimento da natureza íntima do Ser supremo, a razão humana permanece entregue às próprias luzes e forças naturais, pois não consta que Deus se tenha revelado aos homens, nem poderia fazê-lo em vista da dignidade e autonomia da razão humana.
2) Para o conhecimento da natureza íntima do Ser supremo, a razão humana, entregue apenas às próprias luzes e forças naturais, é radicalmente insuficiente. Por isso, o próprio Deus, principalmente por seu Filho unigênito, Jesus Cristo, se dignou de falar sobre si mesmo aos homens.

3) É sagrado e inviolável, em todo indivíduo humano, o direito de pensar livremente.
3) É sagrado e inviolável, em todo indivíduo humano, o direito de orientar livremente o seu pensamento de acordo com a realidade objetiva preexistente; não, porém, contra essa realidade, porquanto o erro não tem direitos.

4) O homem deve dirigir os atos e a vida exclusivamente de acordo com sua razão e consciência.
4) O homem deve dirigir os atos e a vida de acordo com sua consciência e, sobretudo, de acordo com os mandamentos revelados positivamente por Deus.

5) É o indivíduo que deve regular as relações com o Ser supremo e o modo de cultuá-lo.
5) É, em primeiro lugar, Deus que regula o modo como deve ser cultuado pelo homem, sua criatura. O homem deve acomodar-se às determinações divinas.

6) Qualquer coação ou influência externa, de ordem física ou moral, no sentido de dirigir ou orientar o pensamento do indivíduo, deve ser considerado como atentado contra um direito natural e sagrado e, por isso, deve ser denunciado como violência e injustiça. A maçonaria considera seu dever principal combater esta violência, ambição e fanatismo.
6) Ninguém deve ser coagido contra a vontade a abraçar a fé na revelação cristã. Mas, pelo ensino, educação e formação, o homem pode e deve ser influenciado e melhorado por outros. Isso não só não é violência alguma, ou injustiça, mas, é excelente obra de caridade cristã. A Igreja Católica considera seu dever principal trabalhar na instrução, na educação moral e religiosa de todos os homens.

7) O meio em que vive e respira o indivíduo humano deve manter-se rigorosamente neutro, sem hostilizar nem favorecer religião alguma determinada, nem mesmo a religião cristã.
7) O meio em que vive e respira o indivíduo deve estar impregnado de princípios religiosos e morais certamente revelados e ordenados por Deus.

8) O Estado deve manter-se oficialmente indiferente perante qualquer religião concreta.
8) O ideal é que o Estado oferte aos cidadãos os meios e as facilidades para eles se comportarem segundo as prescrições e leis de Deus. No Brasil, o ensino religioso é obrigatório nas escolas públicas para o nível fundamental (artigo 210, §1º da Constituição Federal).

9) A maçonaria aceita e defende os elementos da religião natural e abstrai da religião cristã, mas sem hostilizá-la.
9) A Igreja Católica aceita e defende os elementos verdadeiros da religião natural e abraça com amor e gratidão a religião cristã, sabendo ser impossível permanecer indiferente perante Cristo: “Quem não for por mim será contra mim” (Lc 11,23).

10) A maçonaria reconhece que todas as religiões são boas e iguais perante Deus.
10) A Igreja Católica reconhece que, perante Deus, só é boa e aceitável a religião ensinada pelo próprio Deus, mediante Cristo Jesus. “Nem todo aquele que me disser Senhor, Senhor entrará no reino dos céus, mas somente aquele que fizer a vontade de meu Pai celeste” (Mt 7,21).

11) A maçonaria não exige a necessidade da fé cristã e do batismo cristão.
11) “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mt 16, 16).

12) A maçonaria não exige a necessidade de comer a carne de Cristo e beber o seu sangue.
12) “Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 53).

13) A maçonaria proclama que o matrimônio não é sacramento e que o divórcio, em certos casos, é exigência da lei natural.
13) A Igreja Católica ensina que o matrimônio é um vínculo santo e sagrado, verdadeiro sacramento, e que o divórcio não é permitido (Mc 10, 9).

Tradução do cânon 1374 do C.I.C:
“Quem se inscreve em uma associação que maquina contra a Igreja deve ser punido com justa pena; quem promove ou dirige tal associação há de ser púnico com interdito.”

Trecho do parecer do Dicastério para a Doutrina da Fé, lavrado pelo prefeito, cardeal Ratzinger, com a chancela de são João Paulo II, publicado em 26/11/1983, logo após a promulgação do atual código canônico:
“(...) permanece inalterável o juízo negativo que tem a Igreja a respeito das associações maçônicas, tendo em vista que seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja. Em consequência, a filiação a essas associações continua proibida pela Igreja. Os fiéis católicos que se afiliarem a associações maçônicas se encontram em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da sagrada comunhão.”

*Comparação baseada no livro “A maçonaria no Brasil. Orientação para os católicos”, de dom Boaventura Kloppenburg.

Edson Luiz Sampel é professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina, PR.

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