Papua Nova Guiné: o alto preço pago pelos missionários durante a II Guerra Mundial

Os missionários em Papua Nova Guiné pagaram um preço muito alto. Não somente pela perda de vidas humanas. Ao final da guerra, quase 90% das obras realizadas pelos religiosos foram completamente destruídas pelos japoneses que tentaram apagar a fé cristã dos povos autóctones.

 

Confundidos com espiões inimigos e, por isso, assassinados. Este foi o destino compartilhado durante a Segunda Guerra Mundial por vários missionários católicos empenhados na evangelização da Papua Nova Guiné, um território muitas vezes palco de batalhas atrozes durante o conflito.

As verdadeiras chuvas de bombas começaram a cair em 21 de janeiro de 1942, quando as forças japonesas atacaram a cidade de Rabaul. Na época, o vigário apóstólico de Nova Guiné Central e bispo titular de Medeli era o bispo alemão Joseph Lörks. Apósa sua nomeação por Pio XI, havia sido ordenado pelo cardeal Karl Joseph Schulte, arcebispo metropolita de Colônia, em 17 de dezembro de 1934, na igreja da missão "Santo Agostinho", perto de Bonn. Ao chegar à Oceania, ele dedicou-se ativamente na difusão do Evangelho, suscitando forte apreço por parte da população local.

Quando as forças japonesas desembarcaram em Papua Nova Guiné em 1942, não viram com bons olhos a presença dos sacerdotes. Desconfiados de todos os ocidentais, muitos deles, incluindo o bispo alemão, foram brutalmente interrogados. Durante um desses interrogatórios, Lörks também foi ferido com uma baioneta.

A obra de evangelização foi ainda mais provada quando os japoneses tomaram posse de uma casa de missão estrategicamente posicionada no topo de uma colina. A oposição de alguns missionários ocidentais aumentou ainda mais as suspeitas entre os militares japoneses de que eram espiões do exército dos EUA.

O equilíbrio desapareceu definitivamente após a Batalha do Mar de Bismarc, ocorrida em março de 1943, e que representou uma derrota desastrosa para as forças japonesas. Naquele período, um missionário havia fornecido secretamente roupas e alimentos aos prisioneiros americanos. O religioso foi denunciado por moradores locais, e em resposta, dois sacerdotes foram fuzilados.

Todos os outros missionários, incluindo dom Lörks, foram levados a bordo de um contratorpedeiro japonês, o Akikaze. Para os fazer subir a bordo, foi dito aos sacerdotes de que seriam deportados para os seus países de origem. Nesse ínterim, foram levados a bordo outros missionários protestantes.

No dia 17 de março, via rádio, chega a sentença de morte: o capitão do contratorpedeiro recebeu ordens para executar todos os missionários com um pelotão de fuzilamento. Dom Josef Lörks foi o primeiro a ser executado. Os corpos daqueles cristãos foram então jogados no oceano.

Essas execuções, no entanto, não foram tornadas públicas. Soube-se da barbárie ocorrida no Akikaze somente em 1946, durante algumas investigações sobre crimes de guerra. A justiça humana, porém, não agiu em favor dos executados: nunca houve um processo pelos fatos ocorridos no navio.

Outro bispo alemão, Franziskus Wolff, também morreu tragicamente durante o cativeiro japonês. Dom Wolff liderava o Vicariato da Nova Guiné Oriental quando, juntamente com 7 sacerdotes e 16 religiosos e 30 religiosas, foram forçados a embarcar num navio para serem deportados para um campo de prisioneiros japonês. Para eles, a morte veio do céu: não foram executados pelos militares japoneses, mas pelas bombas dos americanos que interceptaram o navio de guerra.

Décadas depois desses horrores, pode-se afirmar que os missionários em Papua Nova Guiné pagaram um preço muito alto. Não somente pela perda de vidas humanas. Ao final da guerra, quase 90% das obras realizadas pelos religiosos foram completamente destruídas pelos japoneses que tentaram apagar a fé cristã dos povos autóctones.

Contudo, não faltaram testemunhas de fé como Peter ToRot, que naqueles anos sombrios de violência e horror manteve viva a fé no coração das pessoas. Esse foi o alicerce sobre o qual a Igreja lançou as bases para reconstruir e continuar o trabalho dos missionários brutalmente assassinados.

Contudo, a Europa estava devastada e os sacerdotes do Velho Continente não chegaram imediatamente. Assim, os missionários que estiveram inicialmente envolvidos na reconstrução chegaram da América e da Austrália. Hoje a Igreja não esqueceu o sacrifício daqueles missionários e incluiu o bispo Joseph Lörks entre as testemunhas de fé no martirológio alemão do século XX.

Fonte: Agência Fides

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