Maria Regina Canhos Vicentin *
Muitas pessoas me procuram para aconselhamento, pois sabem que sou psicóloga cristã e, assim, buscam uma orientação em conformidade com os ensinamentos bíblicos. Todavia, o que em princípio poderia parecer uma deferência da qual talvez devesse me orgulhar, tem se revelado causa de aborrecimentos. Isso porque a hipocrisia continua tão presente quanto nos tempos de Jesus. Ora, todo mundo sabe que Cristo condena o pecado, mas sempre se mostra misericordioso com o pecador. Os homens, ao contrário, pecam às escondidas; e quando acontece de alguém ser surpreendido no erro, apedrejam esse irmão sem piedade ou perdão.
Dessa forma, com honrosas exceções, costumam existir os sortudos (que fazem, porém, ninguém sabe) e os azarados (que são flagrados na prática do erro e apedrejados pelos sortudos). Depois do auê, os sortudos forçam uma leitura fundamentalista da situação. Ah, façam-me um favor, não me peçam para compactuar com isso. Aliás, nem me procurem para isso, pois não tenho pedras nas mãos. Penso que o pecador merece tanto respeito quanto o santo, e mesmo Deus parece amá-los de igual forma, a ponto de deixar um rebanho inteiro para ir atrás da ovelha que se perdeu (Lc 15, 1-7).
Todo o excesso é ruim. A religião não pode ser usada para condenar e proscrever o pecador, mas deve agregá-lo à comunidade, já que visa à salvação das almas. Usar a religião para discriminar, culpabilizar ou amedrontar alguém é pecado tão grave quanto descumprir qualquer das leis de Deus, pois a maior delas é o amor (I Cor 13, 1-8a). A intolerância afasta aqueles que mais precisam de uma palavra amiga. Devemos buscar a santidade sim, mas sem nos ufanar; cientes da nossa pequenez, da nossa fragilidade. Graças ao Pai, não fomos nós os escolhidos para julgar nossos irmãos, de tal sorte que deveríamos deixar de exercitar esse papel cotidianamente, pois ele está destinado ao justo juiz (At 10, 42).
Cada qual deve se ocupar da própria vida, buscando o aperfeiçoamento na prática do bem. Se quiserem constranger, humilhar ou condenar alguém, não contem comigo. Saibam que também não sou santa, e constantemente me penitencio diante de Deus para que tenha misericórdia de mim. Viver a religião é viver o amor ao Pai e ao próximo. Esse amor se revela através da compaixão para com os mais necessitados, entre eles, o pecador.
É necessário ter quem oriente na caminhada, isso é fato. Guias sinalizam o caminho e podem até dar sugestões, mas a escolha é individual, e cada um deve optar conforme lhe convém. Caso enveredemos por um caminho tortuoso e, arrependidos, queiramos voltar para tomar outro rumo, não compete aos guias esconderem as placas referenciais, e sim novamente apresentá-las para que possam ser apreciadas pelos peregrinos. Lembremo-nos sempre disso, para que nossa cruz não fique mais pesada do que deveria ao longo da jornada.
* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br
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