Darlyn Garcia, jovem liderança do povo Baré, discursou no Painel de Alto Nível sobre o Direito ao Desenvolvimento, da 52ª sessão do CDH da ONU
Por Adi Spezia, da Assessoria de Comunicação do Cimi
Foto: Tadeu Rocha
A jovem liderança do povo Baré, Darlyn Dariana Garcia, falou ao Conselho de Direitos Humanos (CDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), no Painel de Alto Nível sobre o Direito ao Desenvolvimento, na tarde dessa terça-feira, 28 de fevereiro. O evento faz parte do 52º período ordinário de sessões do Conselho de Direitos Humanos (CDH 52).
Acompanhada de sua avó, a anciã Elsa Deremare Baré, Darlyn iniciou o discurso pontuando que este tema é para muitos valioso e que, por isso, o consideram um modelo progressista em seus países, “como é o caso do Estado, por isso o considera como modelo de desenvolvimento econômico”, destacou.
Seguindo sua reflexão, com seus pés enraizados ao seu território tradicional, a jovem do povo Baré do Amazonas venezuelano disparou aos presentes: “bem, se for verdade, esse modelo afeta nosso planeta e a própria humanidade”.
“Está cientificamente comprovado que, 80% das áreas territoriais são utilizadas para desmatamento e mineração”
Na oportunidade, Darlyn questionou qual modelo de desenvolvimento está sendo discutido no evento e a quem esse desenvolvimento está a serviço. Já que, “está cientificamente comprovado que, 80% das áreas territoriais são utilizadas para desmatamento e mineração”, advertiu.
Em sessões anteriores do Conselho de Direitos Humanos e do Fórum Permanente das Nações Unidas para as Questões Indígenas, outra lideranças indígenas já vinham denunciando que “a mineração em terras indígenas é um genocídio para nós, porque nos afeta diretamente, trazendo impactos ambientais, sociais, pesando em nossas tradições, nossa cultura e nossos costumes”.
É importante lembrar que a crise humanitária que o povo Yanomami enfrenta está relacionada ao avanço exponencial do garimpo nesses últimos anos dentro da Terra Indígena Yanomami, adquirindo uma maior complexidade de meios disponíveis, de maquinário e tecnologias de comunicação, bem como uma maior capacidade de destruição, como listou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em nota publicada no início de fevereiro deste ano.
“Todos os recursos naturais que são extraídos do nosso território, extraem-se também os conhecimentos ancestrais”
“Nós, povos indígenas, temos uma estreita relação com nossos territórios, devido à cosmovisão de mundo que temos com a Pachamama. Todos os recursos naturais que são extraídos do nosso território, extraem-se também os conhecimentos ancestrais”, ressaltou ao Conselho que está em seu segundo dia de atividades nesta sessão.
Ao concluir sua contribuição, a primeira dos povos indígenas do Brasil na 52º sessão do CDH da ONU, a jovem Baré pediu “respeito ao nosso direito à autodeterminação como povo e nossos territórios”. Destacou a importância de o Conselho ouvir as lideranças indígenas sobre o tema, “visto que nós, povos indígenas, somos os verdadeiros guardiões desta biodiversidade, fauna, flora, mas também da nossa natureza”.
Sobre o CDH 52
O 52º período ordinário de sessões do Conselho de Direitos Humanos (CDH 52) iniciou nessa segunda-feira, 27 de fevereiro, e segue até o dia 4 de abril deste ano, em Genebra, Suíça. Durante o evento serão realizados 27 diálogos interativos com titulares de mandatos de Procedimentos Especiais e mecanismos de investigação, nove diálogos interativos com o Alto Comissário, três diálogos interativos aprimorados e um diálogo de alto nível.
A incidência indígena, feita por organizações indígenas e indigenistas, se dará nos espaços destinados aos “Debates Gerais” e aos “Diálogos Interativos”, além do painel de Alto Nível e da Revisão Periódica Universal (RPU). Ao todo, estão previstas pelo menos sete incidências nesta sessão do CDH da ONU.