Assembleia da CNBB e os índios

Egon Heck *

Como vem acontecendo nas últimas décadas, a questão indígena foi colocada de forma contundente, em toda sua dureza e violência, pelo presidente do Cimi, Dorm Erwin Krautler nesta 49ª Assembleia Geral da CNBB. Em seu pronunciamento, mais uma vez teve destaque a dramática situação nos Kaiowá Guarani: "De acordo com estes levantamentos, o Estado de Mato Grosso do Sul tem sido recordista em violências contra os povos indígenas. Ali as comunidades indígenas são obrigadas a viver em beira de estrada, são frequentemente expulsas de seus acampamentos, têm suas barracas e pertences queimados e seus líderes assassinados. Cerca de 50% dos assassinatos de indígenas ocorre naquele Estado. De acordo com recente informação do Ministério Público Federal, na terra indígena de Dourados, constituída de três mil e seiscentos hectares, nos quais vivem, em situação de confinamento, mais de 12 mil indígenas, o índice de homicídios é 800% maior que a média nacional. Esta prática de violência contra os povos indígenas no Mato Grosso do Sul, especialmente em relação ao povo Guarani Kaiowá, não deixa de ser um genocídio.

A omissão em relação ao intenso processo de violências enfrentadas pelos Guarani-Kaiowá é talvez o elemento mais significativo da falta de interesse do Governo Federal pelos povos indígenas. Os abusos contra este povo têm sido denunciados pelo Cimi e por outras organizações de defesa dos direitos humanos e indígenas no Brasil e em nível internacional. Entretanto, mesmo assinando um Termo de Ajustamento de Conduta, no qual a Funai se comprometeu, em 2008, em realizar os estudos de identificação e delimitação de terras de ocupação tradicional indígena naquele Estado, até o presente momento o órgão indigenista está omisso. A demarcação das terras poderia evitar a morte de centenas de pessoas do povo Guarani-Kaiowá".

D. Erwin em diversas ocasiões tem reafirmado que a situação dos Kaiowá Guarani é das mais graves que ele já viu em toda sua vida. Comovido por essa realidade e está cobrando providencias das autoridades responsáveis, em todos os lugares por onde está passando.

D. Dimas, novo arcebispo de Campo Grande
Os Guarani e seus aliados ficaram muito felizes com a nomeação do novo arcebispo de Campo Grande. Dom Dimas esteve em março de ano passado visitando vários acampamentos do povo Guarani no cone Sul do Mato Grosso do Sul. Naquela ocasião, juntamente com D. Erwim, presidente do Cimi, pode sentir um pouco da dor e injustiça de que são vítimas os mais de 40 mil indígenas deste povo. Nesta ocasião se comprometeu de levar essa realidade às esferas do governo (presidente da República, Ministro da Justiça...) e pedir providencias urgentes, especialmente com relação à demarcação das terras. Também se comprometeu a dar visibilidade a essa realidade, promovendo um debate a respeito nas emissoras católicas de TV.

D. Dimas voltou a Dourados, pouco tempo depois, para pregar um retiro para o clero local. Esse conhecimento da grave situação e dos conflitos existentes nessa região certamente serão parte de sua ação de pastor em Campo Grande e no regional Oeste 1 da CNBB. Isso ele manifestou em seus primeiros pronunciamentos e entrevistas à imprensa regional.

Volta do Acampamento Terra Livre
Em torno de 80 representantes do Mato Grosso do Sul participaram do Acampamento Terra Livre e do Encontro sobre as terras em conflito, em Brasília. Ao retornarem a suas aldeias, foram unânimes em destacar o importância dessa mobilização indígena nacional. Porém evidenciaram que lá foram para lutar pelos seus direitos, especialmente à terra. Isso deixaram bem claro nos documentos que levaram, tanto em nome da Aty Guasu, como das diversas comunidades em luta pela terra. Por essa razão expressaram seu descontentamento e com aqueles que tentaram direcionar os debates apenas para a troca de presidente da Funai.

Voltaram animados por sentir que sua luta continua sendo uma luta assumido como prioridade pelo movimento indígena brasileiro. Porém esperam gestos concretos dessa solidariedade, assim como tem acontecido por vários anos com a Raposa Serra do Sol, em Roraima.

* Egon Heck, Povo Guarani Grande Povo.

 

Fonte: Cimi MS

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