A enfadonha escola

Maria Regina Canhos Vicentin *

Recentemente, Sr. José lamentou constatar que sua filha pequena não demonstrava interesse pela escola. Ele recordou o tempo em que, ansioso, esperava pelos ensinamentos da professora. Disse que se sentia fascinado com o aprendizado, e não conseguia entender porque sua menina estava tão desmotivada. Ela chegou a lhe falar que gostaria que a aula passasse bem depressa, a fim de voltar logo para casa. Sr. José, perplexo, não sabia onde encontrar uma resposta para seus questionamentos.

Sem querer esgotar o assunto, arrisquei alguns palpites quando lhe disse que os métodos de ensino infelizmente não evoluíram. Os professores continuam dando aulas exatamente como faziam anos atrás. Lousa, giz, apagador... Aula expositiva.

Sr. José ficava fascinado com os livros e ensinamentos porque na época em que era criança não existia televisão nem computador. Uma carta demorava dias para chegar, e as pessoas achavam mágica poder falar com outras, tão distantes, através de um aparelho chamado telefone. Hoje em dia, não é mais assim.

Nossas crianças parecem nascer sabendo operar o forno de microondas. Elas mesmas esquentam seu leite e o tomam assistindo à tv. O controle remoto não apresenta mistério algum para elas, e mudam de canal com uma velocidade e destreza de fazer inveja a qualquer digitador experiente. No computador, visualizam em segundos inúmeras páginas de jogos, pesquisas, relacionamentos. São capazes de ouvir música, ler, conversar com amigos, e receber e.mails, tudo simultaneamente. A rapidez, o colorido, todo esse aparato tecnológico se faz presente nos lares e cativa nossas crianças, enquanto nossos educadores continuam a lecionar como no passado.

Nada estranho uma criança se queixar das aulas e desejar abandonar a escola. Ela encontra muito mais motivação fora que dentro da sala de aula. Mesmo os palestrantes atuais estão enfrentando sérios desafios para manter a atenção do público. Que diremos dos professores que precisam competir com a televisão e o computador? Será que estão sendo preparados para isso, ou amargam a frustração de não conseguirem manter a atenção em classe?

Não vai aqui nenhuma crítica ao professorado que mantém muitos verdadeiros heróis, mas às formas obsoletas de ensino, que não conseguem acompanhar a evolução dos tempos nem motivar os alunos ávidos por diversidade, velocidade, colorido. Mesmo os adultos já não se interessam em assistir uma preleção que não possua recursos audiovisuais. Numa época em que a neurolinguística nos revela a existência de pessoas auditivas, visuais e sinestésicas, precisamos urgentemente reformular os métodos de ensino, pois nossas crianças não querem apenas ouvir. Elas desejam também ver, tocar, cheirar, degustar e intuir o saber.

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br

Fonte: www.mariaregina.com.br

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