José Carlos Moutinho *
Com muito respeito às histórias em quadrinhos, nos perguntamos: quem vem lá, voando direto dos Estados Unidos da América do Norte, ou dos "States"? Será o Capitão América, o Superman ou o Homem de Ferro? Ah, é o Obama, um novo "herói americano". Mas ele é tão bem divulgado (nos televisores mundo afora) quanto foram os "heróis" mais antigos, sempre dispostos a mostrar a força anglo-saxônica daquele país do Norte.
Com certeza, Obama é um "herói" diferenciado, mas não tão diferente e menos desastroso que os demais (do Reagan e dos Bush). Trata-se de mais um herói comandado pela oligarquia estadunidense, sobretudo das corporações ávidas por se apossar do petróleo alheio. Na verdade, não sabemos ao certo se os EUA são um país, uma corporação ou um exército. Obama foi eleito com a imagem da mudança - Yes, we can -, mas nada mudou.
Hoje, o próprio cidadão estadunidense, a exemplo do que fez em Seattle (1999), está mobilizado para desvendar essa incógnita, como visto nas recentes manifestações em Wisconsin e em outros estados. O cidadão americano quer saber se os EUA ainda são deles, se seu voto tem valor, ainda que não obrigatório. Se são efetivamente representados pelo executivo, legislativo e os governadores ou se sua sorte dependerá unicamente das corporações. Na verdade, quem é o verdadeiro herói do povo americano, hoje?
O trabalhador estadunidense está mais uma vez sendo surrupiado, tendo seus direitos trabalhistas retirados, sofrendo cortes nos orçamentos sociais, entre outros, para que a corporação EUA cubra seus gastos em suas "heróicas" ações militares mundo afora. Obama não difere dos heróis que o antecederam - o Reagan e os Bush.
Sobre a sempre ameaçada soberania do Brasil nos setores estratégicos, como o petróleo, cabe lembrar que lideranças estão preparando mobilizações em defesa do nosso óleo negro, por diversos fatores. Obama, na verdade, dará prosseguimento à pressão dos lobistas defensores dos leilões do nosso petróleo.
Mal iniciou o governo Dilma, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) anunciou leilões do setor petróleo, inclusive em blocos do Pré-sal. E não é de se estranhar, pois já em 2010 os ministros Lobão e Dilma Rousseff (ela antes mesmo de ser oficialmente lançada candidata à presidência da República) visitaram os EUA em meio às discussões da nova legislação do setor petróleo, em função do Pré-sal descoberto pela Petrobrás. Reuniram-se com executivos brasileiros e norte-americanos, inclusive com o presidente Obama. O Pré-sal foi destaque na pauta de discussões.
Tal iniciativa preocupou muitas lideranças brasileiras, sobretudo pelo delicado momento pelo qual passava o país - a luta entre a legislação entreguista do nosso petróleo (Lei 9478/97) e uma nova legislação que devolva a soberania plena do Brasil no setor petróleo, proposta pelos movimentos sociais.
Especialistas brasileiros, defensores do retorno do monopólio estatal do petróleo e do uso estratégico e inteligente do Pré-sal e de outras áreas promissoras, há muito vêm alertando sobre os desequilíbrios da conjuntura internacional, notadamente em função do decréscimo das grandes descobertas de petróleo e da alta demanda pelo bem.
Há ainda uma interessante realidade: os países desenvolvidos, altamente poluidores, não são detentores de grandes reservas de petróleo. As grandes reservas estão nos países do chamado Terceiro Mundo, basicamente. Esses países, entre eles o Brasil, não podem doar esse bem energético para "alimentar" os países hegemônicos e do capitalismo selvagem, em detrimento de suas populações.
Em suma, Obama recuou em diversas medidas, não se diferenciando dos mandatários conservadores que o antecederam. E pelo visto está recuando ante o crescente movimento conservador naquele país anglo-saxão. A indecente prisão de Guantánamo e as beligerantes incursões militares permanecem intactas, quando ele prometia novas políticas. Para sustentar tal política externa, seu governo segue de "olhos vendados" para as agressões contra os direitos dos trabalhadores norte-americanos.
Se Obama não é um "bom herói" para os estadunidenses, assim como não foram Reagan e os Bush, entre outros, não podemos esperar que será para os demais povos, nem para o Brasil. Mas algumas autoridades brasileiras, com destaque para as do Rio de Janeiro, chegam ao cúmulo do entusiasmo de programar um evento na antológica Praça Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, com o dito "herói" que estará em visita ao Brasil com seus sapatos ensangüentados das guerras que ainda administra para os "heróis" anteriores.
É uma triste situação e que merece o repúdio do povo brasileiro. É incrível como essas personalidades tupiniquins se iludem com os EUA. A Praça Cinelândia merece respeito, pois foi um dos palcos de resistência à Ditadura Militar, arquitetada pelos EUA.
O nosso caminho deve ser negociar com eles soberanamente, de cabeça erguida, não baixa. E o mais importante é o fortalecimento da unidade sul-americana e das relações em toda a América Latina, no momento, a região mais exemplar do mundo.
Nesse sentido, caberá ao Brasil assinar urgentemente a integração oficial do país à União de Nações Sul-americanas (Unasul), que foi oficialmente constituída em Quito (Equador), no dia 11/3 último. Agora a Unasul tem personalidade jurídica e constitui um bloco político importantíssimo à região tenha mecanismos efetivos para evitar que siga sofrendo interferências estrangeiras que visam desestabilizar os países integrantes. A Unasul contribuirá para a consolidação da integração sul-americana, um sonho de Bolívar, de Abreu Lima, de San Martin, Che, Fidel e tantos outros.
* José Carlos Moutinho é jornalista.
Fonte: www.correiocidadania.com.br