Haiti recebe ajuda de missionários de São Paulo

Karla Maria

Há quatro meses em Walf Jeremie, membros da Missão Belém trabalham na construção de uma creche.

De volta ao Brasil, depois de 25 dias no Haiti, padre Giampietro Carraro, fundador da Missão Belém, em São Paulo, concedeu entrevista exclusiva ao jornal O SÃO PAULO. Encontramos o missionário às 11h do dia 19, no salão da Paróquia São João Batista do Brás, no centro. Ele falava para 34 missionários, na sua maioria jovens, gente simples no vestir e no sorrir. Padre Giampietro falava dos desafios encontrados em Walf Jeremie, Cite Soleil - um bolsão de pobreza com 800 mil pessoas no país caribenho, que teve seus problemas de infraestrutura intensificados depois do terremoto de 12 de janeiro de 2010.

Karla Maria - Como estão e qual o trabalho dos missionários neste momento no Haiti?
Padre Giampietro Carraro - Durante minha visita [de 1º a 25 de janeiro] encontrei os missionários tentando ajudar o povo, logo que chegaram se depararam com o cólera e ajudaram em um ambulatório. Estão em uma área de 30 mil barracos e não existe uma igreja, estamos tentando montar comunidades e a escola vai junto. Estamos lutando para isso. Estão morando no meio do povo, em uma tenda emprestada.

KM - O senhor acredita que será possível construir a creche ainda neste ano? Os recursos são suficientes?
Padre Giampietro - Ganhamos um terreno que dá para fazer 20 salas de 40 metros quadrados. O povo mostrou que tinha um terreno e fomos à prefeitura, assinamos o papel e pronto. Temos uma engenheira voluntária e dois empreiteiros italianos, estamos colocando as bases, estamos construindo em cima de um mangue. Prevemos que até junho ou julho ela já possa funcionar, mas há muita dificuldade, não tem água, não tem luz, então é necessário criar uma estrutura que se possa resolver esse problema. Não temos dinheiro, mas estou certo de que Deus vai providenciar.

KM - Com quais recursos o senhor conta para a construção dessa creche? [Segundo padre Giampietro a obra terá um custo de 500 mil reais].
Padre Giampietro - Além do dinheiro da Cáritas Arquidiocesana [Campanha SOS Haiti] contamos com o dinheiro vindo da Itália. Ainda estamos muito longe de cobrir as despesas, temos dinheiro para fazer as bases e o piso, depois Deus deve mandar o dinheiro para as paredes e para o teto.

KM - Enquanto a creche está em construção, qual tem sido o trabalho dos missionários?
Padre Giampietro - Na tenda emprestada em que estão morando, iniciamos nosso primeiro embrião já foram montadas e cada uma tem o custo de 2 mil e 200 dólares] de estrutura metálica com um tipo de madeirite reforçado, serão salas de 30 metros quadrados. Em 15 dias já estarão funcionando. Programamos que naqueles espaços as crianças recebam o banho e a alimentação junto com a mãe, que irá à aula de alfabetização, costura e catequese.

KM - Como a população tem reagido frente ao contexto político no Haiti?
Padre Giampietro - Olha, para falar a verdade, a nossa população não se preocupa muito com isso, porque a primeira preocupação é sobreviver. Todos estão desanimados, não veem muita perspectiva. O Haiti é uma caixinha de surpresa, é uma loucura; não se sabe o que pode acontecer amanhã, o Baby Doc voltou um mês atrás, está voltando o Aristides (ex salesiano), em seu mandato o vudu foi proclamado a religião do Estado, voltaram os sacrifícios humanos, houve muito roubo, corrupção.

Na tarde do dia 20 de fevreiro, Vanessa Matias dos Santos e Emanuel Messias Guedes, jovens da Missão Belém, foram enviados para reforçar o trabalho no Haiti. A data da viagem ainda não foi defi nida. Até o momento a Campanha SOS Haiti, da Cáritas Arquidiocesana, arrecadou cerca de 40 mil reais.

Fonte: jornal O S?O PAULO.

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