Maria e as missões

Orani João Tempesta *

O mês do rosário e das missões, outubro, nos encontra com várias comemorações marianas: Nossa Senhora do Rosário, de Nazaré, de Fátima, Aparecida, da Penha. A estrela da evangelização é para nós uma inspiração de nossa disponibilidade para levar Cristo ao mundo através do nosso "sim" ao Plano de Deus.

A Igreja, na sua essência missionária, tem na figura de Maria o seu protótipo, o modelo de como ser evangelizadora, de como levar a Boa Nova a todos, tendo em vista que Maria é grande missionária. Trouxe em seu ventre o Redentor da humanidade! Com sua intercessão, leva as pessoas a Jesus e O traz às pessoas, ou seja, por ela vamos até Jesus e Jesus vem até nós.

O mandato que a Igreja recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo para evangelizar consiste no anúncio do Evangelho, em primeiro lugar aos pobres, visando à salvação e à libertação total de toda pessoa humana. A incumbência da Igreja é o anúncio explícito do evangelho. Maria Santíssima foi aquela que, ao longo de toda sua existência, nada mais fez do que estar disponível a Deus. Sua vida foi pautada na obediência e fidelidade a Deus, numa atitude de total desprendimento e serviço a favor do Reino. Ela, portanto, é, sem dúvida, a figura na qual devemos espelhar em nossas orações, em nossas relações com Deus e em nossos trabalhos missionários.

O mês de outubro ajuda-nos a recordar o fundamental convite missionário de Cristo e da Igreja em cada comunidade e apoiar o trabalho de quantos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos trabalham nas fronteiras da missão da Igreja. O anúncio do Evangelho permanece o primeiro serviço que a Igreja deve à humanidade para oferecer a salvação de Cristo ao homem do nosso tempo, de tantas maneiras humilhado e oprimido, e para orientar em sentido cristão as transformações culturais, sociais e éticas que estão em ação no mundo.

O Papa Bento XVI, por ocasião do mês missionário, nos anima a sairmos do imobilismo e colocar a mão no arado do anúncio do Evangelho: "Caríssimos, neste Dia Missionário Mundial no qual o olhar do coração se dilata sobre os imensos espaços da missão, sintamo-nos todos protagonistas do compromisso da Igreja de anunciar o Evangelho. O estímulo missionário foi sempre sinal de vitalidade para as nossas Igrejas e a sua cooperação é testemunho singular de unidade, de fraternidade e de solidariedade, que nos torna críveis anunciadores do Amor que salva!"

"Como o "sim" de Maria, cada resposta generosa da Comunidade eclesial ao convite divino ao amor dos irmãos suscitará uma nova maternidade apostólica e eclesial (cf. Gl 4, 4.19.26), que, se deixando surpreender pelo mistério de Deus amor, o qual "ao chegar a plenitude dos tempos, enviou o Seu Filho, nascido de mulher" (Gl 4, 4), dará confiança e audácia a novos apóstolos. Esta resposta tornará todos os crentes capazes de ser "jubilosos na esperança" (Rm 12, 12) ao realizar o projeto de Deus, que deseja "que todo o gênero humano constitua um só Povo de Deus, se congregue num só Corpo de Cristo, e se edifique num só templo do Espírito Santo" (Ad gentes, 7)".

A Igreja, seus ministros, suas lideranças, os batizados, todos somos convocados e chamados a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários. Isso não depende tanto de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem essa tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu Reino, protagonistas de uma vida nova para uma América Latina que deseja reconhecer-se com a luz e a força do Espírito. Por isso, o estado permanente de missão, que é uma convocação de toda a Igreja na América Latina, à luz de Aparecida, tem por objetivo principal despertar e fomentar o ardor missionário em nossas comunidades. Como devotos de Maria, a Senhora dos mil nomes, em cada um dos títulos em que é venerada pelo nosso povo santo, nada mais justo e salutar do que não só imitá-la, mas colocá-la como patrona que nos ilumina no estado permanente de missão, a essência do discipulado e da missão da Igreja e de seus filhos.

* Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro.

Fonte: www.cnbb.org.br

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