Dia das crianças

Maria Regina Canhos Vicentin *

Disseram que vamos comemorar mais um dia das crianças. Mas, onde estão as crianças? Só vejo pequenos adultos, consumidores de produtos e brinquedos. Muitos batendo o pé e exigindo a satisfação de seus caprichos. Um dia comercial; impositivo, e frustrante para todos aqueles que não conseguem ter o que desejam. Alguns pais crêem que as crianças precisam ganhar presentes, e muitos publicitários os convencem disso através de propagandas maravilhosas. Logo cedo nossas crianças começam a acreditar que a felicidade está depositada em coisas que podem vir a ganhar ou adquirir. E os pais parecem pensar da mesma forma, tanto que se esforçam para comprar aquilo que foi solicitado, sacrificando-se até.

Penso que muito mais que presentes nossas crianças precisam é de atenção. Respeito que não as exponha ao trabalho infantil. Cuidados que não favoreçam sua exploração sexual. Amor que não espalhe manchas pelo corpo através da violência física. Afinal, dia das crianças é todo dia. E eu gostaria que realmente fosse um dia feliz para aquela criança que foi esquecida na escola ou dentro do carro. Também queria que fosse um dia feliz para aquela criança que foi espancada e sexualmente abusada. Acharia ótimo comemorar com as dezenas de crianças que fumam crack pelas ruas, e também com aquelas que furtam, roubam e se prostituem. Elas também são crianças e precisam comemorar o seu dia, mas o mundo parece não se importar muito com elas.

Nossas crianças não precisam só de presentes, embora a televisão insista que sim. Nossas crianças precisam de amor e atenção. Precisam da nossa solidariedade e compaixão. Não importa que não sejam nossos filhos, a responsabilidade também é nossa; é de todos nós. Se o período da infância encurtou, foi porque nós adultos deixamos isso acontecer. Permitimos que nossas crianças amadurecessem cedo demais, assim teríamos menos trabalho, certo? Errado! Temos mais trabalho agora, pois elas querem se drogar, fumar, beber e transar com onze anos de idade. E continuam sendo apenas crianças!

Quem roubou a infância delas? Acaso foram outras crianças ou os próprios adultos? Fui procurar alguns mimos para distribuir entre elas: meiguice, sonhos, inocência, acanhamento, confiança, afeição... Não encontrei; não havia esses carinhos à venda. Estavam esgotados. Como ninguém mais os procurou, com o tempo acabaram deixando de comercializar. Voltei de mãos vazias. Pedi a Deus, no entanto, que neste dia das crianças toque o coração dos adultos que roubaram os pequenos, para que devolvam tudo aquilo que lhes foi subtraído. Quem sabe assim, teremos um amanhã mais bonito e menos comercial.

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br

Fonte: www.mariaregina.com.br

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