IPS/Envolverde
A vida urbana e o acesso às tecnologias da informação abrem para as meninas e as adolescentes um leque de possibilidades: melhor educação, acesso a saúde e inúmeras ideias e habilidades novas. Ao mesmo tempo, implicam vários perigos. Um informe apresentado ontem pela organização humanitária Plan International conclui que tanto a vida nas cidades como o fácil acesso à Internet e a outros serviços de comunicação podem representar riscos significativos para as adolescentes.
Trata-se do quarto estudo da série "Porque Sou uma Menina: o Estado das Meninas do Mundo 2010" e tem o título "Fronteiras Digitais e Urbanas: as Moças em uma Paisagem Mutante". "A vida urbana e a tecnologia são dois terrenos de crescimento e oportunidades reais, mas isto também significa que as adolescentes e mulheres jovens podem estar em risco", disse à IPS a editora do informe, Sharon Gould.
A cada mês, as cidades do mundo em desenvolvimento aumentam em cerca de cinco milhões de pessoas, com a chegada de imigrantes das áreas rurais que aspiram uma vida melhor para eles e para as famílias que deixaram para trás. Estima-se que, até 2030, cerca de 1,5 bilhão de moças viverão em áreas urbanas.
As jovens que se mudam para as cidades têm mais probabilidades de ir à escola. Nos países em desenvolvimento, o comparecimento escolar pode ser até 37% maior para adolescentes entre 15 e 19 anos. O acesso aos serviços de saúde também é mais fácil, o que reduz as mortes maternas e melhora a compreensão da saúde sexual e reprodutiva. Estes benefícios estão acompanhados de riscos significativos: falta de moradia, superpopulação e saneamento de má qualidade, tudo leva a um aumento dos abusos físicos e sexuais contra as mulheres.
Naturalmente, o assédio sexual não é um fenômeno limitado às nações em desenvolvimento. Ruas, mercados e metrôs lotados dão aos homens a oportunidade perfeita de assediar as jovens impunemente. Na Holanda, 40% das mulheres ouvidas em uma pesquisa pela Internet disseram não se sentir seguras ao caminhar sozinhas à noite em suas próprias cidades. Os piores perigos enfrentam as moças que vivem em alguns dos assentamentos mais pobres do mundo ou nas ruas.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), dos cerca de cem milhões de menores de idade que vivem nas ruas das cidades de todo o mundo, aproximadamente 30% são meninas. Não surpreende que as adolescentes sem lar sejam as mais vulneráveis a serem forçadas ao trabalho sexual, a mendigar ou trabalhar de graça para fugir da pobreza.
"É fundamental garantir que as meninas tenham acesso aos muitos benefícios que uma cidade pode oferecer", disse Sharon. "Nas pesquisas feitas para o informe, os principais pontos em sua lista de melhorias eram melhor iluminação pública, transporte público mais seguro e mais pessoal de segurança", ressaltou.
Maior acesso às tecnologias da informação e comunicação pode ser uma das vantagens de viver em uma cidade. Um bom conhecimento dessas ferramentas é essencial para a maioria dos trabalhos, por isso a boa capacitação para as moças definitivamente melhora suas possibilidades de conseguir trabalho, saírem da pobreza e terem poder. Muitas organizações de mulheres também usam tecnologias como Internet, rádio e televisão para promover a igualdade de gênero, expor a violência contra as mulheres ou educá-las em matéria de saúde sexual.
Na medida em que a Internet e os demais meios de comunicação se tornam mais acessíveis e muitas vezes são requisito para encontrar um bom trabalho, é importante que adolescentes adquiram conhecimentos para usá-los de maneira segura, enfatiza o documento. Pela Internet, as adolescentes correm especial risco de entrar em contato com assediadores sexuais e de serem convencidas a conhecê-los pessoalmente, colocando-se, portanto, em uma situação muito perigosa.
Os potenciais perigos do ciberespaço fazem com que algumas famílias adiem o aprendizado das meninas em matéria de Internet ou a hora de dar um telefone celular. Embora isto possa protegê-las em parte do assédio sexual, impede que as meninas aproveitem plenamente as tecnologias da informação, o que lhes daria uma educação completa e permitiria que avançassem na vida, afirmam especialistas.
É importante fazer consultas às meninas e mulheres jovens sobre os intercâmbios que mantêm com outras pessoas na Internet, "não para superprotegê-las, mas para torná-las conscientes dos riscos e de como se protegerem deles", disse Sharon. O acesso às tecnologias da informação e da comunicação pode permitir que as mulheres tenham maior participação na vida de suas comunidades e de seus países, adquirir novas habilidades ou conhecimentos específicos que as ajudem a se proteger, por exemplo, do vírus HIV, causador da aids.
"Tanto a vida urbana como o acesso a tecnologias da informação deveriam dar às meninas maiores oportunidades, sempre e quando os riscos são abordados. Contudo, as barreiras da pobreza e das atitudes sobre o que é adequado para moças e moços significam que serão exigidos muitos investimentos nelas, tanto dentro como fora das famílias, para que se alcance uma verdadeira igualdade", disse Sharon.
Fonte: IPS/Envolverde