Reforma não atinge elite. Alguma novidade?

Por que a elite, mais uma vez, fica de fora das reformas no Brasil?

Por Jaime C. Patias *

As brechas de lei para si e os amigos e todo o rigor para os demais. Então vejamos.

Dias atrás, foram congelados os salários dos servidores públicos até o final de 2021. Mas, ao mesmo tempo, o governo concedeu aos militares o reajuste em penduricalho que custará R$ 26 bilhões em cinco anos. Para os servidores civis: congelamento e redução de salários. Para os militares, 26,5 bilhões na forma de um reajuste de até 73% em um benefício pago ao segmento nos próximos cinco anos, R$ 1,3 bilhão apenas até o final de 2020. Lembrando que os militares lotaram milhares de cargos que seriam dos civis neste desgoverno.

Os comentaristas de plantão pagos para defender o status quo saíram em defesa do governo. Já sabemos quem são, para quem trabalham e a quem servem. Pior que tem muita gente que acredita neles, mesmo sabendo que jogam contra.

Agora a reforma administrativa não atinge parlamentares, juízes e militares, e protege diplomatas e auditores. O governo alega que não tem poderes de propor mudanças de regras para os "intocáveis". Isso revela o quanto a sociedade e as instituições no Brasil são desiguais. Temos grupos corporativos legislando em causa própria e como lhes convém.

Em nenhum Estado de direito, classes, grupos ou segmentos deveriam legislar em beneficio próprio (fazer leis, definir seus salários e recompensas). Isso cria situações absurdas e inaceitáveis ao bom senso e à ética social. É só verificar os salários e penduricalhos dessa elite intocável: militares, juízes, desembargadores, promotores, deputados e senadores (estes tem direta ou indiretamente, a prerrogativa de decidir em causa própria). Nenhum destes privilegiados quer reformas. Todos se dizem a favor de reformas, mas apenas das reformas que mexam com os outros. Obviamente são os que mais pesam no bolso do contribuinte. Oh, "cidadão de bem" não caberia aqui uma reforma nessa "balburdia"?

Alguém poderia explicar com argumentos plausíveis por que o esforço (trabalho) de um ser humano é considerado superior (melhor) do que o esforço de outro ser humano vivendo na mesma sociedade?

Pode até haver alguma diferença de natureza técnica, mas como explicar aos cidadãos a razão para tantos privilégios? Não existe escrúpulo e nem vergonha. Tudo foi naturalizado. Uma sociedade própera é aquela que limita poderes, e não uma que distribui direitos e privilégios.

Essa injustiça brada aos céus e desumaniza o mundo, porque quem está apto a fazer as leis e as normas para todos, as faz em benefício de si e dos seus. As brechas de lei para si e os amigos e todo o rigor para os demais. As elites que temos são as reais e vivem de extrair muito de todos para manter seus privilégios. Então, a reforma mais importante e urgente deveria corrigir essa situação esdrúxula.

* Jaime C. Patias, imc, é Conselheiro Geral para o continente América.

Deixe uma resposta

20 − oito =