Guenter Francisco Loebens
Gunter Kroemer, de nacionalidade alemã, filho de Leo e Marie Kroemer, nasceu na Silésia, hoje pertencente à Polônia, no dia 10 de dezembro de 1939. Teve uma infância difícil no contexto da 2ª Guerra Mundial. Fez seus estudos de filosofia em Viena na Áustria onde iniciou também a Teologia, que continuou em Roma e concluiu no nordeste do Brasil, na época de Dom Helder Câmara. Sua vocação missionária o trouxe para o Brasil no final da década de 1960 sendo ordenado padre diocesano por Dom Alonso da então Prelazia de Diamantino no Mato Grosso, onde exerceu os primeiros anos de seu ministério junto a migrantes e indígenas.
Em 1978, foi convocado pelo Conselho Indigenista Missionário - CIMI para localizar um povo indígena em situação de isolamento ameaçado de extermínio pelas forças econômicas locais, na região do médio Rio Purus, na Prelazia de Lábrea, estado do Amazonas. Integrando uma equipe do Cimi e da OPAN (Operação Anchieta) participou do primeiro contato com o povo indígena Suruwaha em 1980, assegurando a integridade física e cultural desse povo e conquistando a demarcação de suas terras.
Com a convivência diária aprendeu a língua do povo Suruwaha e mediante a prática do diálogo intercultural e inter-religioso compartilhou sua experiência de fé cristã com a vivência religiosa daquele povo indígena. Como assessor teológico e antropológico do Regional Norte I colocou essa experiência a serviço da formação inicial e permanente dos missionários do CIMI e acompanhou por vários anos os cursos anuais de formação básica dos missionários em nível nacional.
Assessorou o GIPRAB - Grupo Indígena de Padres e Religiosos da Amazônia Brasileira - na busca por uma igreja sempre mais inculturada.
Com a perspectiva do fortalecimento do protagonismo indígena em todas as suas dimensões contribuiu com o processo de organização dos povos indígenas Jarawara, Apurinã, Paumari, Deni e Jamamadi do médio rio Purus/AM. Apoiou suas lutas para a garantia de direitos e para a conquista de políticas públicas específicas e diferenciadas em respeito as suas culturas.
Sua missão recente pelo CIMI, a qual dedicou seu tempo com abnegação, foi a de fazer levantamentos sobre a existência dos mais de 60 grupos indígenas isolados de que se têm notícias na Amazônia. Iniciou essa tarefa pelo sul do Estado do Amazonas, Rondônia e norte do Mato Grosso onde esses grupos estão mais ameaçados pelo desmatamento, grilagem de terras e ação de pistoleiros. Trilhou estradas e subiu rios e igarapés até os lugares mais distantes, colhendo informações e testemunhos das populações locais para que com base nelas pudessem ser exigidos das autoridades a proteção dos territórios desses povos e denunciada a destruição e morte provocada pelos grandes projetos que irresponsavelmente estão sendo retomados na Amazônia.
A Igreja Povo de Deus também pode contar com a contribuição de Gunter no apoio às Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Sua assessoria, inclusive era esperada pelo 12º Intereclesial em Porto Velho, ajudando na partilha das vivências religiosas das CEBs e das comunidades indígenas.
Parte de sua experiência de vida junto aos povos indígenas foi sistematizada por ele e encontra-se publicada em três livros: Cuxiuara - o Purus dos Indígenas; A Caminho das Malocas Zuruahá; e Kunahã Made - O povo do veneno.
Gunter fica assim na memória de todos nós que o conhecemos, pelos momentos intensos vividos com ele, por seu compromisso com a justiça e com o Evangelho da vida para a transformação da sociedade com a contribuição dos projetos de "bem viver" dos povos indígenas
* Guenter Francisco Loebens - Cimi Norte 1.