Egon Heck *
"Os humanos somos os únicos animais especializados no extermínio mútuo, e temos desenvolvido uma tecnologia da destruição que está aniquilando, de passagem, ao planeta e a todos os seus habitantes. Esta tecnologia se alimenta do medo. É o medo quem fabrica os inimigos que justificam a atuação militar e policial" ."(Eduardo Galeano- junho 2009)
Dourados, que tinha boa parte de suas elites econômicas e políticas se esmerando em suas posturas racistas contra os índios Kaiowá Guarani, enquanto se alimentava da indústria da morte, como proprietária com monopólio das funerárias da cidade. Várias personalidades dessa elite da cidade acabaram sucumbindo em sua própria lama. Enquanto dormiam em suas camas douradas pelo desvio de recursos públicos, foram surpreendidos pela operação da policia federal, Owari, que em japonês significa "ponto final". Foram presas 41 pessoas das quais 38 em Dourados, dentre eles o vice-prefeito, presidente da Câmara dos Vereadores. Conforme amplamente noticiado, a organização criminosa chefiada por Sizuo Uemura, deu um prejuízo de aproximadamente 20 milhões aos cofres públicos, nos últimos 40 anos.
Não poderão continuar dizendo que a cidade de Dourados e região ficaram tristemente conhecidos no mundo inteiro pelo genocídio a que estão submetidos os povos indígenas, com inúmeros assassinatos, homicídios, suicídios, mortes por fome e desnutrição das crianças, atropelamentos, mas que ali agia há 40 anos uma organização criminosa desviando dinheiro público.
Situação tétrica
Uemura mantém o monopólio no setor de funerárias na cidade. E por coincidência, ao lado da cidade está a aldeia mais numerosa do país, com 13 mil indígenas, vivendo em 3 mil e quinhentos hectares. É também a aldeia com maior número de assassinatos e suicídios, provavelmente de todo o país. Ali começa hoje um seminário sobre Segurança Pública nas aldeias. Conforme o procurado do Ministério Publico Federal, Dr. Marco Antonio, "a situação é trágica pois o índice de homicídios nas aldeias é de 100 por 100 mil habitantes. A média considerada trágica pela Organização Mundial de Saúde é de 10 casos em cada cem mil pessoas.
Em função do altíssimo índice de violência e mortes nas aldeias, num "vácuo de lei" pois apenas a polícia federal pode atuar nas terras indígenas, o Ministério Público Federal está tomando a iniciativa de debater o tema com as comunidades indígenas. Uma das sugestões seria a de haver um núcleo especial na polícia federal para atuar nas terras indígenas, com preparação adequada e condições de atuação efetiva. Outras sugestões vão no sentido de organizar um sistema de segurança comunitário.
Ninguém duvida de que a causa principal dessa violência seja a genocida negação e reconhecimento das terras Kaiowá Guarani. Ao mesmo tempo parlamentares do Estado continuam agindo no Congresso para impedir e dificultar o processo, propondo a submissão dos processos demarcatórios à decisão Congresso. Ao mesmo tempo estão anunciando a convocação de audiências públicas para criar palanques antiindígenas.
Esperamos que se caminhe rapidamente para a identificação, demarcação e devolução das terras-tekoha aos Kaiowá Guarani, como condição indispensável para começar a reverter as tristes estatísticas de violência nas aldeias e contra os direitos desses povos.
* Egon Heck, assessor do Cimi MS.