Roberto Malvezzi (Gogó) *
As caravanas das Comunidades Eclesiais de Base já se preparam para ir até Porto Velho, Rondônia, para o XII Intereclesial de CEBs. Jornada longa. Os ônibus da Bahia devem levar quatro dias de ida, sete dias em Rondônia e mais quatro dias de retorno.
Nossas comunidades vão assumir definitivamente a dimensão ecológica da fé, num mundo em convulsão, de tragédias dantescas, globais, como as enchentes do Nordeste, como as cem mil mortes em um único dilúvio em Mianmar. Estamos diante de um desafio planetário que se faz um desafio de fé.
O local escolhido para assumir e aprofundar essa causa é a Amazônia, símbolo maior da devastação que o ser humano provoca na natureza. Nos crimes contra a natureza nada se cria, na se perde, tudo se vinga. James Lovelock costuma dizer que esse não será o fim da humanidade e nem o fim da vida no planeta, mas será um planeta pobre, tórrido, eliminando cerca de 70% da vida, inclusive das vidas humanas. Depois de se reajustar, o planeta se reorganiza de outra forma.
Na humanidade resta pouca sensibilidade real contra a fome, a sede e as injustiças. Existe muito daquela boa vontade da qual o inferno está forrado. Só o caos ecológico pode ascender alguma reação humana. A elite mundial chegou ao paraíso e não está disposta a ceder nenhuma unha de seu bem estar ao restante da humanidade.
Nossas pequenas comunidades também já não têm o "apelo" que tinham antes, quando a opção pelos pobres era moda. Hoje o modismo eclesial é a fama, o sucesso, a movimentação milionária de produtos religiosos que fazem a fortuna de pessoas e instituições. Enfim, a tal teologia da prosperidade, tão ao gosto de setores pentecostais, tanto evangélicos como católicos. Mas, o Evangelho não está sujeito a modismos. A fidelidade aos pobres, à justiça, à partilha, à solidariedade, à fraternidade, independe das circunstancias.
Há um novo ar, uma nova clorofila, sendo respirados pelas CEBs. Eles vêm da ecologia. Muitos pastores católicos já entenderam e apóiam.
A sede de justiça é uma bem-aventurança particular das CEBs. Sem elas essa prática quase que desaparece da Igreja Católica.
De coração, desejo e peço a Deus que nossas comunidades sejam revigoradas na fé, na oração, na luta, no compromisso com a justiça e a ecologia. Serão nossa contribuição de cristãos conscientes, cidadãos, inseridos, numa crise civilizacional que já se faz presente, se aprofunda e sugere cenários terríveis.
Que Deus esteja com nossas comunidades em Rondônia. E estará.
* Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra.