Acalmando Tempestades

Paulo Bazaglia*

A fé dos discípulos é caracteriza da no evangelho com a pergunta: "Mestre, não te importas que morramos?" É pergunta que se ouve ainda hoje, com variantes: Por que Deus permite a miséria e o mal no mundo? Por que permite a doença e a morte de crianças inocentes? Por que não impede a violência e a injustiça que avassalam povos inteiros? E a ladainha poderia se estender...

Ao atravessar o mar para a terra dos pagãos, enfrentando águas tempestuosas, a barca representa a comunidade dos seguidores, ameaçada por novos ambientes e realidades. A tempestade são as provações, e é aí que se testam a fé e a confiança dos seguidores de Jesus. Tempestade são hoje as situações difíceis que enfrentamos, a exigir sempre novas respostas para sermos criativamente fiéis ao projeto de Jesus.
A certeza de que Jesus está conosco no mesmo barco, na mesma missão, é o fundamento de nossa fé. No caso dos discípulos, para acalmar a tempestade, seria preciso acordar o Mestre, que dormia? A reação de Jesus em relação a eles, depois de ter acalmado o mar, é de decepção e repreensão, pois, ao simplesmente jogar para ele a solução do problema, os discípulos demonstram ser medrosos e fracos na fé.

E nós, como enfrentamos as provações? Cremos que Deus nos acompanha no mar da história e tem poder e autoridade sobre todas as forças do universo, também sobre as ondas violentas que se levantam contra as comunidades? Nossa fé nos permite assumir com confiança a própria parte da missão e da história ou vivemos empurrando para Deus problemas cuja solução é responsabilidade nossa?

Com o amadurecimento da fé, as perguntas começam a mudar. Não cabe questionar por que Deus permite o mal no mundo, pois sabemos que ele é o Deus que sofre com os que sofrem, o Deus que conta conosco para continuar seu projeto de liberdade e vida. Ao mudar as ações, mudamos as perguntas. Como sentimos hoje a presença de Deus em nosso meio? Como assumimos a própria responsabilidade nos desafios e provações da missão?

* Diretor Editorial da Paulus, mestre em Sagrada Escritura.

Deixe uma resposta

nove − 8 =