A vida na intimidade Divina

Eurico dos Santos Veloso*

 Apóstolo Paulo, escrevendo aos fiéis de Colossos, exorta-os a viverem intensamente em constante união com Deus. Alíás em todas as suas cartas, não deixa de recomendar que todos vivam a vida do espírito. “A Palavra de Cristo habite em vós ricamente: com toda a sabedoria ensinai e admoestai-vos uns aos outros e, em ação de graças a Deus, entoem em vossos corações salmos, hinos e cânticos espirituais. E tudo o que fizerdes, fazei-o em nome de Jesus, por Ele dando graças a Deus, o Pai.(Col 3,16-17).

Concluído o ciclo da Páscoa, retomamos o tempo comum, o tempo da Igreja. O caminho para realizarmos a nossa páscoa definitiva, superando as agruras do tempo presente na vivência da fé. O tempo de levar a todos e a nós mesmos a realidade da redenção.

Temos contra nós e em nós as forças do Mal. O mesmo Apóstolo nos adverte que nosso combate não é só contra a natureza rebelde que herdamos de Adão, mas também contra o espírito do mal. (Ef. 6,12). Para vencê-las somente na força de Deus.

A vida de batizados, reafirmamos na celebração da Vigília da Páscoa, é uma vivência nas coisas celestes: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus.”(Col.3,1)

É a busca e a procura pela santidade: o amor de Deus e do próximo, que não se consegue por si, sem a ação do Espírito Santo em nós. Ele é quem nos santifica. Derramado em nossos corações, sentimo-nos, e realmente o somos, filhos de Deus e por ele clamamos: Pai.

Nesta intimidade da união com o Pai e com seus filhos, nossos irmãos, temos a paz que Cristo nos conquistou com sua morte, como pedimos no sacrifício eucarístico, quando rezamos: “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, daí-nos a paz”.

Santo Afonso de Ligório nos ensina que este caminho quer de nós a aceitação amorosa e generosa à Vontade de Deus: “O mais importante é fazer a Vontade de Deus, e nos revela que toda perfeição ou santidade consiste no amor a Deus, entretanto, toda a perfeição do amor consiste em conformar nossa vontade a Sua vontade , porque no dizer de São Basílio, “o efeito principal do amor é: unir as vontades dos que se amam de maneira que tenham uma só vontade”.

Não adiantam sacrifícios e holocaustos, como reza o salmo 40, mas sim, “Eis-me aqui – no rolo do livro está escrito a meu respeito: eu vim, ó Deus para fazer tua vontade” (Heb. 10,7).

Esta docilidade à Vontade de Deus, não como docilidade de ovelha, mas consciente, como Cristo na sua Paixão, conduz-nos a uma vida de oração íntima, sem palavras. Enamoramo-nos de Deus, como Francisco de Assis diante do Crucificado: ““Meu livro é Jesus Crucificado” e disse: “ Quem não se enamora de Deus, vendo Cristo morto na Cruz, não se abrasará jamais”.

A paz e a alegria brotam em nossos corações e em nosso lábios afloram os hinos de louvor e ação de graças e confiantes aguardamos o dia de nosso encontro definitivo com o Pai.

* Arcebispo emérito Juiz de Fora

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