FSM 2009: A participação dos missionários e missionárias da Consolata

Jaime Carlos Patias *

Depois de Porto Alegre ter sido a sede em 2001, 2002 e 2003, o Fórum Social Mundial - FSM migrou para Mumbai, na Índia, em 2004, retornando à capital gaúcha em 2005. No ano seguinte, o evento foi descentralizado e se realizou em três lugares: Bamako, em Mali, Caracas, na Venezuela, e Karachi, no Paquistão. Já a sua sétima edição, em 2007 foi realizada em Nairóbi, no Quênia. A dinâmica do Fórum suscitou uma série de atividades e iniciativas paralelas e ao mesmo tempo integradas, como por exemplo, o Fórum Mundial de Teologia e Libertação - FMTL.

Com mais de dois milhões de habitantes, Belém do Pará, a principal cidade da região amazônica, no norte do Brasil será sede, entre os dias 21 e 25 de janeiro do III FMTL e de 27 de janeiro a 1º de fevereiro, da 9ª edição do FSM, reunindo boa parte da população mundial que segue acreditando e sonha com um mundo justo, humano, equilibrado e ecológico e trabalha nas mais diversas frentes em favor dele. A secretaria do evento já recebeu mais de 80.000 inscrições. O poder público local e federal já investiu mais de 145 milhões de reais com obras para receber o Fórum em Belém. É importante esclarecer que o FSM não é uma entidade, nem uma organização, mas um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, trocas de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que trabalham para "outro mundo possível". Após sua 1ª edição em 2001, o FSM tornou-se um processo mundial permanente, de busca e construção de alternativas às políticas neoliberais. O evento se caracteriza também pela pluralidade e pela diversidade, tendo um caráter não confessional, não governamental e não partidário.

Movidos pelos mesmos ideais alguns missionários e missionárias da Consolata no Brasil, participam desse processo desde a sua origem. As decisões do XI Capítulo Geral do Instituto Missões Consolata - IMC, (São Paulo, 2005) sinalizam claramente que "além do anúncio aos não-cristãos, a pobreza urbana, as minorias étnicas, Justiça, Paz e integridade da criação e os novos areópagos são um desafio ao nosso empenho Ad Gentes. (cfr. XI CG nn. 23-32). O Capítulo confirma ainda que, "faz parte do nosso carisma a opção preferencial pelos pobres na sua situação de sofrimento, ânsia de justiça e caminhada de fé e de esperança" (XI CG 24). Uma das propostas operativas prevê que "as nossas comunidades apoiarão as iniciativas de Justiça e Paz e Integridade da Criação - JPIC promovidas pelo Instituto e colaborarão com outras entidades civis e religiosas que trabalham neste setor, como o Fórum Social Mundial e continentais". (XI CG, 76.6).

Nessa perspectiva as escolhas do Instituto estão em plena sintonia com a Carta de princípio do FSM e com os objetivos de ação traçados para a edição de Belém. Apenas para citar: "pela construção de um mundo de paz, justiça, ética e respeito pelas espiritualidades diversas, livre de armas, especialmente as nucleares; pela defesa da natureza (Amazônia e outros ecossistemas) como fonte de vida para o Planeta Terra e aos povos originários do mundo (indígenas, afrodescendentes, tribais, ribeirinhos) que exigem seus territórios, línguas, culturas, identidades, justiça ambiental, espiritualidade e bom viver", são dois dos dez objetivos do FSM 2009.

Em janeiro de 2007, em Nairóbi, os missionários e missionárias da Consolata reuniram, durante o FSM, os responsáveis pelo setor de JPIC atuando nas diversas circunscrições da África e os diretores das 13 revistas editadas pelos dois Institutos, para no espírito do evento, participar do II FMTL e caminhar em sintonia com os princípios defendidos pelas organizações e movimentos que participam do FSM. Dando continuidade a essa experiência, em 2009, os dois Institutos levam a Belém do Pará, cerca de 60 missionários e missionárias, entre religiosas, padres, leigos e leigas, ligados aos trabalhos de evangelização e promoção humana para participar do III FMTL e do VIII FSM. Teólogos, estudantes e professores, além de pessoas ligadas aos movimentos populares, pastorais e educação popular estão sendo esperados para as discussões teológicas a partir do tema "Água, Terra, Teologia - para outro mundo possível". A seguir, os participantes juntam-se às atividades do FSM.

Com o apoio da ONG Missionini Consolata ONLUS, missionários e colaboradores apresentarão projetos desenvolvidos em quatro países, com a participação das comunidades e em sintonia com a soberania dos povos e culturas, os direitos da pessoa humana, o respeito pela biodiversidade e a valorização das culturas como patrimônio da humanidade. As iniciativas incluem a resistência dos Povos Indígenas de Roraima no Brasil, a Escola de Perdão e Reconciliação - ESPERE e o projeto com o povo Nasa do Cauca na Colômbia, a captação sustentável de água na floresta de Mukululu, no Quênia e valorização da língua, arte e cultura do povo Macua em Moçambique. Com o título "Retratos da sabedoria de povos e culturas como garantia da sobrevivência do Planeta e da Humanidade", o Painel acontece nos dias 30 e 31 de janeiro, nas instalações da UFPA, Pavilhão Lp 2, Sala Lp 02, e faz parte do 6º eixo temático das atividades do FSM. Além disso, dois Estandes farão exposição de material e informações sobre o trabalho dos dois Institutos no mundo.

Conforme padre Antônio Fernandes, conselheiro Geral IMC, "a participação dos missionários e missionárias da Consolata em eventos dessa natureza, torna-se fundamental no caminho da 'Continentalidade' contribuindo para a construção coletiva da nossa Missão, em estreita colaboração com as demais forças em ação. A intensa programação nos oferece inúmeras possibilidades para aprofundar temas em debate na construção de um outro mundo possível e criar aliança com organismos e movimentos articulados". O objetivo do Painel sob a responsabilidade da ONG Missioni Consolata ONLUS é "socializar saberes e riquezas dos povos na convivência sustentável e harmoniosa entre si e com a natureza, dando visibilidade da sua contribuição como sujeitos de um outro mundo". Espera-se com isso, fomentar a reflexão e a troca de experiências como meios de luta pelo acesso responsável aos bens comuns da humanidade e da natureza. Com o mundo mergulhado em mais uma crise já estamos saindo da hegemonia total do neoliberalismo. Nesse sentido, o Fórum realizado no coração da Amazônia, ganha força na busca de alternativas.

* Jaime Carlos Patias, imc, diretor da revista Missões.

Informações: www.imconsolata.org.br/fsm2009
Site FSM: www.fsm2009amazonia.org.br

Fonte: Revista Missões

 

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