Jaime Carlos Patias *
A crise mundial e a resistência dos povos indígenas estiveram no centro dos debates da 9ª edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Belém do Pará, na amazônia brasileira. Desta vez, o Fórum aconteceu em um momento único onde a globalização neoliberal, dominada pelas finanças fora de qualquer controle público está em crise e vai perdendo sua hegemonia. Ao mesmo tempo, em Davos, o Fórum Econômico Mundial, reconhecia o fracasso e a descrença nos principais pilares do sistema, dando assim, maior confiança ao processo do FSM iniciado em 2001.
Um consenso parecia atravessar a maior parte das discussões em Belém: a crise financeira global deve ser pensada conjuntamente às crises energética, climática e alimentar. As consequências do projeto hegemônico geraram uma crise de sustentabilidade. É importante notar que, além das jornadas de lutas e ações globais muitas das reflexões realizadas nas reuniões do FSM são transformadas em decisões políticas. Apesar dos problemas na organização, o saldo final foi positivo. O mais importante de tudo é que, na atualidade, o FSM segue sendo uma das únicas propostas multissetoriais e internacionais com um projeto alternativo emergente. Para um mundo carente de iniciativas, esse é um fato extraordinário. Em relação às primeiras edições, o evento de Belém foi marcado por uma maior radicalidade nas análises e maior articulação entre movimentos. Há um consenso de que a definição de estratégias de luta social e política para a superação da sociedade do capital se faz mais urgente. Não se trata mais de salvar o sistema, mas de resolver os problemas da humanidade coordenando forças para sairmos da grave situação, ou possivelmente não teremos futuro. Um dos maiores desafios ainda enfrentados pelo Fórum é a sua comunicação com o mundo. Participar de um Fórum é uma coisa. Ouvir falar dele por outros ou pelos grandes meios de comunicação de massa é outra. A contradição é a de não se conseguir "comunicar" o que realmente acontece no evento, mesmo porque o próprio Fórum surgiu como uma operação de "contra-comunicação" frente ao Fórum Econômico. "Um outro mundo é possível" e não somente o do pensamento único de Davos. Apesar da presença de grande quantidade de jornalistas (4.500), o FSM é cada vez menos "relatado" pelos grandes meios de comunicação, que quando o fazem, não contam o que precisaria ser contado, mas ficam no lado folclórico que o evento proporciona. A saída é valorizar a mídia alternativa e a comunicação que cada participante faz no seu círculo de atuação. * Jaime Carlos Patias, imc, diretor da revista Missões. Participou em cinco edições do FSM. Fonte: Revista Missões |