Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, esse ano comemorado dia 23 de outubro.
de Redação
O papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, escrita dia 6 de janeiro de 2022, destaca como tema o versículo 8 do capítulo 1 do livro dos Atos dos Apóstolos “Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo”.
O papa lembra que nesse ano, o Dia Mundial das Missões proporciona algumas comemorações importantes para a vida e missão da Igreja: a fundação, a 400 anos, da Congregação de Propaganda Fide – hoje designada Congregação para a Evangelização dos Povos– e, a 200 anos, da “Obra da Propagação da Fé”; esta, juntamente com a Obra da Santa Infância e a Obra de São Pedro Apóstolo, a 100 anos foram reconhecidas como “Pontifícias”.
Voltando ao tema do Dia Mundial das Missões, o papa destaca três expressões-chave que resumem os três alicerces da vida e da missão dos discípulos: “Sereis minhas testemunhas”, “até aos confins do mundo” e “recebereis a força do Espírito Santo”.
“Sereis minhas testemunhas” – A chamada de todos os cristãos a testemunhar Cristo
É o ponto central, o coração do ensinamento de Jesus aos discípulos em ordem à sua missão no mundo. Todos os discípulos serão testemunhas de Jesus, graças ao Espírito Santo que vão receber: será a graça a constituí-los como tais, por todo o lado aonde forem, onde quer que estejam. Tal como Cristo é o primeiro enviado, ou seja, missionário do Pai (cf. Jo 20, 21) e, enquanto tal, a sua “Testemunha fiel” (Ap 1, 5), assim também todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, dando testemunho de Cristo. A identidade da Igreja é evangelizar.
Uma releitura de conjunto mais aprofundada esclarece-nos alguns aspectos sempre atuais da missão confiada por Cristo aos discípulos: “Sereis minhas testemunhas”. A forma plural destaca o caráter comunitário-eclesial da chamada missionária dos discípulos. Todo o batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: por isso a missão realiza-se em conjunto, não individualmente: em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria.
Em segundo lugar, é pedido aos discípulos para construírem a sua vida pessoal em chave de missão: são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e, sobretudo, para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e, sobretudo, para ser testemunhas de Cristo.
Por isso, na evangelização, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária. Este testemunho completo, coerente e jubiloso de Cristo será seguramente a força de atração para o crescimento da Igreja também no terceiro milênio.
“Até aos confins do mundo” – A atualidade perene duma missão de evangelização universal
Ao exortar os discípulos a serem suas testemunhas, o Senhor ressuscitado anuncia onde são enviados: “Em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” (At 1, 8). Aqui emerge muito claramente o caráter universal da missão dos discípulos. Coloca-se em destaque o movimento geográfico “centrífugo”, quase em círculos concêntricos, desde Jerusalém – considerada pela tradição judaica como centro do mundo – à Judeia e Samaria, e até aos extremos “confins do mundo”. Não são enviados para fazer proselitismo, mas para anunciar; o cristão não faz proselitismo. Os Atos dos Apóstolos narram-nos este movimento missionário: o mesmo dá-nos uma imagem muito bela da Igreja “em saída” para cumprir a sua vocação de testemunhar Cristo Senhor, orientada pela Providência divina através das circunstâncias concretas da vida. Com efeito, os primeiros cristãos foram perseguidos em Jerusalém e, por isso, dispersaram-se pela Judeia e a Samaria, testemunhando Cristo por toda a parte (cf. At 8, 1.4).
Algo semelhante acontece ainda no nosso tempo. Por causa de perseguições religiosas e situações de guerra e violência, muitos cristãos veem-se constrangidos a fugir da sua terra para outros países. Estamos agradecidos a estes irmãos e irmãs que não se fecham na tribulação, mas testemunham Cristo e o amor de Deus nos países que os acolhem. Com efeito, experimentamos cada vez mais como a presença dos fiéis de várias nacionalidades enriquece o rosto das paróquias, tornando-as mais universais, mais católicas. Consequentemente, o cuidado pastoral dos migrantes é uma atividade missionária que não deve ser descurada, pois poderá ajudar também os fiéis locais a redescobrir a alegria da fé cristã que receberam.
A indicação “até aos confins do mundo” deverá interpelar os discípulos de Jesus de cada tempo, impelindo-os sempre a ir mais além dos lugares habituais para levar o testemunho d’Ele. Hoje, apesar de todas as facilidades resultantes dos progressos modernos, ainda existem áreas geográficas aonde não chegaram os missionários testemunhas de Cristo com a Boa Nova do seu amor.
“Recebereis a força do Espírito Santo” – Deixar-se sempre fortalecer e guiar pelo Espírito
Ao anunciar aos discípulos a missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça para uma tão grande responsabilidade: “Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). Com efeito, segundo a narração dos Atos, foi precisamente a seguir à descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus que teve lugar a primeira ação de testemunhar Cristo, morto e ressuscitado, com um anúncio querigmático: o chamado discurso missionário de São Pedro aos habitantes de Jerusalém. Assim começa a era da evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus, que antes apareciam fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo fortaleceu-os, deu-lhes coragem e sabedoria para testemunhar Cristo diante de todos.
Como “ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ senão pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3), também nenhum cristão poderá dar testemunho pleno e genuíno de Cristo Senhor sem a inspiração e a ajuda do Espírito.
Quando nos sentirmos cansados, desmotivados, perdidos, lembremo-nos de recorrer ao Espírito Santo na oração, para nos deixarmos restaurar e fortalecer por Ele, fonte divina inesgotável de novas energias e da alegria de partilhar com os outros a vida de Cristo. “Receber a alegria do Espírito é uma graça; e é a única força que podemos ter para pregar o Evangelho, confessar a fé no Senhor” (Francisco, Mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 21/V/2020). Assim, o Espírito é o verdadeiro protagonista da missão: é Ele que dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma.