Nos últimos anos os Missionários da Consolata na Espanha procuravam maior envolvimento no trabalho de acolhida aos imigrantes. Após um processo de discernimento e estudo, a congregação prepara a abertura de uma comunidade em Oujda, no Marrocos, conforme relata o Padre Edwin Osaleh, IMC, missionário queniano em Málaga.
Por Edwin Osaleh *
Na Igreja Cristo Rei em Málaga, o trabalho pastoral e o envolvimento com a “Plataforma de Solidariedade com os Imigrantes” abriu caminhos para investigar mais sobre o trabalho com outras forças e em outros lugares de mobilidade humana. No Marrocos, foram consideradas as cidades fronteiriças de Ceuta, Melilla, Nador e Tânger, conforme indicações da Conferência de 2018 dos Missionários da Consolata na Espanhola e do Conselho Continental da época.
A escolha de oujda
Com alguns colegas padres e leigos, participei de três visitas a essas cidades, após as quais recebemos uma proposta do Cardeal Cristobal Lopez, bispo de Rabat, que nos convidou a trabalhar com imigrantes em Oujda (Uchda, em espanhol), cidade no extremo leste de Marrocos, a cerca de 15 km da fronteira com a Argélia e 60 km ao sul do Mar Mediterrâneo.
Com uma área de cerca de 1.000 km2, Oujda é a capital da Região Leste, um dos 12 territórios administrativos do país. É um lugar de passagem para muitas pessoas de vários países da África Subsaariana, que pretendem chegar à Europa, depois de terem atravessado o deserto e sofrido várias dificuldades. A língua oficial é o árabe, mas também se fala francês para além de Dariya, uma variante do árabe.
Segundo o Cardeal Cristobal, como uma “Igreja Samaritana”, a paróquia de Saint Louis sentiu o dever de acolher as pessoas que bateram à sua porta pedindo ajuda. E há mais de dois anos que o pároco, Padre Antoine Exelmans, sacerdote francês fidei donum e atual Vigário Geral da diocese, organiza esta atividade seguindo as orientações do Papa Francisco: “acolher, proteger, promover e integrar” os imigrantes.
Na paróquia, uma igreja do século XX, é oferecido durante todo o ano um serviço de acolhida de emergência para migrantes em situação de vulnerabilidades. Todos os anos passam por aqui cerca de 1000 pessoas, mas no ano 2020 já passaram mais de 2000 pessoas. São praticamente todos subsaarianos: mais de 80% são da Guiné Conacri, e outros dos Camarões, Sudão, Madagáscar, etc. Muitas das pessoas acolhidas são menores de idade.
O Conselho da Região IMC da Europa (REU) pediu-me para coordenar o processo e a eventual presença em Oujda. Após vários meses de correspondência com o bispo de Rabat, cheguei na cidade no dia 3 de novembro e após alguns dias de estudos organizado pelo próprio bispo sobre a realidade de Marrocos e da Igreja na região. Desde o dia 12 de novembro me encontro na Paróquia Saint Louis para preparar a abertura da comunidade nesta nova missão em Oujda, a 530 km de Rabat, sede da arquidiocese.
Os princípios orientadores da presença dos missionários da Consolata em Oujda deverão ser:
Fraternidade
Embora eu já tivesse visitado este lugar no ano passado, desta vez o Padre Antoine me disse, antes de eu viajar que se trata de “uma realidade desconfortável”. Concordo que seja uma bela experiência de vida de fé e fraternidade, partilhando quase todos os espaços da casa paroquial. O Projeto Missionário Continental (PMC Europa) nº 86.2, encoraja a: “conhecer profundamente a realidade desde o local e fazer escolhas corajosas de presenças”.
O que se vive aqui é uma fraternidade também na sua beleza vivida na relação ao mesmo tempo ecumênica e inter-religiosa, “automática” e pacífica em Marrocos, um país onde mais de 98% da população é praticante do Islão. O Rei de Marrocos, Mohamed VI, sublinhou ao Papa Francisco durante a sua visita apostólica ao país em março do ano passado que “as religiões abraâmicas existem para se abrirem e conhecerem-se mutuamente, numa corajosa competição para fazerem o bem umas às outras”.
Conexão
A partir da apresentação acima, é clara a relação entre a nossa presença em Marrocos e a Europa, particularmente a Espanha, com a nossa comunidade de Málaga. Devido ao nosso envolvimento com as migrações e ao processo que culmina na nossa instalação aqui, considero esta presença como uma extensão da comunidade de Málaga onde trabalham juntos, padres e leigos missionários da Consolata.
Itinerância
Esta é a característica chave do fenômeno das migrações. Portanto, ninguém sabe quanto tempo a nossa presença aqui irá durar. Esta presença implica também uma certa “itinerância mental”, ou seja, flexibilidade. É uma missão dinâmica, correspondente à natureza do próprio fenômeno, susceptível às mudanças devido a fatores sociopolíticos, etc. Além disso, é essencial tecer redes de colaboração com a nossa comunidade em Málaga e com toda a nossa Região IMC Europa, bem como, com toda a congregação. É claro que podemos contar com a contribuição de organizações eclesiais e civis.
Evangelização
Sabemos que “a Boa Nova é a essência e o conteúdo de tudo o que somos e fazemos como missionários” (PMC No. 86.1). Parafraseando o Bispo Emérito de Rabat, Dom Vincent Landel, “os cristãos são o único Evangelho que muitos muçulmanos leem”. A Conferência Episcopal da Região Norte de África (CERNA) na sua carta pastoral de 2014 reconhece a presença da Igreja nestas terras como “servidora da esperança” e por isso convida-nos ao “apostolado do encontro”, como Maria, nestes “encontros de humanidade”.
A presença pastoral aqui inclui também o acompanhamento da comunidade cristã de cerca de 50 paroquianos, a maioria dos quais são estudantes subsaarianos, bem como funcionários diplomáticos, turistas, etc. Espero que pelo menos mais dois dos meus coirmãos se juntem a nós para este trabalho.
Na sua mensagem para o IV Dia Mundial do Pobre, o Papa Francisco convida-nos a chegar até os pobres (cf. Sir 7:32), recordando que “manter os olhos nos pobres é difícil, mas muito necessário para dar à nossa vida pessoal e social a direção certa”. Queremos contar com a colaboração de todos e com a intercessão de Nossa Senhora de Marrocos. Que a sabedoria do Senhor esteja conosco.