Em março de 2018 se realizará o Fórum Social Mundial, em Salvador, Bahia.
Por Selvino Heck*
Os tempos são nervosos, escuros, imprevisíveis. Sabe-se lá o que vai acontecer nos próximos dias, semanas, meses, mesmo anos. É preciso horizontes, é necessário caminhar para algum ponto no futuro que possa dar sentido e esperança. Todos os deuses, santos e orixás baianos, brasileiros, latino-americanos e do mundo inteiro estão convocados e deverão estar a postos, presentes e atuantes em março de 2108. É quando acontecerá, de 14 a 17, o Fórum Social Mundial, em Salvador, Bahia, Nordeste.
Não serão, com certeza, dias quaisquer. Diz o Coletivo baiano, organizador do Fórum: “Resistir é criar. É provocar o novo, em busca da retomada do pensamento e das práticas utópicas como também da mudança do curso da história. As organizações e movimentos baianos estão conscientes da ousadia da sua proposta.”
O tema geral do próximo Fórum é: Resistir, criar; Resistir, Transformar. O eixo político é: “Dos povos, Movimentos e Territórios em Resistência”. Será um momento único, em tempos em que, em todo mundo, as forças conservadoras ganham terreno, o capital financeiro espalha desigualdade, as guerras e os assassinatos coletivos ocupam o cotidiano, o individualismo campeia, as mudanças climáticas atingem e assombram todas e todos, governos dilapidam direitos e pisam na democracia.
A contracorrente dos que sonham com igualdade, com justiça social, com solidariedade, com fazer coletivo, com amor e tolerância, precisa fazer-se ouvir, dar as mãos, exaltar a democracia, estar aberto a ouvir as vozes, os gritos, as necessidades de homens, mulheres, plantas, animais, e de todos os seres vivos, na construção de uma sociedade de liberdade, fraternidade, de uma sociedade do Bem Viver.
Boaventura de Sousa Santos disse recentemente, em debate na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que a urgência é “democratizar a revolução, revolucionar a democracia”.
Ninguém sabe o que vai acontecer e como será atravessar o que resta de 2017, nem como vai se chegar - com que ânimo e espírito, com qual governo, onde estará a democracia? - em 2018. Tudo é imprevisível, é tudo incógnita, até mesmo o inesperado é possível. Como acaba de acontecer na Inglaterra, quando eleições convocadas para fortalecer o poder conservador deram resultado ao contrário, a voz do povo inglês dizendo que não quer o neoliberalismo feroz e excludente.
A urgência imediata no Brasil são as Diretas Já (jamais pensei que, mais de 30 anos depois, quando, em 1984, falei no comício de mais de 100 mil pessoas no Largo em frente à Prefeitura de Porto Alegre em nome da Pastoral Operária, hoje, 2017, eu fosse repetir de novo o grito DIRETAS-JÁ!). Até março do ano que vem, milhares, milhões continuarão indo às ruas brasileiras, não só protestando, mas também dizendo o que querem, o que precisam, o que pretendem construir, qual o sonho, qual a utopia.
A Frente Brasil Popular já lançou um Programa Popular de Emergência, que é disso que se trata neste momento da história. Democracia, nenhum direito a menos, diminuir a violência e a mortandade de jovens, especialmente negros, preservar a vida e a sobrevivência minimamente digna dos mais pobres e dos milhões de desempregados.
O Fórum Social Mundial na Bahia, talvez na antevéspera de uma eleição geral e presidencial a mobilizar corações e mentes, deverá ser uma celebração e um grito de paz e esperança de todas as cores, de todos os credos, de todas as etnias, todas as vozes, como aliás, sempre faz e costuma ser o povo baiano, recebendo brasileira e latino-americanamente os povos do mundo e dizendo: não é mais tempo nem há mais espaço para o ódio, a intolerância, o preconceito, a falta de humanidade, a injustiça, a ausência de democracia.
Resistir é criar, resistir é transformar. Um outro mundo é possível, urgente e necessário.