Roberto Malvezzi (Gogó) *
Temos o costume de inventar uma data referencial para centenas ou milhares de assuntos, pessoas, eventos que são importantes para o conjunto da humanidade. Uma dessas datas é o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Convenhamos que a dedicação de inúmeras pessoas mundo afora ao tema não é coisa de um dia por ano. Há gente pagando com a própria vida a defesa de um ambiente propício à vida de todos. É um paradoxo, dar a própria para que outros tenham vida. Mas, os cristãos entendem perfeitamente o que essa expressão quer dizer. Aí estão nossos mártires dessa causa como Chico Mendes, Ir. Dorothy e tantos outros movidos pelo amor à vida.
Essas datas, porém, tem o dom de chamar a atenção para essas questões cruciais. Ser consequente com o que lemos, debatemos e nos propomos a fazer posteriormente - seja como pessoa, grupo, comunidade ou humanidade - é sempre um passo que só a história pode contar.
O fato é que nossa Terra apresenta sinais de cansaço, como um animal acuado que aos poucos se torna violento, podendo partir para cima de seu agressor e até exterminá-lo.
Uma das reações da Terra, tão alertada por inúmeros cientistas, é que Ela reagirá cada vez mais com fenômenos extremos, como secas, enchentes, furacões, calor intenso, nevascas inimagináveis, assim por diante. Esses fenômenos, mesmo em território brasileiro, são cada vez mais agressivos e apavorantes.
Francisco e a ecologia
O problema é que não sabemos exatamente onde vamos parar. Os cientistas fazem cenários sobre o futuro, mas, sobre uma mesma realidade, às vezes fazem dezenas de cenários. Nunca sabemos qual dele será e nem mesmo se será um deles. Relembro aqui cenários sobre a nossa região semiárida brasileira, com temperaturas mais altas, menos disponibilidade de água, perda de solos agrícolas, expansão das áreas desertificadas e tantas tragédias socioambientais a mais.
Notícias nos dizem que o papa Francisco está por lançar um documento importantíssimo sobre a questão ecológica. Há quanto tempo a Igreja nos deve um posicionamento claro sobre essa questão! A esperança é que ele já venha carregado de tantas lutas e reflexões das igrejas locais e de tantos amantes da defesa do ambiente.
Afinal, nas bases, já estamos presentes nessa realidade há muitas décadas. Para nós é a defesa da criação, do dom de Deus, o qual temos a obrigação de "cultivar e guardar" (Gn 2, 15). Portanto, não é começar, mas continuar e aprofundar. Quem sabe o documento do papa venha como um novo sopro do Espírito para que sejamos capazes de renovar a face da Terra.
* Roberto Malvezzi (Gogó) é agente da Comissão Pastoral da Terra, Juazeiro, BA.
Fonte: Revista Missões