Nei Alberto Pies *
"A melhor forma de viver é lançarmos nossas próprias decisões e seguirmos nossas próprias convicções. Cada qual deve sentir-se livre para ser o que é". (Daisaki Ikeda)
Como educador, já vivi muitas experiências significativas. Uma das últimas foi ouvir experiências de protagonismo juvenil, relatadas por jovens estudantes, numa sala de aula do Ensino Médio Politécnico. Tales, Henrique, Gabriela, Anderson e Simone são jovens que resolveram agir para melhorar a nossa cidade de Passo Fundo. Ambos agem com a convicção de que não basta reclamar, que é possível mudar o mundo a partir de nosso mundo pequeno (da família, da rua, da escola). Eles resolveram fazer história.
Podemos esperar desânimo, descrédito e preguiça dos adultos para mudar a realidade, mas quando a maioria jovem se acomoda estamos numa sociedade doente e alienada. O jovem se manifesta muito, mas age pouco. Vemos a juventude agir digital e virtualmente, mas é fato que a vida e as relações humanas se fazem na rua, no contato, na prática cotidiana de viver a cidadania e a democracia. Em outras palavras, para além de nos comunicar, precisamos nos encontrar em relações de face a face, reais e contraditórios como somos.
A natureza da juventude é a rebeldia. A rebeldia é a atitude saudável da juventude. Todos os jovens desejam mudar o mundo, mas apenas uns poucos fazem algo para mudá-lo. A maioria prefere reclamar, mas não toma atitudes que sejam capazes de desencadear e provocar reações de mudança em toda sociedade.
Os jovens realizam intervenções urbanas em nossa cidade, chamando atenção para o lixo no chão, para a correria cotidiana da cidade, para a necessidade de boas motivações para viver e sonhar. Organizam ações de "Amor no Cabide", distribuindo roupas pelas praças para quem precisar usá-las. Praticam o amor ao próximo e a verdadeira solidariedade. Organizam intervenções que permitam aos cidadãos passofundenses viver uma atmosfera mais vibrante com música, arte, entretenimento e diversão.
Tales escreveu para não esquecer, de falar. Escreveu para pensar melhor, mas esqueceu de consultar a folha na qual havia impresso as suas ideias na hora de falar. Esqueceu a folha em cima de uma classe. Na folha, o jovem explica suas razões de agir. Conta que estudou em escola pública há 2 ou 3 anos atrás. Tomei posse da folha copiei: "...eu estudava no Cecy, eu já pensava que durante nossa jornada no Planeta Terra temos um propósito, precisamos fazer algo que seja bom, que ajude as pessoas, que mude o mundo, não necessariamente o mundo inteiro, mas o mundo em que nós vivemos , o mundo dentro da escola, o mundo dentro da família, o mundo dentro do bairro em que a gente vive. Não precisamos de muita coisa para fazer isso, simples ações podem mudar muito o dia ou o futuro de alguém".
Foi pura intuição minha convidá-los e juntá-los para uma conversa com estudantes do Ensino Médio Politécnico da Escola Estadual Professora Eulina Braga. Foi uma experiência rica de trocas de vivências e de saberes. Ficou o desafio dos próprios jovens da escola bolar alguma ação na escola, na rua ou na cidade. Ou não: cada jovem estudante pode começar a mudar primeiro seu próprio mundo.
Os professores estudam a juventude. Leem sobre a juventude e estão desafiados a entendê-la. Precisam oportunizar espaços para reflexão que leve ao protagonismo e a vivência da cidadania juvenil. Quando os jovens desejam protagonizar estão dizendo "eu faço acontecer". Quando os professores abrem as salas de aula para que os jovens conversem entre si passam a mensagem de que estes façam e aconteçam. O pacato, pessimista e desacreditado mundo de hoje precisa da força jovem para promover as verdadeiras mudanças.
* Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
Fonte: Revista Missões