Pela qualidade, não pela quantidade

Marcus Eduardo de Oliveira *

Aprendamos a desejar outro modo de vida que passe, primeiramente, pela necessidade de salvar o planeta Terra. Sonhemos com um mundo em que a prosperidade dos homens não esteja centrada na aquisição material, mas sim nas coisas mais simples como respirar ar puro, beber água potável, colher um fruto amadurecido, receber o vento no rosto para, apenas diante disso, perceber como vale a pena viver, como muito bem asseverou Fernando Pessoa.

Deixemos de lado a economia da destruição e rumamos na direção segura de uma economia ecológica, que faz da preservação do meio ambiente condição necessária e imprescindível para se atingir bem-estar e equilíbrio em todas as variantes.

Centremos nossos esforços para tudo aquilo que confere valor à vida: a preservação do espaço natural, das espécies vivas, a contemplação e reverência em todas as dimensões da Mãe Natureza, o viver de forma moderada, consumindo somente o necessário, abandonando, pois, o supérfluo, praguejando sistematicamente contra o desperdício, males esses que "alimentam" a cultura da destruição do mundo, que consubstanciam a sociedade de consumo que faz com que, nas palavras de Juliet Schor, a felicidade e a qualidade de vida sejam associadas, reduzidas e dependentes da quantidade de consumo, provocando um ciclo de supertrabalho para manter um superconsumo ostentatório, que reduz o tempo dedicado ao lazer e às demais atividades e relações sociais.

Saltemos para outra direção: a de uma vida vivida sob a regência das leis da natureza, e não as do mercado, para que saibamos, ao certo, valorizar o canto dos pássaros, e não o som das buzinas no caótico trânsito de nossas grandes cidades.

Deixemos do lado de fora, em qualquer esquina do mundo, esse modelo econômico ora dominante e influente que somente enxerga valor ao aspecto monetário, às finanças, às cotações nas bolsas de valores, à produção excessiva, à produtividade, ao luxo, ao desperdício, a opulência, ao hedonismo.

Em lugar de tudo isso, construamos novos modelos econômicos que sejam caracteristicamente solidários, participativos e inclusivos, que priorizem o patrimônio ecológico, reconhecendo a natureza como suporte (base) da atividade econômica e que, por isso, faça a nossa aproximação junto aos laços que embelezam a vida, que promovam harmonia, afetividade, solidariedade, numa relação de contemplação do homem e a natureza.
Saibamos administrar algumas pré-condições econômicas que certamente facilitarão nossa caminhada rumo a um mundo melhor, onde os modelos econômicos procurarão atingir menos produção superflua e mais proximidade; menos produção material artificial e mais proteção em todos os sentidos; menos crescimento perfunctório e mais preservação; menos mercadorias fúteis disponíveis e mais bem-estar; menos abundância material dispensável e mais abundância de sentido, de plenitude.

Não sejamos obececados pela quantidade, mas sim pela qualidade. Pela qualidade da vida, do viver, do sentir, do contemplar a amizade, a reciprocidade, o afeto entre os pares.

Sejamos conhecedores de que o mundo é limitado em matéria de recursos e que não irá, em hipótese alguma, aumentar de tamanho. Que saibamos, ademais, abandonar essa sociedade de consumo evidenciada, a todo instante, num consumo total da economia humana que execede a acapacidade de reprodução natural e assimilação de rejeitos da ecosfera, enquanto fazemos uso, nas palavras de Fátima Portilho, das riquezas produzidas de uma forma socialmente desigual e injusta.

Não percamos de vista que a nossa imaginação não tem limites, pois é assim, sem limites para imaginar um mundo novo que iremos construir um novo modo de viver. Tenhamos noção de que nada permite esperar que os processos tecnológicos façam milagres e mudem o atual estado de escassez de recursos para o de abundância.
Se o desenvolvimento, na acepção do termo, tem alguma finalidade ímpar, daquelas consideradas imprescindíveis, certamente essa é a de promover o progresso do homem em todas as suas dimensões. Para se chegar a isso, é de fundamental importância, antes, proteger a natureza, pois, isso implica, antes ainda, proteger o homem.

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo.
prof.marcuseduardo@bol.com.br

Fonte: Revista Missões

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