Ataques israelenses resultam na morte de civis palestinos e provocam repúdio internacional

Paulo Emanuel Lopes

12 de junho de 2014. O sequestro de três adolescentes israelenses na Cisjordânia aumenta as tensões em uma relação já conturbada entre vizinhos fronteiriços. Dezoito dias depois os corpos dos jovens são encontrados, e Israel acusa o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Poucas horas depois, um jovem palestino é sequestrado em Jerusalém. Seu corpo é encontrado queimado horas depois. Seis judeus israelenses foram presos acusados do crime.

Mesmo sem apresentar provas do envolvimento entre o Hamas e o sequestro dos jovens, Israel passa a reprimir fortemente o grupo islâmico, levando à prisão vários membros. O Hamas responde com o lançamento de foguetes às regiões sul e central do país judaico que, mesmo sem deixar mortos ou grandes prejuízos materiais, representa um grande risco à população civil israelense.

Reinicia-se a escalada da violência, cuja "paz" vinha sendo mantida desde o acordo de cessar-fogo celebrado em 2012, com intermédio do chanceler egípcio Mohammed Kamel Amr. Naquele período, o conflito de oito dias deixou um saldo de 159 mortos entre a população da Faixa de Gaza.

Operação Fronteira Protegida

Na terça-feira, 8 de julho, o exército israelense iniciou a operação "Fronteira Protegida", com o objetivo de destruir alvos emissores de foguetes. Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel, desde o dia 12 de junho deste ano, mais de 240 foguetes foram lançados a partir da Faixa de Gaza dirigidos a alvos israelenses.

Entretanto, a desproporção da força militar empregada por Israel, além do ataque indiscriminado a alvos civis palestinos, vem descredenciando junto à opinião pública internacional uma possível "legitimação" do ataque judaico.

Em Rafah, na região sul da Faixa de Gaza, um bombardeio israelense matou cinco membros da mesma família. Na manhã desta sexta-feira, 11, dois palestinos foram mortos em um bombardeio israelense contra um veículo em que se encontrava em Al-Bureij, campo de refugiados no centro de Gaza. De acordo com organizações humanitárias, cerca de 300 casas da região foram destruídas por conta dos bombardeios, deixando um saldo de, pelo menos, 2 mil refugiados.

Entre as acusações dos defensores dos direitos humanos está o fato de que Israel não enviou alertas para os ataques, o que impactou o número de vítimas civis. Em quatro dias de ofensiva israelense, o número de mortos já chega a 100, com cerca de 675 feridos. Do lado de Israel apenas três atingidos, um deles "gravemente" ferido.

"América Latina em Gaza"

O delegado e representante do Escritório Latino-Americano da Federação Geral de Sindicatos da Palestina e Faixa de Gaza (PGFTU Gaza strip), Abu Faisal Sergio Tapia, clama às organizações sociais, sindicais e políticas do continente por um pedido de solidariedade através da campanha "América Latina em Gaza".

O objetivo é aumentar a pressão internacional para que Israel interrompa os ataques ao povo palestino, que estaria sendo massacrado "diante dos olhos do mundo". Bloqueada desde 2007, e totalmente nos últimos meses, a Faixa de Gaza, com uma população de 1 milhão e 800 mil pessoas (80% das quais situada na linha de pobreza), corre o risco de se converter no "maior campo de concentração de refugiados no mundo."

Até o fechamento desta matéria, alguns países latinoamericanos já haviam condenado oficialmente Israel pelos ataques desproporcionais à população palestina. "A Venezuela reitera que o diálogo construtivo é a única via para instalar a paz duradoura entre ambas as nações e na região do Médio Oriente", afirma comunicado venezuelano. O Chile pediu a todos os atores envolvidos no conflito para que "estabeleçam uma trégua e respeitem o direito internacional humanitário".

O governo uruguaio expressou sua "enérgica condenação aos ataques militares efetuados por Israel na faixa de gaza, que tem provocado dezenas de mortos entre a população civil, incluindo mulheres e crianças", afirmando ainda sua preocupação quanto ao lançamento de foguetes contra o povo judaico, "que põem em risco a população civil do centro e do sul do Estado de Israel."

Um comunicado emitido pelo Ministério de Relações Exteriores da Bolívia demanda a que os povos do mundo inteiro detenham o "genocídio" do povo palestino, reforçando que "devem ser respeitados os acordos e tratados internacionais vigentes". "O México condena o disparo de foguetes e ataques aéreos, e lamenta, profundamente, que essas ações tenham causado um número significativo de vítimas, incluindo crianças, centenas de feridos, destruindo casas e sofrimento da população civil", afirmou em nota o Ministério das Relações Exteriores do México. Seu congênere equatoriano, em comunicado oficial, expressou preocupação com as populações civis, afirmando ainda que "espera que as autoridades competentes investiguem os crimes que precederam essa escalada violenta, para determinar a responsabilidade do mesmo, de acordo com os procedimentos penais em vigor".

Uma manifestação organizada pela Federação Palestina da Argentina e pela Organização Islâmica Argentina ganhou as ruas de Buenos Aires, nesta quinta-feira, 10, expressando sua condenação aos ataques. O Comitê Argentino de Solidariedade à Palestina convoca uma manifestação para o próximo dia 16 na capital, findando em frente à embaixada israelense.

Na quinta-feira, 10, o Conselho de Segurança das Organizações das Nações Unidas (ONU) realizou uma reunião de emergência para discutir a escalada da violência na região. Ban ki-moon, secretário-geral da ONU, fez um apelo para que os dois lados aceitem um acordo de cessar-fogo. "A região não pode se permitir outra guerra (...). É mais urgente que nunca tentar encontrar denominadores comuns para que volte a calma e se consiga um entendimento para o cessar-fogo" afirmou em seu discurso Ban Ki-moon.

Vladmir Putin, presidente Russo, ligou para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para solicitar a diminuição das tensões, considerando grave a "deterioração rápida da situação". O presidente estadunidense, Barack Obama, também afirmou que os EUA estão dispostos a tentar negociar um cessar-fogo entre as partes.

Apesar da pressão internacional, não há sinais de que a crise possa diminuir nos próximos dias. 20 mil reservistas do exército israelense estão sendo convocados, aumentando a especulação em torno de uma ofensiva terrestre. Observação curiosa é que 2014 foi consagrado pela própria ONU como o Ano Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Foguetes sobre Israel: represália ou autodefesa?

Segundo o exército israelense, pelo menos três foguetes em direção a Tel Aviv foram interceptados pelo sistema antimíssil Iron Dome ("cúpula de ferro"). Único no mundo, o sistema é capaz de interceptar projéteis a uma distância de quatro a 70 km.

O Hamas posicionou-se em favor da continuidade das respostas militares contra Israel. Através de um comunicado em seu website, o grupo alerta as companhias aéreas internacionais sobre um provável ataque ao aeroporto internacional Bem-Giron, na zona metropolitana de Tel Aviv. "Nós estamos preparados para uma batalha longa, não para uma semana ou 10 dias, como alguns dizem, mas para muitas semanas" afirmou.

Na área norte de Israel, foguetes foram lançados a partir do Líbano, aumentando a tensão entre os dois povos. Não se sabe ainda se se trata de uma ação isolada ou se, nos próximos dias, poderá surgir um novo foco de conflito na região.

Críticas externas

Tel Aviv impôs um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo à Faixa de Gaza, impedindo os cidadãos palestinos de exercerem direitos consagrados internacionalmente, como o trabalho e de receberem ajuda humanitária. Faltam medicamentos, energia elétrica e combustível, o que tem levado os hospitais locais ao colapso, inaptos para atender ao grande número de enfermos.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha condenou o ataque aéreo à filial do Crescente Vermelho Palestino, em Jabaliya, norte de Gaza, no último dia 09, quando uma dezena de colaboradores e voluntários saíram feridos e três ambulâncias foram destruídas. "Os civis devem estar protegidos. Em todas as circunstâncias, devem-se garantir as condições de segurança que as ambulâncias, os hospitais e os profissionais de saúde precisam para realizar o seu trabalho vital" afirmou o chefe da delegação do CICV em Israel e territórios ocupados, Jacques de Maio.

O Ministro das Relações Exteriores do Egito condenou a atitude de Israel como "excessiva e desnecessária". Para diminuir as consequências sociais, o Egito abriu suas fronteiras terrestres com o território palestino. O Primeiro-ministro turco criticou fortemente Israel. "Você precisam parar com essa opressão. Enquanto continuar [os ataques], a normalização das relações entre a Turquia e Israel não será possível" afirmou. Segundo o porta-voz de Relações Exteriores iraniano Marzie Afjam, "Os países ocidentais, assim como todos que apoiam os sionistas, devem adotar uma postura firme para impedirem uma catástrofe humanitária na Palestina."

A Anistia Internacional solicitou aos dois lados do conflito que protejam as populações civis e as infraestruturas de seus territórios.

Fonte: Adital com agências

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