Marcus Eduardo de Oliveira *
Num texto datado de 1882, um mestre da comunidade dos Himalaias escreveu que "a natureza uniu todas as partes do seu Império por meio de fios sutis de simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e um homem".
Entre o homem e a natureza há uma íntima relação. Somos parte do universo, feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas. Das bactérias aos seres humanos há em todos o mesmo código genético de base, os mesmos aminoácidos e as mesmas bases fosfatadas, diferenciando apenas as combinações destes elementos.
Somos, assim, parte da biodiversidade e não é com muito esforço que se pode concluir que nosso corpo é um ecossistema, afinal, abrigamos dentro de nós mais ou menos 71% de água (a mesma porcentagem que há no Planeta Terra); nossa taxa de salinização do sangue (3,4%) é a mesma dos mares. Simplesmente, 60% do nosso corpo é oxigênio. Há dentro de cada um de nós mais de 100 trilhões de células compartilhando átomos com tudo o que está ao nosso redor. Certamente, essa é uma clara e inequívoca percepção ecológica da vida.
Habitamos uma Terra que se formou em sua origem de matéria cósmica, composta basicamente de silício, oxigênio, alumínio e ferro. Essa relação homem-seres vivos-natureza-Terra-vida é tão intensa que até mesmo em ambientes inóspitos é possível encontrar sinais de vida, como nas profundezas oceânicas de mais de três quilometros, aonde a luz solar não chega e a pressão é extrema.
Somos filhos e filhas de Gaya que nos abriga, nos acolhe e nos protege. A percepção ecológica da vida humana se reflete por toda parte, em todos os cantos, em todo momento, quer seja numa simples gota d´água ou na queda de uma cachoeira, nos ventos que produzem energia, num grão de areia que junto ao cactus é capaz de embelezar a aridez escaldante do deserto, na massa de ar, nas folhas verdes, na chuva que faz florir, no lírio que floresce no lodo, na multiplicidade da vida aquática, no afinadíssimo canto dos pássaros, nas abelhas que polinizam as flores nos dando o alimento, nos fitoplânctons que produzem o oxigênio que respiramos.
Isso tudo é a abundante riqueza ecológica que perfaz a essência da vida, que embeleza, sobremaneira, a magia do viver.
Carl Sagan (1934-1996) certa vez afirmou que "há seres que deslizam, rastejam, flutuam, planam, nadam, escavam, caminham, galopam ou apenas ficam imóveis e crescem verticalmente durante séculos. Alguns pesam 100 toneladas, mais a maioria é menor que um bilionésimo de grama. Há organismos capazes de enxergar sob luz infravermelha ou ultravioleta; e há seres cegos que percebem o ambiente envolvendo-se num campo elétrico.
Alguns armazenam luz solar e ar; alguns são plácidos comedores de pastagens; outros caçam sua presa com garras, dentes e venenos neurológicos. Alguns vivem uma hora e, alguns, um milênio".
Assim é a vida no seio do sistema ecológico, e é assim que ocorre a percepção ecológica da vida. É assim que a vida se desenvolve, dentro de um meio ambiente do qual somos parte.
* Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia. prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: Marcus Eduardo de Oliveira / Revista Missões