Anselmo Rafael Vilanculo
Em conformidade à Ratio Formationis do Instituto Missões Consolata, "Todo noviço seja ajudado a fazer uma experiência de Missão integrando breves e intensas experiências pastorais, segundo o Espírito e o estilo dos Missionários da Consolata" (art. 90). Nesta ótica de ideias e com essa finalidade, nós, os 11 noviços do Noviciado São Paulo de Laulane e o respectivo mestre, padre Fredrick Uluoch Agalo, deslocamo-nos de Maputo a Maúa-Niassa, na Paróquia de São Lucas, marcada pela presença e ação missionárias consolatinas.
Não viajamos todos juntos, mas organizados em dois grupos. O primeiro, saíu de Maputo no dia 26 de agosto e o segundo, no dia 28, via terra, de Machimbombo. No dia 30, todo grupo estava na Casa Allamano em Nampula, local que nos acolheu até ao dia da nossa partida para Maúa. Passando por Cuamba, chegamos a Maúa no mesmo dia: sabado 31. No dia seguinte, domingo, fomos apresentados e acolhidos pela comunidade paroquial durante a celebração eucarística. Era o começo da nossa experiência missionária.
Maúa é um distrito da Província de Niassa. Ao Sul faz fronteira com o distrito de Metarica; ao Norte partilha fronteira com Marrupa; a Leste faz fronteira com Majune e a Oeste limita-se pelo distrito de Nipepe. Tem cerca de 30 mil habitantes, dos quais 25% praticam a religião tradicional local; 42% é praticante da religião islâmica e apenas 30% dos habitantes é cristã.
A presença missionária consolatina remonta ao longínquo ano de 1940. A primeira Missão, fundada naquele ano, dista 5 km da sede distrital onde atualmente se encontra a Paróquia de São Lucas.
A ação pastoral missionária do pessoal de São Lucas abrange também a paróquia de Maiaca, fundada no ano de 1947, que dista 80 km da sede distrital de Maúa.
Por fatores políticos da época, depois de alguns anos da urbanização dos missionarios/as que passaram a viver na sede do distrito, em 1988, a comunidade cristã com a equipe missionária, construiu uma nova Igreja Paroquial prosseguindo desta feita com a evangelização. Nesta parcela da Missão, os Missionários e as Missionárias da Consolata têm como atividades de destaque, dar assistência às comunidades, que são até agora em número de 72 em Maúa e 29 em Maiaca. A promoção humana através de atividades diversas, a formação de líderes para as comunidades, a animação missionária vocacional são atividades levadas a cabo por eles no âmbito da Evangelização dos povos de Maúa e Maiaca.
Na casa paroquial atual está um Centro de Investigação da Cultura Macua-Xirima. Este, gerido pela equipe Missionária e apoiada pelos dois Institutos Missionários da Consolata, já produziu e produz frutos abundantes para toda Diocese. Este Centro promove o estudo da língua e da cultura Macua, com a publicação de importantes obras para o uso litúrgico e pastoral, incluindo a Bíblia, sem contar a publicação de dicionários.
É, portanto, nesta conjuntura de ações que são levadas a cabo pela equipe missionária atuante nessas terras de missão, que vivemos a Experiência Missionária. Graças a esta feliz oportunidade, fomos enriquecendo a nossa formação do Noviciado, que abrange toda nossa vida e que, ao longo deste período, regenerou-se modelada pelos programas e necessidades concretas da Igreja local no seu todo.
Os dias da nossa presença em Maúa foram cheios. Pelas 4h30 horas já estávamos de pé, para participar da missa às 5h15. Nas manhãs de cada dia fazíamos trabalhos manuais. A tarde era dedicada em primeiro lugar a aprendizagem da língua e cultura Macuas, dirigidos por senhor Fausto, um catequista da Paróquia e pelo pároco, o padre Frizzi respectivamente; em segundo lugar era dedicada a interacção entre o nosso grupo e a equipe da pastoral da paróquia e os respectivos ministérios. Os domingos estavam reservados à atividade pastoral de visita às comunidades. Ora, a aprendizagem da língua e as reflexões em torno da cultura Macua foram dois pressupostos básicos que nos auxiliaram a adentrar no contexto do povo com o qual trabalhávamos.
No dia 7 de setembro, os nossos passos fizeram caminho em direção à antiga primeira Missão dos Missionários e Missionárias da Consolata em Maúa, situada entre montanhas que fornecem água abundante. Aderindo ao apelo do Papa Francisco, passamos o dia em jejum e oração pela Paz.
Nos dias 21 a 23 do mesmo mês, acompanhados pela equipe missionária da Paróquia de Maúa e dois trabalhadores da mesma, fomos para Maiaca, outra missão aberta pelos Missionários da Consolata no ano de 1947 e até hoje animada pelos mesmos. Tanto a antiga Missão de Maúa, quanto a Missão de Maiaca, possuem Igrejas cujas construções são magníficas de um estilo clássico ostentando dentro dos seus muros pinturas e artes culturais sacras em nuances simbióticas, obras de artistas locais. São duas missões históricas para Igreja e para os Missionários e Missionárias da Consolata.
Ao longo desses dias, visitamos o cemitério da Missão, onde jazem, também, os restos mortais de um dos nossos irmãos da Consolata, Bartolomeu Lorenzatto, falecido em 1956.
Ademais, visitamos o primeiro animador dessa Missão em tempos difíceis, tal como visitamos a família de Abôndio Maximiliano, neo-professo missionário da Consolata, fruto da evangelização dos Missionários da Consolata nesta Missão.
No dia 29 de setembro despedimo-nos da comunidade paroquial de Maúa-Sede, a mesma que nos acolheu. Aliás, a nossa vida e os nossos dias nesta experiência construíram teia de boas e inesquecíveis relações fraternas com toda comunidade paroquial com mais referência às Irmãs Missionárias da Consolata, os alunos do lar masculino e feminino da paróquia que conviveram conosco mais de perto.
Consideramos a nossa experiência missionária como um tempo de graça. Foi um período em que vivemos a Missão na sua face real e concreta através do contato com o povo nas suas variadas manifestações de fé. Aprendemos de modo mais profundo o que significa viver e estar no meio do povo. Mais uma vez, percebemos que o Missionário da Consolata deve ser especialista em boas relações no contato com o povo de modo a levar avante a consolação. Foi para nós uma experiência sem igual que desafiou-nos a redimensionar o conceito da Missão. Percebemos que ela transpõe-se muito mais além do que idealizávamos em campo de formação. Após esta experiência, nos é evidente, portanto, que a Missão requer e exige por parte de missionários, sobremaneira, de novos missionários uma postura cada vez mais revigorada e atualizada de modo a fazer face também a novos desafios que apresenta. Igualmente, há que ter motivações para Missão e não para o sacerdócio simplesmente. É que o sacerdócio chega. E depois de chegar, que nos vai restar? Em contrapartida, se temos motivações para a Missão, abrir-se-ao aos nossos caminhos novos horizontes para viver até mesmo chegar a doar a própria vida pela Missão ao serviço dos irmãos e dos povos simples, feito o caso do povo de Maúa. Portanto, se por um lado a experiência missionária que tivemos em Maúa esclareceu e catapultou as nossas razões de viver para Deus, por outro lado, galvanizou os nossos desejos e objetivos para a consagração na Missão Ad Gentes no Instituto Missões Consolata.
Fonte: Anselmo Rafael Vilanculo / Revista Missões