Maria Regina Canhos *
A presidente Dilma Rousseff afirmou que são alarmantes os dados que apontam para o aumento de 18% nos registros de estupros no país, cerca de 50 mil casos. Ora, por que será que o número de estupros aumentou, se estamos numa época em que a coisa mais fácil que existe é se relacionar sexualmente com alguém? Interessante refletir sobre isso...
Outro dia estava prestando atenção nas letras de algumas músicas que tocam diuturnamente nas rádios brasileiras: "chega, chegando; parte pra cima"; "pego firme pra valer, chego cheio de maldade, quero ouvir você gemer"; "vestido apertadinho da pantera cor-de-rosa, pra quê? pa dá pa dá pa dá..."; "eu sou cachorrão, vou te mostrar meu estilo animal"... E por aí vai... Em quase todas as letras a mulher é tratada como "carne de açougue", produto à mostra, em exposição, servindo apenas para aguçar e satisfazer desejos sexuais masculinos. Refrões como: "vou te mostrar", "vou te dar o que você quer", "vou te dar muita pressão", "desce até o chão", "empina aí", "louca", "doida", "maluca", "piradinha"... Alusões aos piores momentos das mulheres ou às suas fragilidades, momentos de carência, regados ao álcool e à depravação. É realmente lamentável.
Esta semana tive a infelicidade de assistir ao capítulo da novela em que o tal Felix descobre que o filho não é seu, mas do pai com uma garota de programa que ele, Felix, tinha como mulher. Casa dos horrores. Imoral,
baixo, desumano. O adolescente (filho) presenciando aquele circo, aquela baixaria, aquele pântano lamacento em que não existiam quaisquer valores morais. Era a besta do apocalipse solta na tela da Globo, invadindo os
lares brasileiros sem pedir licença, com aberrações inimagináveis... Que triste, meu Deus. O pai cometendo adultério, a moça se prostituindo, o marido e o filho enganados o tempo todo... Uma podridão tão grande que dá
asco só de pensar.
E a presidente quer entender porque o número de estupros tem aumentado? Eu explico: é porque a mulher virou objeto, o ser humano se desqualificou. Hoje, pessoa e coisa são o mesmo. A dignidade do ser humano foi anulada, subtraída, roubada. Vale a promiscuidade, a falta de caráter, a busca de prazer a qualquer preço... Somos descartáveis. Quanto mais baixo melhor, quanto mais rasteiro mais adequado aos filhos da escuridão que estão se refestelando, chafurdando na lama com os desavisados, os ingênuos, os distraídos...
Daqui para frente vai imperar a violência e a devassidão. Salve-se quem puder! As feras estão soltas e já não há como contê-las, pois se infiltraram em nossas casas, dentro dos nossos lares. Álcool em demasia; entorpecentes; sexo livre; escassez de limites; inexistência de respeito aos valores, aos princípios, ao sagrado.
Tudo isso tem um custo. Estamos pagando o preço da nossa omissão, do nosso silêncio. Aceitamos a
imoralidade, a baixaria, a podridão... Agora, estamos colhendo a barbárie. Que Deus tenha piedade de nós!
* Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.
Fonte: Maria Regina Canhos / Revista Missões