Um novo jeito de ser papa. Francisco surpreende com algumas ideias

Sandro Magister *

Na pregação diária do papa, Francisco frequentemente fala sobre o demônio, como sujeito que quase desapareceu da pregação da Igreja.

Toda vez que o evangelho do dia fala de demônio, o papa faz seu comentário. Para muita gente isso é uma surpresa, porque, com as suas constantes alusões ao diabo, o papa Francisco mostra novidades e faz sobressair a figura do diabo que quase foi reduzida a uma pura metáfora.

A minimização do diabo se tornou tão comum que essa ideia de minimização provoca uma curiosidade sobre as palavras do sumo pontífice. A opinião pública, católica e laica, está atenta a esse aspecto da pregação e catalogando-o como um descuido ou desatenção na sua linguagem.

Uma coisa é certa. Para o papa Francisco o diabo não é um mito, mas uma pessoa real. Em uma das suas homilias, ele afirmou que "não existe apenas o ódio do mundo contra Jesus e a Igreja, mas que dentro do espírito mundano se esconde o príncipe deste mundo".

"Através de sua morte e ressurreição, Jesus nos resgatou do poder do mundo, do poder do demônio, do poder do príncipe deste mundo". "A origem do ódio é esta: fomos salvos, mas o príncipe deste mundo, que não nos quer salvos, nos odeia e suscita a perseguição que desde o tempo de Jesus não parou de agir".

"É necessário enfrentar o diabo - afirma o papa - do jeito que fez Jesus, respondendo com a palavra de Deus. Não se pode dialogar com o príncipe deste mundo. O diálogo deve existir ente nós, é necessário para construir a paz, é um sentimento que devemos cultivar para nos entendermos entre nós. O diálogo deve manter-se sempre porque ele nasce da caridade. Com aquele príncipe não se pode dialogar; apenas se pode responder com a palavra de Deus que nos defende" (Chiesa 13 de maio).

O Papa Francisco fala sobre o demônio com absoluta clareza de conceitos bíblicos e teológicos. Ele quer chamar a atenção dos cristãos sobre a ideologia hoje inserida na realidade comum da vida.

Enfim, o papa não quer colocar na sombra a existência do demônio porque é a partir dele que emerge com maior grandeza a paixão e a morte de Jesus. O papa não quer restaurar a ideia antiga sobre o demônio quando era entendido como algo doentio e repressivo. Ele quer chamar a atenção para a compreensão bíblica do que ele significa como enganador e subversivo da verdade e da dignidade humana. De vez em quando ele também faz referência ao pecado como aliado do demônio.

Mas o Papa Francisco traz outra novidade, não em suas palavras, mas nos seus gestos nas celebrações.
Nas celebrações públicas, depois de comungar e dar a comunhão aos servidores do altar, ele se senta. Ao povo ele não dá a comunhão como era costume no modo de celebrar dos outros papas. Quando um papa se aproximava de alguma personalidade para lhe dar a comunhão, imediatamente apareciam as máquinas fotográficas, particulares e de comércio.

Papa Francisco ainda não se deixou fotografar dando a comunhão a personalidades ou peregrinos. Ele não deu nenhuma explicação para isso, mas podemos supor que essa atitude corresponde ao que ele escreveu em 2010 num dos seus livros: "não quero que certas pessoas se aproximem de mim para simplesmente fazer uma foto".

Quando o papa cita o caso do Rei Davi, mostra que deve haver uma coerência entre vida real e o compromisso com o sacramento. "Davi era adúltero e mandou matar para se juntar a uma mulher, contudo nós o veneramos como um modelo de vida porque teve a coragem de dizer ao povo: "eu pequei". Ele se humilhou diante de Deus. É verdade que podemos cometer erros graves, mas devemos mudar de vida e reparar o que se fez de errado".

"É verdade que no meio de paroquianos podem estar pessoas que mataram fisicamente ou intelectualmente ou indiretamente com uma abusiva administração do bem público ou pagando salários injustos. Há também aqueles que são membros de organizações de beneficência, mas não pagam aos seus servidores aquilo que deveriam e os fazem trabalhar duplamente". (Livro sobre a família)

Enfim, o papa não quer se envolver em polêmicas que são muito fortes nos Estados Unidos quando se vê irem à comunhão pessoas envolvidas, sobretudo, na defesa do aborto.

* Sandro Magister é jornalista e criador do site www.chiesa.it

Fonte: www.chiesa.espresso.repubblica.it

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