Egon Heck
O dia amanhece com encanto. Céu azul com algumas nuvens brancas, são prenúncio de um dia ensolarado, de festa, memória e luta. Palmas, a jovem capital, está engalanada para o festejo de seus 24 anos. Em 1989 era lançada a pedra fundamental em meio a uma região ainda marcada pela sua vegetação natural. Sonhos e impactos marcaram, desde então, o meio ambiente e a população que começou a ser atraída para a região.
Para Palmas também estão se dirigindo aproximadamente 500 indígenas de 15 povos, para a realização da 2ª Assembleia dos Povos Indígenas dos estados de Goiás e Tocantins. Com o tema "Tecendo o Bem Viver denunciamos e resistimos ao modelo de desenvolvimento que destrói nossos direitos e nossa Mãe Terra".
Esse será um dia memorável, de chegada com alegria e animação, após longa expectativa e preparação. Será dia de celebrar a pluralidade, a beleza das culturas, a resistência dos povos raiz, os nativos dessas terras. Será um momento forte de alimentar os sonhos do Brasil plural, no aconchego da mãe terra, tecendo juntos o Bem Viver.
No centro da cidade a movimentação em torno dos festejos do aniversário da jovem capital, enquanto na área verde da Universidade Federal do Tocantins começam a chegar as primeiras delegações indígenas. Os Apinajé chegam do distante norte do Estado, trazendo muito entusiasmo, esperança e grito. Exigem respeito a seus direitos, seus territórios, a mãe terra, as riquezas naturais e culturais, sua organização e luta conforme garantem os direitos na Constituição e normas e legislação internacionais.
Um grande momento
Conforme Sara Sánchez, coordenadora do Regional GOTO, do Cimi, esse é um momento muito especial da luta, consciência e visibilidade dos povos indígenas na região. Ela lembra os grandes desafios que esses povos enfrentam hoje "a monocultura da soja, arroz, eucalipto e agora até o plantio de seringueiras, é a arrasadora expansão do agronegócio. As hidrelétricas, que acabam sendo impostas por um modelo de desenvolvimento comandado pelo grande capital e acelerado pelo governo, alagando e destruindo em grande profusão. Os índios estão vindo para dizer não à hidrelétricade Serra Quebrada (no rio Tocantins) e Santa Isabel (no Rio Araguaia) dentre outras. Vem para dizer não a todas essas grandes obras que trazem muita morte, destruição e sofrimento".
Mas eles veem não apenas para denunciar, dizer que estão vivos e resistirão a todos os projetos de morte, mas vem dizer que querem contribuir com seus projetos de bem viver para a construção de um Brasil plural, mais justo, respeitoso de seus povos primeiros. E para isso vem se unir aos demais povos indígenas do Brasil e da América Latina e a todos aqueles que buscam a construção de outros modelos de sociedade, de política, de valores e de economia.
Segundo Antônio Apinajé, que acaba de chegar com quase uma centena de representantes desse povo, espera que essa Assembleia impulsione e fortaleça a organização e articulação dos povos indígena para fazer o enfrentamento coma as políticas equivocadas do governo e setores conservadores e do agronegócio, a partir das bases. Mas, ressalta, "essa conjuntura nos preocupa, nos tira o sono, mas não tira nossa vontade de lutar. Vamos fazer articulação com as Universidades, os camponeses, com os Quilombolas, com a sociedade civil organizada. Finalizou dizendo "nessa II Assembleia, vamos dar o nosso recado".
Durante os próximos quatro dias, Palmas será o espaço de grandes debates do movimento indígena regional com a presença de representantes indígenas e indigenistas do país. Será feita uma análise de conjuntura a partir das aldeias até em nível nacional e internacional. Serão debatidos temas desafiadores da humanidade hoje, como mudanças climáticas e Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - REDD, Territórios Indígenas: espaços ameaçados pelo agronegócio, o Bem Viver e a Mãe Terra, além das cruciais questões de saúde indígena, educação e sustentabilidade.
Também serão elaboradas e divulgadas informações diárias do andamento da Assembleia e manifestações públicas e atividades culturais e celebrações diárias.
Fonte: Egon Heck / Revista Missões