Dom Servilio: um encontro nada comum

Hilário Cristofolini *

Nenhum encontro com ele é comum, porque ele não é um bispo comum. Convenci-me disso quando fui visitá-lo num desses dias. Na volta para casa, vim lembrando que, nestes últimos anos, ele nem casa tem! Pensava nisso e no que me disse sorrindo na despedida: "Está próximo o meu dia de voltar para a Casa do Pai".

Meu leitor: acho que você vai gostar de saber algo mais sobre Servilio que, quando jovem, não queria ser padre e ficou bispo. E hoje, aposentado, vive para lá e para cá, sempre de sacola na mão. (Você já viu pobre sem sacola?)

Nasceu na Itália, onde trabalhou como padre, e de lá veio mandado para o Brasil. Em São Manuel (SP), foi pároco e professor. Depois foi mandado para o Amazonas, onde mourejou como bispo missionário de Roraima. Após tantos anos, foi chamado para ser bispo auxiliar de Santa Maria (RS). Como aposentado, voltou para São Manuel e foi o humilde ajudante da paróquia do distrito de Aparecida. Enfim, de avançada idade, marcapasso e bengala, pegou a sacola e se recolheu no Jardim São Bento, na capital paulista.

Ontem me telefonou. Disse estar doente de saudade dos paroquianos de São Manuel e Aparecida e por isso estava aproveitando a carona do padre Luiz e partindo para lá. E eu, doente de saudade dele, peguei carona do jornalista Joaquim Roberto Santana e fui curar-me no encontro com ele numa daquelas cidades.

Nosso encontro poderia ser comum, se ele e eu não tivéssemos que viajar, somados, uns mil quilômetros! E mais: sabe quantos anos ele e eu temos juntos? 172! E destes, só Dom Servilio tem 96! Os restantes, são meus e destes, se lhe interessa saber, 48 os vivo em cadeira de rodas! Mesmo assim, o bispo vovô partiu de lá, e eu de cá. Procurei-o em Aparecida. Não o achei nem aqui, nem ali, nem na creche que leva o nome de sua mãe, pelo grande bem que ele fez às crianças, aos doentes e pobres. Dona Virley garantiu que já estava em São Manuel. Abusei da carona de Roberto e fomos para lá. De repente, numa calçada daquela cidade, eis aí Dom Servilio bengalando apressado na visita de mais um amigo! O motorista encostou o carro no meio fio e eu o chamei com um grito de alegria. Ele se voltou sorridente, chegou, encostou-se na porta do carona para o abraço.

Roberto deixou o volante, invadiu uma loja e voltou carregando uma cadeira para o bispo sentar aí na calçada. Brinquei: essa cadeira é defeituosa, não tem rodinhas. A minha, ao invés de ser carregada, me carrega.
O encontro foi rápido. Uns 10 minutos. Na despedida, Dom Servilio me disse o que você já sabe, e eu gosto de repetir: "Está próximo o meu dia de voltar para a Casa do Pai".

Pensei nos muitos amigos, pobres e crianças que visita, deixando bênçãos, e concluí: Quando o Pai chamar seu servo Servilio terá que repetir o chamado, pois ele tem muitas casas para evangelizar...

Finalizando: Falei deste encontro a um amigo. Meio descrente, perguntou: Você viajou tanto para ter um encontro de tão poucos minutos? Valeu a pena?

Resposta: Se este bispo não fosse tão incomum, não teria escrito o livro: SERVILIO, O SERVO.

Oi, leitor: Se quer saber mais sobre quanto este bispo é incomum, peça o livro ao editor Manuel Rouxinol: Rua Antônio das Chagas, 93 - 04714-000 - São Paulo, SP - (11) 5181-4242
Email: orecado@orecado.com.br

* Hilário Cristofolini é escritor.

Fonte: Revista Missões

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