Egon Dionisio Heck *
Os números são estarrecedores. A violência contra os Povos Indígenas é indício de um processo de guerra, de genocídio que continua decretando a morte de inúmeros indígenas de norte a sul do país, da terra dos Makuxi, Wapichana e Ingarikó em Roraima, aos Kaingang, Guarani e Charrua no Rio Grande do Sul.
No dia em que se iniciou a Rio + 20, em que o Brasil como anfitrião tem que ficar bem na foto, em Brasília foi lançado o "Relatório de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil". No placar de regularização de terras indígenas, o governo Dilma está com um desempenho pífio - no ano de 2011 homologou apenas três. Já em 1992 o governo Collor demarcou 128 terras indígenas, enquanto o governo Lula demarcou apenas 88 em oito anos de governo.
Conforme Dom Erwin, no lançamento do relatório, "essa foi e continua sendo a principal causa da violência contra os Povos Indígenas". Tanto o presidente da CNBB, como o presidente do Cimi, demonstraram sua profunda preocupação com o avanço da violência contra os Povos Indígenas, em consequência de um modelo de desenvolvimento que não os respeita. "Pensávamos que a publicação do relatório ajudaria a diminuir a violência. Infelizmente está aumentando. É o rolo compressor que não respeita os Povos Indígenas e ribeirinhos, no caso do emblemático e fatal projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte". Dom Erwin lembrou que nos 40 anos do Cimi, vários missionários derramaram seu sangue em defesa dos direitos dos Povos Indígenas. "Continuaremos decididamente ao lado deles", afirmou o presidente do Cimi.
Nailton Pataxo-Hã-Hã-Hae, em sua apresentação, falou da emoção de estar participando desse ato, como um dos testemunhos do massacre, opressão e do assassinato de mais de 30 membros de seu povo nessa luta pela reconquista de seu território. Lembrou o grande sofrimento e a opressão que geraram uma descrença quanto à Justiça e uma desesperança quanto à garantia dos direitos de seu povo. Por essa razão eles tomaram a iniciativa de buscar a justiça retomando seu território, em abril desse ano. Ao agradecer a todos os apoiadores e aliados lembrou "Nosso problema está resolvido, mas vamos lutar agora para resolver o problema de todos os índios do Brasil". Fez referência à gravíssima situação dos Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul e sugeriu "Que o acampamento Terra Livre seja realizado em áreas de luta pelos direitos, sendo dois dias de conversa e três de limpeza".
Jader Marubo do Vale do Javari, Amazonas (veja o vídeo), fronteira com o Peru, relatou com dor e indignação a situação de morte a que estão relegados os Povos Indígenas dessa região, sendo que 82% dos indígenas de seis povos estão com hepatite e temem a febre negra (hepatite B mais hepatite D), além de alta incidência de tuberculose e filaria (origem da elefantíase), dentre outras doenças. Além disso, têm seu território invadido por madeiros, fazendeiros, peixeiros, narcotraficantes. Ele teme pela morte de pelo menos 13 grupos indígenas isolados, conforme dados da Funai, e de outros 8 grupos dos quais tem informação. "Temo que esses povos sejam extintos, sem que os senhores venham a conhecê-los". Concluiu seu emocionante testemunho denúncia: "apenas queremos a dignidade de ir e vi e viver. Queremos a terra para viver dignamente".
Na segunda parte do ato, foi lançada a Campanha articulada pela Associação dos Juízes pela Democracia - AJD e pelo Cimi, "Em defesa da Causa Indígena". A Campanha www.causaindigena.org.br busca amplo apoio aos direitos dos Povos Indígenas, em especial pela terra e vida dos Kaiowá Guarani e contra a PEC 215, que é um dos projetos de lei que visa tirar os direitos indígenas garantidos pela Constituição e legislação internacional.
Egon Dionisio Heck é assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) - Povo Guarani Grande Povo, Cimi 40 anos - www.egonheck.blogspot.com.br
Fonte: CIMI