Roberto Naime *
O Amazonas é um estado brasileiro da região norte. E a Amazônia é uma região que envolve vários estados brasileiros das regiões norte e centro-oeste e que todos nós aprendemos na escola primária como sendo Amazônia Legal.
Desde pequenos aprendemos na escola que a Amazônia Legal ou o estado do Amazonas fazem parte do Brasil. No entanto, é válido discutir as várias dimensões e significados que a Amazônia Legal ou o estado do Amazonas tem tido para estrangeiros, principalmente europeus e americanos.
Todo mundo sabe que existem organizações ambientalistas muito sérias e idôneas na Europa e Estados Unidos, mas também sabemos que existem outra organizações nem tão sérias ou idôneas. O mesmo pode se dizer para as pessoas. No caso das pessoas, algumas utilizam as bandeiras ambientalistas para marketing pessoal, promocional e inclusive político.
Sempre se conta a história de que o ex-presidente americano Al Gore, pertencente a uma respeitável família de intelectuais, literatos (Gore Vidal) e políticos, mas que é uma figura controvertida que não se sabe até que ponto que exerce suas convicções de ambientalista e até que ponto usa o ambientalismo como marketing político e pessoal, escreveu uma vez num guardanapo de um restaurante de Londres: " Lute pela Amazônia. Torre um brasileiro" (Jornal do Comércio, Porto Alegre, 2 de março de 2009, editorial).
A Amazônia além de ser constituída pela maior floresta tropical do mundo tem grandes riquezas minerais no subsolo, e além disto tem um percentual importantíssimo de todas as águas potáveis da Terra. O mesmo editorial do Jornal do Comércio cita François Miterrand, ex-presidente da França, que disse que o "Brasil tinha que aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia".
Já em 1985, quando da implantação do Projeto Calha Norte, os principais motivos registrados eram as riquezas minerais e o crescente trânsito legal ou ilegal de estrangeiros na área. A mesma argumentação ainda mais ampliada, foi justificativa para implantação do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Dados extra-oficiais sempre assinalam a presença de mais de 600 ONGs e outras instituições científicas, religiosas ou culturais na região. Em Roraima, estado que está incluído na Amazônia Legal em quase toda sua extensão, a demarcação de terras indígenas atinge mais de 70% do estado. A imprensa (editorial do Jornal do Comércio de 2 de março de 2009) é pródiga em citar que em muitas tribos indígenas se fala inglês ou francês em vez de português e autorização de entidades estrangeiras pode ser mais fundamental para o acesso do que licença da FUNAI.
Não se trata de xenofobia contra estrangeiros isolados ou organizados em instituições, mas é preciso não deixar que a interpretação ingênua de que só existem boas intenções ofusque a realidade de que a Amazônia Legal atravessa um processo delicado de característica desnacionalização.
A forma mais racional de enfrentar isto é adotar uma posição de plena compreensão da realidade, avaliando todos os casos com cautela, diferenciando as situações e não praticando xenofobia nacionalista generalizada, que geralmente acaba sendo uma motivação simplória e de grande apelo popular para justificar iniciativas extravagantes de interesses ocultos.
A cada dia que passa existe menos consenso no mundo científico sobre o aquecimento global. Ninguém contesta que os níveis de aceleração de CO2 são indesejáveis, mas está ficando cada vez mais distante a idéia de que a simples preservação museológica de uma grande floresta seja o apanágio para a salvação da vida na terra. As situações tem cada vez maior complexidade e expressam níveis cada vez maiores de fatores que interagem para a elaboração de cenários.
* Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: www.ecodebate.com.br