Francisco Rubeaux *
"Em qualquer casa em que entrarem, digam primeiro: paz a esta casa" (Lc 10, 5).
Chegamos ao fim do nosso percurso bíblico sobre a Missão. Claro que não esgotamos o assunto, mas, chegou a hora de tentar recolher algumas orientações para a missão nossa de hoje. Como vimos, os primeiros cristãos eram missionários na alma. Por toda parte onde chegavam, anunciavam a Boa Nova e suscitavam pequenas comunidades. Em função desta realidade, os evangelistas fizeram questão de lembrar as palavras de Jesus para os missionários, mostrando também como Ele mesmo enviou os discípulos: "Jesus enviou os Doze..." (Mt 10, 5). "O Senhor designou outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua frente..." (Lc 10, 1). Enviou como Ele mesmo tinha consciência de ter sido enviado pelo Pai, como lembramos em artigos anteriores: "Como o Pai me enviou, eu também vos envio" (Jo 20, 21). O que caracterizou a missão de Jesus está muito bem expresso no hino cristológico da carta aos Filipenses: "De condição divina, ele se esvaziou a si mesmo e tomou a condição humana" (Fl 2, 6-7).
A primeira exigência para ser missionário ou missionária é o despojamento de si mesmo. Já vimos como o missionário é chamado a sair, ir ao encontro do outro. Ele não vai como conquistador, mas como humilde servo (de Deus). Ele não vai para levar conhecimentos, certezas, ele vai para escutar e descobrir o seu Senhor no meio das pessoas para as quais ele foi enviado. Como Jesus que "com generosidade, por causa de nós se fez pobre, embora fosse rico, para nos enriquecer com a sua pobreza" (2 Cor 8, 9). Como Paulo que por amor ao Evangelho se fez tudo para todos: judeu com os judeus, fraco com os fracos, sem Lei com os sem Lei, servo de todos a fim de ganhar o maior número possível (1 Cor 9, 19-23). Este despojamento leva o missionário ou a missionária a se tornar cada vez mais um homem, uma mulher de misericórdia e de compaixão. O missionário não chega num lugar para julgar e condenar, para mandar o fogo do céu destruir tudo, ele chega para observar e ajudar, estender a mão. Ele vem com palavras de paz. Lembramos que paz em hebraico, Shalom, significa "vida em abundância". Ele é um homem de vida e não de morte. A sua oração é o Salmo 131: "Meu coração não se eleva nem meus olhos se alteiam, não ando atrás de grandezas, nem de maravilhas que me ultrapassam".
Despojamento missionário
Em comunhão profunda com o amigo Jesus (Jo 15, 15), e forte no seu Espírito, o missionário enfrenta as adversidades de toda espécie como Jesus, seu Mestre, ou os grandes missionários que o precederam. "O servo não está acima do seu Mestre" (Jo 15, 18). Não é somente Paulo que nos descreve todo o sofrimento pelo qual ele passou por causa do Evangelho, mas o livro dos Atos dos Apóstolos também nos relata as duras perseguições dos evangelizadores. Entrar na missão não é entrar num mar de rosas! Assim o livro nos narra a morte por apedrejamento do primeiro mártir, a primeira testemunha de Jesus e do seu Evangelho: Estêvão. Ele foi um grande evangelizador junto aos seus irmãos judeus. Mas não foi aceito. Lucas ao narrar as circunstâncias da morte de Estêvão o faz num paralelo impressionante com a morte de Jesus. O evangelizador se identifica em tudo com o seu Mestre.
O missionário, como o Profeta Jeremias, sente um fogo dentro dele que o leva a proclamar a Palavra (Jr 20, 9). É o ardor missionário, a audácia da qual tanto nos fala também o livro dos Atos dos Apóstolos: "puseram-se a anunciar a Palavra com firmeza" (At 4, 31). O missionário é um homem, uma mulher de fogo que se sente impulsionado ou impulsionada pelo Amor que é Jesus, quer comunicá-lo, transmitir a Boa Nova, por isso junto com Paulo ele grita: "Ai de mim se eu não evangelizar" (1Cor 9, 16).
* Francisco Rubeaux, OMI, é biblista e missionário Oblato de Maria Imaculada.
Publicado na edição Nº10 - Dezembro 2011 - Revista Missões. (Clique aqui e peça a sua)
Fonte: Revista Missões