Rogéria Araújo, Jornalista da Adital
O sociólogo Pedro Ribeiro, integrante do Fé e Política desde o início do movimento fala a Adital sobe a trajetória e a importância deste 8º Encontro Nacional, que reuniu cerca de 3.500 pessoas em Embu das Artes, São Paulo.
"Nós vamos crescer na medida em que falarmos ao espírito das pessoas, mobilizarmos as vontades. E tenho a impressão de que a ideia do Bem Viver caiu aqui mobilizando espíritos e vontades", disse.
Adital - Como surgiu a ideia de colocar o Bem Viver como tema deste 8º Encontro Fé e Política
Pedro Ribeiro - Quando, no ano passado, reunimos a coordenação para definir o tema, tive um primeiro contato com a ideia do Bem Viver e falei e pensei que fosse importante colocar isso. Nós temos que aprender com esses povos originários, porque a nossa sabedoria ocidental está nos levando a uma crise de todo o tamanho. Lancei a ideia e a coordenação acolheu. E foi muito bem acolhida.
Adital - E como o senhor avalia a acolhida desse tema junto ao público do encontro?
Pedro Ribeiro - Acho que a ideia é nova para muita gente. Esse Bem Viver é uma nova maneira de falar vamos viver bem. Sem entender que é uma novidade muito grande, que implica numa mudança muito grande. Mas a quantidade de pessoas que vieram falar comigo foi muito grande. Foi muito interessante tudo isso. Um jovem veio falar e disse que eu tinha mudado a sua cabeça e eu disse não fui eu, quem está mudando são os povos andinos. Mas é uma ideia realmente nova. Vamos ter que estudar muito
Adital - Mas foi bom ter apresentado num encontro como o fé e política.
Pedro Ribeiro - Muito bom! Porque nós temos que entender essa proposta do Bem Viver como um projeto político, econômico. Não é apenas uma maneira mais simples de viver, mas que junta tudo, da maneira simples de viver a uma nova economia, uma nova sociedade, uma nova política e, principalmente, uma nova relação com a terra.
Adital - Por isso a preocupação de toda a programação do tema passar por eixos importantes dentro de uma proposta mais ampla?
Pedro Ribeiro - Todo o programa do evento passa por questões planetárias...É uma cosmovisão. Se a gente pensar, para nós cristãos é uma releitura que temos que fazer. Somos filhos de Deus, somos filhos da Terra. Acho que não há contradição. Nós somos filhos tanto de Deus quanto da Terra. Quando a gente coloca que somos filhos de Deus, nós estamos enfatizando nossas diferenças com os outros da terra. E quando pensamos somos filhos da Terra, somos húmus, barro. Isso é bíblico. Então nós somos iguais. Acho que há muita novidade aí. Acho que isso vai dar uma virada no pensamento.
Adital - Que perspectivas o senhor vê para o Fé e Política?
Pedro Ribeiro - Estou nele desde o começo. Ele tem essa característica de ser uma organização mínima. Se eu contasse quem é a organização de um encontro como esse, você diria que não é possível. É um encontro que o custo é por volta de 500 mil reais. Como é que se consegue, com um movimento que não tem recurso nenhum, fazer isso? É porque ele mobiliza muitas vontades. São pessoas que dizem; ‘durante um ano eu vou me dedicar a preparar esse encontro', e tem uma equipezinha da coordenação do movimento que dá apoio.
Acho que a repercussão no movimento, com este encontro, vai dar um ânimo, porque ele não tem uma estrutura burocrática. A Márcia [Márcia Miranda, educadora] já dizia isso: que é um movimento espiritual. Não é um movimento organizado. Nós vamos crescer na medida em que falarmos ao espírito das pessoas, mobilizarmos as vontades. E tenho a impressão de que a ideia do Bem Viver caiu aqui mobilizando espíritos e vontades. O efeito que isso vai dar a gente ainda não sabe. Mas a semente caiu numa terra boa.
Fonte: www.adital.com.br